A modificação corporal sempre existiu em mim. Desde criança gostei de piercing, tatuagem e cabelos coloridos. Quando era criança queria ter um cabelo rosa igual da jornalista Penélope do Castelo Rá-Tim-Bum, parecia que já tinha uma relação com a profissão que escolhi desde cedo e não sabia. Quando tinha oito anos queria colocar um piercing no umbigo, no qual isto nunca aconteceu.
Meu primeiro piercing foi na cartilagem da orelha aos 13 anos (feito de uma forma nada ortodoxa, graças à minha tia/madrinha enfermeira), dois anos depois coloquei outro no nariz e, aos 18 anos, com o meu primeiro dinheiro como bolsista, coloquei mais outro na orelha, mais precisamente na região do tragus (os dois últimos foram feitos em estúdio). Apesar de ter quase 10 anos de piercing, alguns pensam que isto ainda é uma fase e já perguntaram quando iria tirá-los.
Depois dos piercings, comecei a modificar a cor dos meus cabelos, que já foi verde, azul, vermelho, preto e vermelho de novo. Então, fazer uma tatuagem não demoraria muito de acontecer. Quando a minha sogra soube que iria fazer uma tatuagem, ela ficou mais tensa que a minha mãe. Então, as duas começaram a resmungar e sempre diziam um “Ai, Jesus” quando alguém tocasse no assunto.
O cunhado do meu namorado, um médico ortopedista, já ficou falando coisas assim: “Você vai se ferrar, porque as costas é uma área sensível e sempre dói muito. Poderia ter escolhido outro canto”. Obrigada pela preocupação, mas eu já tive três cólicas renais, depilo meu corpo inteiro na cera e diversas crises de gastrite nervosas para saber que existem dores piores do que ser furada para desenhar. Outra coisa, não doeu e faria tudo de novo.
Um tio, que estava um pouco “alegre”, perguntou para mim: “Se você terminar o namoro e arranjar outro cara. Mas, ele não gostar da tatuagem. O que você vai fazer?”. Eu prontamente respondi: “Que ele vai para aquele canto”. Poxa, tio, meus relacionamentos anteriores foram abusivos e aprendi que estes tipos de homens não prestam.
Em suma, todo mundo queria ver eu me ferrar. Minha irmã dizia que queria ir ao estúdio para filmar o meu sofrimento. No final, quem me acompanhou foi o meu namorado, que sempre o levo nas maiores aventuras da minha vida.
Chega de digressão e vamos falar de tatuagem. Eu contei um pouco dessa trajetória no texto sobre a fila da tatuagem, no qual cheguei a sair escondido de casa para cometer este ato. Sempre quis fazer uma, mas não queria aquelas copiadas nos caderninhos de estúdio, desejava algo original e que misturasse as coisas que gostasse com alguma coisa que remetesse algo da minha biografia.
Dentro da yoga, eu descobri o significado da flor de lótus. Uma das posições mais conhecidas é a utilização das mãos voltadas para cima e com os polegares e indicadores se tocando. Se você juntar as duas mãos, elas vão se assemelhar com a posição das pétalas de lótus.
A flor nasce sobre as águas e permanece intacta apesar das condições mais adversas. Nos últimos três anos, eu tive diversos problemas pessoais. Então, a lótus caiu como uma luva para mim. As coisas só começaram a melhorar neste ano e era o momento ideal de tatuar algo.
Dia 13 de outubro foi algo especial, enfrentaria a fila final do Roberto Nascimento e finalmente faria uma tatuagem. Não precisei sair mais escondido e tudo já estava exposto.
Beto, como é conhecido pelos natalenses, já tatuou muitos amigos. Quando vi que as coisas que ele fez eram massa, este foi o escolhido. Minha mãe só se acalmou da ideia de ter meu corpo pintado após ver a tatuagem da minha amiga Bárbara e ter pesquisado a história do tatuador. Quando eu contei esta história durante a tatuagem, ele achou engraçado. Uma coisa que acho massa em Beto é a ausência de um caderninho no estúdio, a tatuagem é uma arte e precisa ser original.
Cheguei no estúdio no horário combinado, eu e meu namorado encontramos um amigo dele dos tempos de escola que mostrou uma tatuagem fail que fez quando bêbado e queria cobrir. Depois do papo engraçado, finalmente subi para o estúdio e começou todo o preparo.
Após desenhar a lótus nas minhas costas do jeito dele, sem saber como ficaria. A única coisa que queria era: lótus, aquarelada e sem nenhum traço preto. Após o ronco da maquininha, comecei a ser furada, inicialmente falei que poderia ser pior a dor. Então, Roberto rapidamente tirou onda. “Mulher, fale isso não”. Entretanto, eu fiquei de boas o tempo todo esparramada e esperando ser tatuada.
Conversávamos sobre diversos assuntos, como parentes malucos, jornalismo, amigos tatuados, escala de dores piores que a tatuagem e dentre outros.
Uma hora e meia depois, a tatuagem ficou pronta. O meu namorado prontamente disse: “Você vai amar e ficou do jeito que queria”. Rapidamente, eu corri ao espelho e fiquei muito feliz, emocionada, pois o sentimento que está na pele era o mesmo que senti por dentro.
Agora, vou ter que tomar os cuidados para que ela fique eternizada na minha pele.