São nos imprevistos que conseguimos as melhores histórias. Há uma semana conheci uma pessoa maravilhosa no Uber chamada Lairce. Precisei do serviço para ir ao médico no horário de almoço e tinha me atrasado um pouco para chegar ao destino. “Que massa, é uma motorista que vai me buscar”, pensei comigo mesma. Ela chegou bem rápido, com as mãos cheias de anéis e um pulso decorado com pulseiras.
Após ter tido uma péssima experiência com o transporte na praia de Ponta Negra, eu pode perdoar o Uber com esse bate-papo, no qual ela contou um pouco da sua história.
Lairce começou a tirar sarro do Waze, aplicativo de GPS em que os motoristas tem que utilizar para se orientar. Depois ficou surpresa com a tranquilidade do trânsito da Avenida Engenheiro Roberto Freire às 12h30 e depois ficamos maravilhadas com um fusca vermelho e cheio de buraquinhos.
Moradora do bairro do Alecrim, zona Leste da capital potiguar, ela comentou a trabalhar como motorista há um mês, quando largou o emprego de dois expedientes numa empresa. “Iria ser o meu marido, mas como estava com problemas na carteira de motorista, eu resolvi me inscrever”, contou.
Ainda falou que muitas mulheres sentem confortáveis com uma motorista mulher, visto que muitas têm medo do que os homens possam fazer, como um assédio, por exemplo.
Ela falou que sempre gostou de dirigir e andar pelas ruas de Natal. “Meu marido brinca que sou um mapa ambulante (risos)”. Eu perguntei as vantagens de trabalhar, ela respondeu que são várias, “desde fazer o próprio horário de trabalho” até “conhecer pessoas de todos os tipos”.
Logo cheguei a questionar se passou por momentos bem engraçado. Aí ela rapidamente contou um: “Uma vez recebi um pedido para buscar uma pessoa em Mãe Luíza, fiquei um pouco de receio, porque lá é perigoso, mas fui mesmo assim. Aí cheguei na rua que foi solicitada, mas não estava encontrando a casa. Então, eu vi um grupão de pessoas gritando ‘AQUI! AQUI!”. Eu pensei: ‘E agora? Quem nesse mar de gente? O Uber é até quatro pessoas’. Até que apareceu um casal dizendo que foram eles que pediram para ir à Felipe Camarão, que é um outro bairro perigoso. Só pedi para que eles me ensinassem o caminho da volta e foi assim que aprendi a andar no bairro”.
Qual a lição que o Uber ensinou a Lairce? Não julgar as pessoas pela aparência, pois o cara com cara de gente ruim, pode ser uma pessoa incrível. “Uma vez ia sair de casa para uma festa, mas tinha recebido um pedido de ir ao bar perto da Base Naval. Quando vi o local era cheio de homem e bem barra pesada. Então, veio um bêbado entrando no carro, pensei que poderia acontecer algo de ruim. Então, ele comentou que iria para o Clube Aquárius”.
Lairce contou que pensava que era um cabaré, mas depois lembrou que viu uma propaganda que toca muita banda popular. Aí ela disse que ele iria para o aniversário da banda Grafith, que é muito fã. “Foi aí que começamos a falar das músicas da banda e ele soltou: ‘Pena que está trabalhando, poderia levar o seu marido junto e comemorar ao som do grafitão’”. A motorista comentou que riu da frase.
Quando chegaram lá, havia um mar de gente, mas que conseguiu o deixar na porta e ele soltou a seguinte frase: “Volte com Deus. Obrigada por me deixar aqui com segurança e por ter conversado comigo”. Depois, ele pagou o preço da corrida e uma gorjeta.
“Foi então que aprendi que não deveria julgar as pessoas e não tenho mais preconceito com os bairros de Natal”.
Depois, ela perguntou aonde trabalhava, eu respondi que era jornalista. “Minha sobrinha passou em primeiro lugar no Enem, estamos todos orgulhosos. Ela é tímida, mas acho que a faculdade vai ajudar a desenrolar”. O papo estava bom, mas era hora de ir embora. Cheguei ao meu destino e feliz por ter contado uma história. Claro que a avaliei positivamente.
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