O casal natalense, radicados em Recife, Carlos Augusto e Sylara Silvério, que faz uns bordados subversivos massa que falamos aqui, resolveram desapegar do Horário, um fusca de 79 por diversos motivos. Foi uma escolha difícil, mas necessária. No entanto, eles são de humanas e logo a criatividade rola solta até para vender um simples produto, mas que teve uma forte relação na vida do casal.
Em um tom meio carta de despedida, eles resolveram mostrar as qualidades e aventura que eles passaram juntos nos últimos quatro anos que comprou de um policial civil e ele passou por diversas aventuras e (por que não?) perrengues. Por causa desta propaganda engraçada e fofa, eles conseguiram vender o jovem de 38 anos para uma outra família que vai querer o bem. Portanto, não os procure, o Horácio está adotado por outras pessoas.
Vou reproduzir o texto de Carlos Augusto na íntegra:
Horácio é um fusca 1979 charmoso: bege, bancos e teto em couro, piso revestido em carpete, rodas aro 14, som, quebra-vento e, pelo menos, algumas centenas de histórias pra contar. Só em relação a minha idade, por exemplo, já são 10 anos de diferença. Isso quer dizer, em outras palavras, que quando eu nasci ele já nem IPVA pagava. Imagine por quanta coisa ele já passou?
Comigo e com Sylara são quase quatro divertidos e longos anos. Compramos ele em 2013, de um policial civil que precisava de dinheiro pra reformar uma casa. Pouco depois de começarmos a namorar a gente já tinha nosso carrinho, e nele já fomos direto pra o nosso primeiro apartamento, depois de casados, alguns meses depois. Pra conseguir juntar aquele dinheirinho foi sofrido, mas o prazer de trazer ele pra casa pela primeira vez não teve preço.
A lataria dele já serviu de apoio pra escrever músicas, quando eu ainda tinha uma banda, lá em Natal. Pelos bancos já passaram os nossos melhores amigos. De dentro já vimos um carro diminuir a velocidade só pra parar do nosso lado e fazer coro cantando Tim Maia. Lembro perfeitamente que o som dos Mamonas Assassinas inaugurou as caixinhas de som nas portas.
Também já ficamos na mão por conta da bateria, em dias de chuva e passamos uns bocados, mas nada se comparou com a aventura de viajar com ele pra Recife, nossa nova morada desde 2015. Foram mais de quatro horas de estrada ao som de tudo que se possa imaginar. Os buracos na chegada, ainda na BR, deram um trabalho imenso! Sobrevivemos.
Pra cá viemos por conta do meu trabalho, no IFPE, e a nossa garagem foi a casa dele até agora. Escolhemos o Cordeiro pra morar, mas a Várzea nos escolheu pra admirá-la. Diariamente eu venho trabalhar aqui, e como se não já bastasse, também iniciei os estudos na UFPE, o que me traz ainda mais vezes pra o bairro. Desde que Horácio conheceu a Várzea, sem exagero, nossa vida já não foi a mesma.
Primeiro que todo fusca, por mais “modernoso” que queira ser, tem um saudosismo em si e procura sempre por um lugar com “cara de bairro”, desses que já não é mais tão simples encontrar. Sendo a Várzea um local assim, e sendo Horácio um fusquinha, tá feita a relação. Segundo que por aqui está registrada a maior taxa de cantadas em linha reta da América Latina pra fuscas legais, como Horácio. Saiu coisa de todo tipo: “esse fusquinha ficava legal na minha garagem”, ou “quer quanto no possante”? Ao que parece os varzeanos aprovaram o romance.
Entretanto, não diferente de qualquer coisa, uma hora a gente iria ter que se despedir. Nossa necessidade de visitar Natal aumentou, a saudade do povo de lá é constante, e colocar Horácio na estrada com essa frequência é tortura. Não se faz isso com um amigo. Então o jeito encontrado foi comprar um carro com essa capacidade de “aguentar o tranco”, e, com o coração partido em um monte de pedaços, anunciar que Horácio está disponível pra fazer esse bem todo pra outra família, outras pessoas.
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