Fazer um filme adaptado de um clássico já é difícil, pois qualquer problema será duramente criticado. Imagine adaptar uma clássica série nipo-americana, no qual foi sucesso nos anos 90 e 2000 entre adolescentes no mundo todo. Após problemas com o live action de Dragon Ball, todo mundo ficou com medo do que iria acontecer com esta adaptação de Power Rangers, que hoje entra na sua segunda semana nos cinemas brasileiros e é o segundo mais assistido nos Estados Unidos.
Apenas no fim de semana de estreia, o filme já arrecadou mais que as duas últimas versões de Power Rangers durante toda a sua exibição nos cinemas.
O Brechando deu uma brechada no filme e admite que ficou com muito medo de o filme ser um desastre. Mas, acredite: ele é muito bom. Com toques Marvel (com direito a cena pós-crédito), o filme está encantando o público e a imprensa especializada nos filmes. O Rotten Tomatoes, que é o guia dos cinéfilos, no entanto, deu 47%, apesar de ter sido o dobro da pontuação do primeiro filme de 1995. A primeira coisa boa do filme: não existe aquela faísca tosca de toda vida que eles se machucam e tem a participação de Bryan Craston (eterno Walter White) como Zordon.
Se você acha que ele teria aquela pegada genuinamente noventista, esqueça, pois ele quis renovar, botar os anos 2000 para os rangers e trazer um novo público. Foi isso o grande feito da produção, deixar de lado o improviso dos Tokusatsus e deixar uma pegada mais de super-herói moderno.
Diferentemente da série, a produção preferiu explicar todo o ambiente dos heróis antes de entregar os conflitos. O diretor Dean Israelite fez boas escolhas com a câmera, como mostrar o movimento dos personagens quando estiverem andando de carro ou bicicleta ou fazer uma panorama na hora de mostrar o treinamento dos rangers. A direção de arte do filme também é bem feita, com armaduras dignas de um super-herói (nada de roupa de lycra), iluminação mudando de acordo com o drama e cheio de detalhes.
Mas isso não quer dizer que ele deixou de lado totalmente os anos 90, uma vez que traz referências fortes da série, como a permanência do nome dos personagens do elenco original, contando com a participação dos antigos rangers, filmes como “Clube do Cinco”, Alameda dos Anjos e também de referências de outras produções da cultura pop, como Iron Man. Falando no Clube dos Cinco, se você gosta deste clássico da Sessão da Tarde, provavelmente gostará desta produção, no qual reúne cinco garotos diferentes que foram parar em uma detenção por diversos motivos e por ironia do destino tiveram que se unir com o objetivo de salvar o mundo.
O filme não é uma perfeição, ainda tem muito para acertar o tom, como o Omelete se refere, visto que ele traz um misto de elementos, porém não existe um foco central. O primeiro a ser apresentado é Jason (Dacre Montgomery, que é a cara de Zac Efron), um promissor atleta de futebol americano, que rouba um boi (oi?), perde a vaga no time e precisa cumprir detenção na escola e está em prisão domiciliar.
No ambiente de detenção, ele conhece Billy (RJ Cyler, que roubou a cena do filme. Melhor atuação!), um jovem com certo grau de autismo e TOC e que é ótimo com invenções, e Kimberly (Naomi Scott), uma garota popular que é acusada de cyberbullying. Ainda na sala de aula, Jason e Billy fazem um acordo. Billy promete dar um jeito na tornezeleira eletrônica de Jason, caso ele o acompanhe até a mina de ouro da cidade.
Lá, coincidentemente, estão Trini (Becky G), uma garota que se sente deslocada, e Zack (Ludi Lin), um jovem que não estuda para cuidar da mãe doente.
Durante uma explosão, eles descobrem as moedas que dão habilidades aos rangers. Então, começa a aventura. Das duas horas de filmes, mais de uma hora foi dedicado apenas para apresentação dos personagens. Não sabemos se ele vai continuar trabalhando com a parte de auto-descoberta e crescimento no segundo filme. Ou se eles vão seguir o mesmo caminho da Marvel, que é mudar o foco em cada sequência.
O filme tenta buscar com naturalidade e alívios cômicos para tratar temas, no qual não era tratado tão fortemente na série, como bullying, a perda de entes queridos e homossexualidade, também há uma boa dose de dramas escolares. Ao redor disso, o filme vai estabelecendo também a mitologia dos Rangers, subvertendo o que for necessário para fazer tudo caber dentro da narrativa e criando conexões rápidas e simples entre os demais fios da trama, como a a ligação entre Zordon (Bryan Cranston) e a vilã Rita Repulsa (Elizabeth Banks).
Em sua prioridade ao contar as histórias dos cinco Rangers e em estabelecer um universo, o filme errou no que mais chamava a atenção dentro da série original: as sequências de ação. A luta principal foi rápida e sem nenhuma emoção e o Megazord, personagem tão importante quanto os rangers foi visto rapidamente e tratado sem nenhuma importância ou explicação.
Mesmo com estes tropeços, a missão dos Rangers foi sucesso. Que venha o segundo filme.
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