Mãozinha só iria trocar o dinheiro do freela para real. O Nissim Ourfali só queria se divertir no seu aniversário. O que os dois têm em comum? O limite é uma regra que o jornalismo e o entretenimento quer passar o tempo todo. Desde os primórdios a gente quer saber algo sujo que choque a sociedade, aquela ética do político merece ser questionada ou satirizar algo que não é suficiente belo. Mas, quando algo que seria para gerar conversa vira algo ruim, ou um crime severo?
Poderíamos usar termos acadêmicos como a Escola de Frankfurt, apontando a mídia como peça da Indústria Cultural para informar e espalhar o interesse dos mais poderosos. Mas, o foco é falar do limite da ética e das consequências disso.
Além disso, poderia usar os argumentos usando o agenda setting e gatekeeper (Quem viu o curso de Webjornalismo?). No entanto, vou focar nos perigos dos ruídos de comunicação. Primeiramente, em Comunicação Social, aprendemos que uma mensagem é distribuída no canal, onde segue este seguinte processo:
Emissor (emite uma mensagem codificada) → Receptor (descodifica e recebe a mensagem) (canal) |
E o que acontece?
Dentro deste canal pode ter várias barreiras, como o ruído e outras barreiras no feedback. Cabe, todavia, o Receptor dizer este retorno ou espalhar em outros canais. Porém, a necessidade natural de comunicar ou falar faz com que as pessoas espalham a mensagem, transformando num real telefone sem fio. Logo, a Fake News não é algo que veio da internet, mas intensificada por esta mídia.
Na cultura de Cibercultura do Pierre Levy foi presenciado que o uso da internet foi uma mídia tão revolucionária quanto o surgimento da prensa de Gutemberg, pois foram meios que quebraram as barreiras globais e encurtou as distâncias que demorariam dias se fossem os meios analógicos.
Hoje, produzimos, distribuímos, espalhamos e comentamos mensagens em um curto intervalo de tempo, o imediatismo faz com que recebemos inúmeras informações sem se importar mais com feedback ou uma codificação mais refinada, gerando consequências trágicas.
E, agora, qual o limite de compartilhar as notícias sem saber olhar?
O que Nissim Ourfali e caso Mãozinha têm em comum?
Em 2012, a revolução midiática saltou. A internet não era apenas no computador, graças aos Smartphones. Agora, nós tínhamos tudo o que precisava sem esperar o nosso Windows XP. Assim, grandes sites e softwares poderiam ser consumidos rapidamente em aplicativos, fazendo que tudo fosse fácil.
Com um simples toque, portanto, um link poderia estar no Whatsapp, Facebook, Twitter e qualque rede social ao mesmo tempo e questão de segundos.
O primeiro caso foi o jovem Nissim Ourfali. Em 2012, o garoto tímido de São Paulo queria comemorar o Bar Mitzvah, uma tradição judaíca que celebra os 13 anos. Algo bastante importante no Judaísmo, como se fosse uma festa de debutante de meninos, embora há a versão para as judias.
Assim como um super aniversário debutante, sempre tem alguns vídeos de lembrança feitos para não de Hollywood. A família resolveu fazer um vídeo alegre contando a sua história e utilizando uma paródia de uma música da época.
Todo mundo gostou achou divertido, porém o desejo da família era apenas ficar entre eles. Mas, o publicaram no YouTube pensando ser uma boa ideia para dividir à comunidade judaíca de outros cantos. No entanto, esta bolha foi furada e virou um meme, no qual a vida da família virou o dia para noite e toda intimidade foi exposta.
A comunidade judaíca ainda é vista com muita curiosidade e estereótipos. Por mais que sejam conhecidos por serem prósperos financeiramente, econômicos (gostam de guardar os seus recursos) e bons comerciantes, eles se tornaram bode expiatório do nazismo de Adolf Hitler, consequentemente foram as maiores vítimas do Holocausto. E como resultado, fazendo com que os dessedentes se fechassem mais.
Ninguém queria ser exposto
Ao invés de lucrar com este assunto, a família resolveu se fechar deste universo e pedirem para esquecer a produção. Algo que não aconteceu e quase 10 anos depois, o assunto ainda persiste, mesmo o jovem tentando fazer outras coisas para crescer na vida e sempre ser associado à algo que é comum na sua cultura. Como resultando, reforçando estereótipos relacionados aos judeus.
O jornalista Chico Felitti fez uma série de reportagens em podcast sobre celebridades virtuais, no qual ele tentou ir atrás de Nissim, saber a sua história e versão de como um simples vídeo virou meme, embora tenha processado os sites que espalharam a sua notícia e defende o direito ao esquecimento. Sem contar que teve sair do Brasil para ter uma vida tranquila sem sofresse bullying.
Respeito a ética jornalística
A reportagem teria, de primeira, uma função “Desvendar por onde está Nissim Ourfali”. No entanto, a questão ética profissional mudou totalmente o sentido quando percebeu que aquela simples tiração de sarro fez com que ele levasse bullying, perder estágios, receber ameaças antisemitas e outros perigos que foi exposto por um simples vídeo no You Tube.
Assim, ele concluiu poder evitar mais problemas, se as pessoas poderiam entender melhor os processos comunicacionais, os feedbacks e compreender. Depois disso, ele resolveu acompanhar de longe e respeitar o direito ao esquecimento de Nissim.
Já o caso de Mãozinha de Natal-RN mostra a exposição necessária de pessoas negras, muitas vezes vistas como bandidas
Uma fake news alvoroçou as redes sociais. Começou numa ótica no bairro nobre da cidade foi vítima de um assalto. Para recuperar os prejuízos e fazerem justiça com as próprias mãos, eles pegaram imagens da câmera de segurança, recortaram a imagem de dois suspeitos e publicaram nos grupos de Whatsapp.
O assunto, obviamente, se espalhou aos moradores dos bairros de elite, classe média alta e até chegar o local com maior engajamento nas redes sociais, os grupos de conteúdo policialesco, que espalhou, por conseguinte, nas comunidades periféricas, onde este material consome-se frequentemente e público-alvo de telejornalismo policial, que adentraremos em outro momento.
Como consequência, uma pessoa identificou rapaz da foto e viu que ele não tinha nada a ver com a história. Era o fotógrafo conhecido pelo apelido de Mãozinha, que chegou receber ameaças de morte por ser confundido com um dos ladrões desta ótica.
Mãozinha só visitou uma loja de câmbio para receber o dinheiro de um trabalho remoto
Em seu perfil no Instagram, Mãozinha, que também é câmera, editor e bailarino, explicou foi trocar dinheiro numa casa de câmbio em razão de um trabalho na Suíça e, ao chegar em casa, recebeu a notícia.
O fotógrafo criticou piamente o estereótipo de que toda pessoa negra é um criminoso.
Os erros dos processos comunicacionais enfatizam estereótipos
Isto mostra que os processos comunicacionais reforçam estereótipos. Os ruídos destas informações, por sua vez, trazem consequências sérias, desde ser vítima de racismo até uma mudança para outro país, pois não conseguia nem um estágio porque era um meme nacional.
Por isso, é justo saber as consequências de entender o processo de comunicação, inclusive na educação básica, onde as pessoas poderiam aprender a apurar as notícias e memes, respeitar aqueles que querem o anonimato e também compreender as consequências de passar uma Fake News.
Além disso, vale lembrar que ruídos já fizeram com que empresas entrasse em falência, pessoas cometerem suicídio e gente que teve que observar a destruição de toda a sua família. Por isso
Conclusão sobre Mãozinha e Nissim Ourfali
No meio deste mea culpa demostra, portanto, que a nossa mídia e sociedade precisa colocar os ensinamentos da Comunicação Social nas escolas e práticas sociais, uma vez que o estudo e a pesquisa não resume apenas as ciências biológicas e os processos de comunicação ajudam a compreender o funcionamento de sociedade, assim como vemos o Método Científica.
Como consequência, a gente iria evitar crises (inclusive diplomáticas), compreender o fluxo de dados, programação e outras vantagens que iriam ajudar a saber sobre humanidade. Assim, evitaremos mais Nissim e Mãozinha sendo estereotipados por aí.
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