Bianca Wainberg é uma mulher cis e chega ao Aboca Espaço Cultural nesta segunda-feira (15) depois de sua aula. Ela iria se apresentar no Movimento n’ABOCA, cuja edição do mês de maio discutiria a invisibilidade lésbica em um mundo hétero e também no LGBT. Nervosa, fumava um cigarro atrás do outro, pois a performance era para um público que a não conhecia, estava acostumada a mostrar sua arte nos bares LGBT.
Estava cursando Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mas agora pretende cursar Teatro, que foi a sua paixão e, queira ou não, é uma forma de aperfeiçoar a Rivka Bardo, a sua drag queen. Como assim? Mulher pode ser drag? Veja a descrição da palavra Drag Queen:
São personagens criados por artistas performáticos que se travestem, fantasiando-se cômica ou exageradamente com o intuito geralmente profissional artístico. Na maioria das vezes, apresentam-se em boates e baresLGBT, embora haja drags que façam eventos para público misto e heterossexuais, como animação em festas de casamento, debutantes e formaturas. Muitas fazem também correio elegante ou correio animado, levando mensagens de amor ou felicitações com performances características. Chama-se drag queen a pessoa que se veste com roupas exageradas femininas estilizadas e drag king a pessoa que se veste como homem. A transformação em drag queen (ou king) geralmente envolve, por parte do artista, a criação de um personagem caracteristicamente cômico e/ou exagerado, que por trás carrega um discurso critico-político-transformador.
A descrição diz que é uma pessoa. Portanto, qualquer pessoa pode ser uma drag queen. “Ainda sou julgada por aderir a esta arte tanto por héteros quanto pessoal do LGBT. Alguns heterossexuais acham que eu sou uma travesti, não que eu tenha problema de ser uma travesti. Mas eu não sou. Outros acham que sou homem. Já os LGBTs acham que eu faço é outra coisa, menos ser uma Drag Queen”, comentou Rivka Bardo.
Sim, existem mulheres drags. A Danina Fromer foi uma das pioneiras em Natal que utilizou esta arte nas noites natalenses e deu super certo. Mas, Rivka tem o estilo próprio, pois ela tenta utilizar o seu corpo para mostrar a sua arte. Uma forma de adorar seu corpo cheio de curvas, diferente daqueles que são divulgados na capa da Boa Forma, esculpidos em dietas malucas, treinamento de academia ou, para quem é mais desesperado, uma lipoaspiração.
Bianca fez uma apresentação de cinco minutos, utilizando duas músicas que dublara e faria uma interpretação própria sobre elas. Uma das canções mostra que todo dia, os LGBT são ensanguentados não somente por armas de fogo, mas também aos olhos da sociedade. Além disso, ela mostrou a importância do empoderamento feminino, interpretando “Eu Sou Um Monstro”, de Karina Buhr, causando aplausos na plateia.
Começou a ser drag um ano após sair do Ensino Médio, aonde era julgada pelos seus pensamentos para frentex. Ela lembra exatamente o mês: novembro de 2015. Havia entrado na UFRN em Ciências Sociais e estava encantada pelo universo da Drag Queen, mas não sabia que mulheres poderiam interpretar, até descobrir durante uma conversa com Potyguara Bardo.
“Eu conhecia a cena drag de Natal, achava que só homens poderiam fazer esta arte. Foi conversando com Potyguara que descobri a diferença entre drag queen e o drag king. Não queria interpretar um homem e sim, uma mulher. Não quero interpretar a masculinidade de alguma forma”, disse.
Após a benção de Potyguara, ela adentrou a família e adotou o nome de Rivka. Inicialmente, os parentes não a compreenderam o porquê de utilizar a arte, mas hoje lhe apoia e compra acessórios para a sua drag. Além disso, ser Rivka foi uma terapia de luto, visto que quatro meses antes de trabalhar dessa forma o seu pai faleceu. “No início a minha mãe não me compreendia por fazer a arte, hoje é super tranquila com o conceito de ser drag, já viu a sua apresentação e compra muita coisa para Rivka.”, contou.
Hoje, a importância de Rivka para Bianca é muito importante, principalmente por ser uma forma de aceitar a sua imagem de como ela é. “Ser Rivka foi uma ajuda para se libertar do corpo e só foi entrando na universidade que comecei a aceitar como sou. Por isso minha drag utiliza, praticamente, pouca roupa e isso me ajudou bastante a se soltar”.
Nos próximos meses, a Rivka e a Bianca vão deixar as terras natalenses, pois foi convidada para participar de um intercâmbio de um ano para Tel Aviv, em Israel. “É uma oportunidade da minha vida, no qual vou ajudar os refugiados”, disse.
Além de conhecer a terra dos antepassados, por ser judia, ela está ansiosa para conhecer o universo das drag queen das terras israelenses. O judaísmo sempre esteve presente na vida de Bianca, pois Rivka é o nome hebreu de Rebeca, que significa “união”, “ligação”, “aquela que une” ou “mulher com uma beleza que prende os homens”. Na Bíblia, no Antigo Testamento, livro de Gênesis, Rebeca é descrita como a esposa de Isaque e mãe de Jacó e Esaú, netos de Abraão.
“A comunidade judaica nunca me julgou pelo fato de ser drag e me aceitam como sou. Sei que Tel Aviv tem muita aceitação sobre a comunidade LGBT”, finalizou.
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