Versos Sonâmbulos é um projeto artístico de Jean Souza homenageando a cidade de Assu, que misturou o uso de fotografias com a prática da poesia. O projeto também contou com a colaboração de jovens poetas da cidade, no qual foram registrados nas lentes de Souza nas ruas do município durante o período da noite.
“A noite revelou novas impressões por onde todos os dias passamos sem notar que dali também vertem versos”, diz Jean no texto de apresentação de seu projeto.
O nome é uma referência ao sonambulismo, um transtorno do sono que consiste basicamente em levantar-se da cama, andar ou praticar algum tipo de atividade enquanto ainda está dormindo. Para o criador do projeto, muitos achavam que os poemas naquela região estavam na verdade, mas sempre existiu, apenas estava dormindo e vagando pela noite, em um estado sonâmbulo.
“É uma contribuição para que essa poesia desperte e ganhe novo vigor, para que esse título não se esqueça sob a poeira do tempo”, disse ainda na apresentação.
Segue uma fotografia e um texto do projeto, escrito por Jalyson Rocha:
Bruta Flor
Há alguns metros, na avenida mais movimentada da cidade, o ritmo frenético dos carros prenunciava a grande estreia. Amanhecera, embora passasse das dez da noite. However, ele não percebeu: nem a hora, nem a abertura das cortinas. Não havia como voltar, pois sendo ator, codiretor e roteirista. Gostaria que tivesse percebido.
Os livros em cima da mesa circular eram parte essencial do cenário. Eles denunciavam a arte, diretora principal daquela fraude. Uma faísca de vislumbre foi o próximo de s-e-n-t-i-d-o ao qual aquele pseudoator chegaria. Estaria, pois, vivendo a vida? Personagens efêmeras: de um lado, um rapaz interiorano com sede de romantismo, queria que a vida fosse um filme; de outro, o outro rapaz, da capital, era uma incógnita.
No quarto, principal cenário, o cheiro de cigarro, tinta e pecado dançavam o badauê. Picasso não tinha dúvida: algo se romperia naquela madrugada. Lá fora, a iluminação ficava por conta da lua, alta e cheia. Esta sim faz sentido. Ele tinha fé, apesar de tudo. De tudo o que, meu Deus? Quase esquecera que era ateu. Mas fé, quando não se tem, se inventa. E ele se sentia mais azul do que antes.
Jantaram amarguras, incerteza, desalentos. Cobriram-se com o niilismo e dormiram cansados do dia, da vida, um do outro. Os corpos, acesos como lampiões, também eram comestíveis – mas isso seria canibalismo. A lua estava certa: agora – as veias abertas. Se sentir for o mesmo que ver, ele já não enxergava. Pobre de nós. Já que eram, o jeito era ser.
Saindo de Assú, nesta sexta-feira (2o) encaminhará para Natal, mais precisamente na Festa Sentir, que acontecerá no Enigma Hall, em Ponta Negra. Além disso, a festa contará com a exposição da fotógrafa Rayssa Lima.
Durante algum tempo a cidade da região Oeste do Rio Grande do Norte foi considerada um reduto de pensadores e boêmios vindos das terras potiguares. Poucos sabem, mas a cidade em 1920 ficou conhecida como a Atenas Norte-riograndense ou terra dos pensadores.
Além dos nomes aqui presentes, outros jovens escritores tem acordado esse passado. Independente da forma que se projetem os textos, se em verso ou prosa, mantém-se o lirismo e a força criativa que parecia não mais existir.
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