Uma das minhas metas na minha carreira de jornalista foi realizada nesta semana: entrevistar o Givly Simons, vocalista do Figueroas. O bate-papo foi feito através do e-mail, no qual ele ficou feliz em saber que conheci o som do grupo através da participação deles no festival Dosol em 2015. Agora, confira este bate-papo.
A lambada é um gênero musical com origens na Região Norte do Brasil, mais especificamente no estado do Pará nos anos 1980. Tem, como base, o carimbó e a guitarrada. Foi influenciada por ritmos como a cúmbia e o merengue. Mas, o Nordeste adotou estilo com muito carinho. Com certeza, os seus pais dançaram agarradinho ao som de Beto Barbosa na casa de shows Mandacaru, em Natal. No entanto, o ritmo foi esquecido nas décadas de 90 e 2000, somente agora está voltando.
Não pense que a lambada é apenas música do povão, ela está conquistando a turma dos alternativos. Hoje é comum ver os roqueiros com camisetas de bandas de heavy metal dançando agarradinho ao som do Figueroas, dupla de Maceió formada por Dinho Zampier e Givly Simons, que está em atividade desde 2014 e estão desenterrando o som da lambada, graças às suas músicas engraçadas mas com uma melodia dançante e que faz relembrar os velhos tempos.
O carisma do Givly Simons, que parece aquele tio rebelde que saiu do álbum de fotografia dos anos 70 (cabelinho mullet, bigodão responsa e tatuagem Old School), ajudou bastante o sucesso do grupo, que bombou na internet com “Melô do Jonas“, resultado em aparições no programa “Só no Vinil na TV” e “Programa do Ratinho”. A intenção da dupla é resgatar a lambada dos tempos antigos: letras curtas e rápidas, ritmo dançante e carisma.
A internet é uma grande aliada dos rapazes, no qual eles mesmos trabalham com as mídias sociais que o Figueroas participam. Tudo isso feito de uma forma espontânea e natural, fazendo com que as pessoas lhe aceitem bem, apesar de ainda ter dificuldades de conseguir divulgar o seu som nos grandes centros urbanos.
“As pessoas gostam de Lambada, estão redescobrindo-a, todas as vezes que tocamos em Festivais foi muito legal. Desde que a Lambada começou a ser redescoberta, alguns anos atrás, este som passou a ter mais aceitação na cena alternativa e aí abriu espaço para artistas do estilo”, comemora o Givly Simons, o cantor do Figueroas, no qual garante que este é o seu jeito natural e não um personagem para promover a música.
“Foi apenas o nome que escolhi adotar (não só no artístico, no pessoal também), que já estava na minha mente a muito tempo, desde criança. Mas sou eu mesmo, não é um personagem, sou desse jeito”, contou o rei da lambada quente, que é bem acessível e estimulou a galera para ir no show deles em Natal, que vai acontecer nesta sexta-feira (31), no Ateliê Bar.
Por falar em infância, podemos dizer que o Figueroas não surgiu em 2014, mas o seu alicerce veio na infância, quando Givly, que ainda se chamava Gabriel, e Dinho se conheceram na infância em Maceió. Eles eram vizinhos. Na época, o cantor já tinha uma atração por artistas do bregão, como Alípio Martins, Edson Wander, Ronaldo Adriano e o potiguar Carlos Alexandre (Você já deve estar cantarolando: “Feiticeira, Feiticeira”).
Givly comentou na entrevista que era muito comum ouvir nos carros, bares e ruas em Maceió. Algo similar em outras cidades do Nordeste. Com certeza, caro leitor, você esteve numa festa da família e escutou a discografia completa de Amado Batista. Ou de vez em quando é pego cantando “Aparências nada mais, sustentaram as nossas vidas”, do Márcio Greyck.
“Numa dessas tocadas, na casa deles, nos conhecemos, e ao longo dos anos fui crescendo e nos encontrávamos as vezes, no meio da música, em estúdios, shows… Então já nos conhecíamos antes de eu chamá-lo para montar um grupo de Lambada”.
Foi assim que surgiu o Figueroas, no qual o nome não surgiu ao acaso, mas uma homenagem ao músico Jesus Figueroa, que foi um dos pioneiros do rock and roll do Uruguai e um exímio guitarrista de blues. Nota: Enquanto estava escrevendo a matéria fui ouvir o uruguaio e achei esta canção feita nos anos 70 que vou deixar para vocês escutarem. Obrigada, Givly, por apresentar raridades.
Voltando a história do Figueroas. Então, a dupla começou a fazer as suas músicas e uma delas bombou na internet. “Melô do Jonas” viralizou nas diversas redes sociais, fazendo com que as pessoas interessassem pelo som dos rapazes, principalmente pelo jeito engraçado do Givly, no qual muitos pensaram que estavam fazendo este som “apenas pela zoeira”.
“Infelizmente sim, tem pessoas que entendem de uma maneira equivocada. Mas fazer o que, acontece”, lamentou.
Mas, eles levam o som bastante a sério, tanto que recentemente lançaram o segundo álbum, chamado “Swing Veneno”, com cover de Roberto Carlos e ainda conta com a participação de Manoel Coedeiro e também do cantor/ator/protagonista da novela das 6, o Chay Suede. O Simons pontuou que essas parcerias não vão parar por aí. “Temos muita vontade de trabalhar junto a ídolos nossos, artistas que nos influenciaram, como é o caso do Manoel Cordeiro. Esperamos conseguir em breve gravar também com outros artistas que admiramos”.
Mas, por que das músicas terem poucos versos? Para quem não entende nada da lambada quente, o rei explica: “É uma prática antiga, na Lambada. Alipio Martins fez bastante isso em suas produções (principalmente em discos de outras pessoas). E incorporamos esta característica em nosso som, do nosso jeito, acreditamos que é um modo bem legal de passar a mensagem. Mas também temos canções com letras um pouco maiores, como “Gatinha Gatinha” e “Despedida”, sempre tem espaço para coisas diferentes”.
A gente vai usar um clássico de Alípio Martins para explicar a influência do Figueroas. Escute:
https://www.youtube.com/watch?v=k95knp0hRd4
E a dupla está acompanhando as novas vertentes, só escutar o novo álbum que vai perceber a mistura de música eletrônica e elementos do pop. O líder do Figueroas elogia o tecnobrega do Pará. “Achamos muito bom, muito rico e dançante, realmente único, nós gostamos demais.”.
Atualmente, o Nordeste existe uma mistura de ritmos, no qual o Forró brinca com a música pop, o rock com a música popular e dentre outras misturas. Na visão de Givly Simons, isto é benéfico para a região. “Acreditamos que exista espaço para todos os ritmos aqui no Nordeste e no Brasil, e isso é ótimo, o público sai ganhando. A música sempre muda, e sempre haverá espaço para ritmos como a Lambada e o Forró clássico, cada vez mais vistos por uma ótica cultural”, opinou.
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