Era para ser mais um domingo tradicional no Parque das Dunas. Era, no verbo passado. É tradição na cidade neste dia haver um show com bandas potiguares ou fora do estado. O evento se chama Som da Mata e está incluso dentro da lei municipal de incentivo à cultura e tem apoio de importantes empresas. O problema que neste domingo (18) o que era para ser mais uma opção divertida para os natalenses virou uma tremenda dor de cabeça para produtores e integrantes do grupo.
O show era da banda pernambucana Kalouv, que está em atividade desde 2010 e é conhecida pelo seu som instrumental. Era a terceira vez só em 2015 que faria show na capital do Rio Grande do Norte e era para ser mais um show normal.
Tanto que a banda estava no Rio Grande do Norte desde sexta-feira e estava fazendo passeios bacanas na praia de Pipa, distante da cidade apenas 90 quilômetros. Os integrantes já são amigos de músicos da terrinha, principalmente do Coletivo Música Experimental.
Era 13 horas (sem horário de verão) quando a banda chegou ao Parque das Dunas, eles foram direto ao anfiteatro Pau-Brasil, começaram a montar seus instrumentos e fazer a passagem de som. Um dos músicos do coletivo chegou a emprestar a bateria para os rapazes tocarem. Realizaram a passagem de som e tudo estava tranquilo. Eles queriam começar a tocar no horário, 16h30.
O Kalouv estava na segunda música quando a Polícia Militar chegou com um decibelímetro, que foi medido em frente ao palco. Então, o som teve que ser abaixado. Entretanto, a banda ficou sem o retorno, ou seja, não estavam conseguindo lhes ouvir. Então, o grupo decidiu encerrar o show mais cedo e pediu para que a plateia fosse bater palmas.
Foi neste momento que a polícia voltou e levou o produtor e os integrantes para a Plantão Zona Sul, no bairro de Candelária, causando vaias da plateia.
A notícia se espalhou rápido graças ao depoimento do vocalista da banda Talude, Victor Romero, através de seu perfil pessoal do Facebook, que criticou duramente a ação da polícia. “Já teve várias bandas que tocaram muito mais alto que aquilo e nunca deu em nada”, disse Victor para o Brechando.
O músico comentou que não sabe quem denunciou, pois as informações são sigilosas, mas confirma que eles não possuem problemas com alguém da cidade. “O pior de tudo, eles levaram todos os instrumentos e o rapaz quem emprestou a bateria para banda foi indiciado por ter emprestado, dizendo que ele tinha cometido um crime indireto”, alegou.
Confira a nota de Romero a seguir:
Todo repúdio à atuação altamente questionável da Polícia Militar Ambiental hoje, no evento Kalouv no Som da Mata, realizado no Parque das Dunas aqui em Natal. De forma bastante desrespeitosa tanto para o público como para a banda (que veio de Recife apenas para tocar nesse evento), a Polícia interrompeu a apresentação para obrigar a banda Kalouv a baixar ainda mais o volume; tiveram que deixá-lo tão baixo que os músicos mal conseguiam se escutar no palco (e o público menos ainda).
Impossibilitados de continuar o show, os músicos pediram para que o público cantasse e aplaudisse um pequeno trecho de uma música junto para dar encerramento precoce à apresentação. Porém, num show de autoritarismo e silenciamento da arte totalmente incompatível com uma democracia que respeita a liberdade artística, os policiais deram voz de prisão para a banda e para um dos produtores do evento. Já fui em várias outras edições do Som da Mata antes e nunca ocorreu qualquer intervenção relacionada ao volume, mesmo com bandas que tocaram muito mais alto que a Kalouv e nenhum agente sequer estava lá. Por que causar todo esse constrangimento logo quando é um artista de fora da cidade que vem se apresentar aqui?
Esse tipo de criminalização da arte é coisa que devia ter ficado como página virada nos livros de história. Mas não, é real, aconteceu hoje, quase agora. Deram voz de prisão só por que pediram pro público puxar um coro e bater palmas.
Um advogado, que estava na plateia, acompanhou os rapazes e o produtor da banda a delegacia. Eles foram liberados na mesma noite. O selo do grupo, Sinewave Label, também enviou uma nota de repúdio sobre a ação, que pode ser conferida neste link.
O músico, Jônatas Barbalho, quem emprestou a bateria disse que a banda só foi autuada por pertubação. “Na hora que aconteceu [a ação da polícia] foi inacreditável. Eu fui autuado só porque emprestei a bateria que estava usando e passamos quatro horas na delegacia ontem por causa disso”, comentou o jovem.
Até o momento, o Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Idema), quem administra o Parque das Dunas, ainda não se pronunciou sobre o ocorrido.
*Atualizado às 10h32, do dia 19/10/2015
Deixe um comentário