Adivinha doutor, quem tá de volta na Praça? O Le Cirque, após um ano a unidade do Le Cirque Amar ter saído de Natal, após ter virado meme após inúmeras propagandas do “Últimas Semanas”. O último dia teve tanta gente, que o Brechando resolveu assistir um espetáculo. O picadeiro será instalado no estacionamento da Arena das Dunas e a previsão de estreia é dia 15 de junho. Enquanto isso, o Circo Grock dos palhaços Espaguete e Ferrugem ainda estão em atividade.
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Várias pessoas já estão ansiosas e mostrando os primeiros sinais de sua volta. Como essa foto do jornalista Eugênio Bezerra a seguir:
Nesta semana, por exemplo, eu peguei um dos carros estacionados em uma papelaria no bairro de Capim Macio. O flagra é a foto acima do título. Porém, eu descobri uma curiosidade cavernosa sobre o Le Cirque.
Pouca gente sabe (inclusive minha pessoa, que se baseou na biografia da fanpage do grupo circense), o Le Cirque é super brasileiro. Eles vêm de uma tradicional família chamada Stevanovich (sobrenome de origem da Eslováquia), que vieram ao Brasil durante a Primeira Guerra Mundial e eles são conhecidos por serem os donos do Gran Circo Norte-Americano (alguns registram como Gran Circo Americano), que na década de 60 foi palco da maior tragédia com incêndio no Brasil, depois da tragédia da Boate Kiss.
Foi neste episódio que João Goulart, presidente à época, chorou na frente dos fotógrafos, ao conversar com uma das vítimas.
O incêndio ocorreu na matinê de domingo em 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, que reunia uma plateia de mais de três mil espectadores. A maioria tentou escapar do fogaréu pela estreita entrada principal. Alguns conseguiram escapar ao seguir Semba, uma elefanta, que abriu um buraco na lona ao tentar se salvar. Não se tem um número preciso de mortos na tragédia: o prefeito da época contabilizou 503, mas acredita-se que o número esteja por volta de 400. O cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que participou do tratamento das vítimas, afirma num estudo que 70% eram crianças. Impressionou o jornalista o fato de ninguém ter sido indenizado.
Para piorar, na época, os médicos estavam de greve, mas a comunidade médica e estudantes recém-formados de medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) correram para todos os hospitais de Niterói para ajudar os pacientes. A demanda era tão grande que médicos de outras cidades e países caminharam para a cidade. Na época teve que se construir um outro cemitério para colocar os mortos.
O cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que tinha então 35 anos, recorda que, após circularem as primeiras notícias sobre o caso, pegou seu barco e atravessou a Baía de Guanabara. Ainda não existia a Ponte Rio-Niterói. Na sua autobiografia, ele diz que o tratamento das vítimas do Gran Circo foi a experiência que mais marcou sua vida. Com a tragédia, a cirurgia plástica se reafirmou no sentido social e não apenas por algo fútil.
Existem duas versões pela causa do incêndio, as chamas teriam sido provocadas por um ex-funcionário (que foi condenado), por vingança contra o dono do circo, o Danilo Stevanovich. Em Niterói, a explicação nem sempre é aceita. Alguns acreditam que foi um acidente e que o acusado foi feito de bode expiatório.
Desde 1999, a família chama o circo de Le Cirque e a estrutura é super diferente do Gran Circo Norte-Americano, além de seguir as normas do Corpo de Bombeiros.
Danilo Stevanovich era gaúcho de Cacequi, membro de uma família de sete irmãos que dominavam uma rede de circos na América Latina, como Argentina. Afora uma portuguesa, um japonês, um chinês e um casal francês, os demais artistas do Gran Circo Norte-Americano eram todos brasileiros do Sul. Faleceu em 2001. Uma curiosidade é que a trapezista Antonietta Stevanovich, irmã de Danilo, foi a primeira a dar o alerta dentro do circo.
Era o terceiro circo sob a administração dos irmãos Stevanovich que pegou fogo. Os outros dois, Bufalo-Bill e Shangri-lá, foram destruídos em 1951 e 52, respectivamente, na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Entre as vítimas, no entanto, estavam apenas animais do circo. Estes, por sinal, não eram poucos. Com três elefantes, uma girafa, 12 leões, dois tigres, quatro ursos pardos, dois polares, um chimpanzé, um camelo, um antílope, um cavalo e alguns cães, o Gran Circo se gabava de ser um zoológico itinerante.
No incêndio, apenas a elefanta se salvou e algumas feras conseguiram escapar.
Hoje, a família está à frente do Le Cirque, Bolshoi e Karton. No Brasil, a residência fixa da família Stevanovich é em Florianópolis.
Os espetáculos circenses só voltariam ao município em 1975, com a chegada do circo Hagenback, que inaugurou com lona importada à prova de fogo, saídas de emergência, extintores de incêndio e bombeiros de plantão. Anos depois, no local onde se deu a tragédia de 61, o Exército decidiu erguer o hospital Policlínica Militar de Niterói – que neste sábado inaugura, às 11h, um memorial para as vítimas no local. Durante escavações para reforçar a estrutura do terreno, já na década de 80, funcionários encontraram ossadas humanas, resquícios do incêndio durante o espetáculo que, em menos de dez minutos, terminou em cinzas.
A história do incêndio do Gran Circo Norte-Americano foi retratada no programa Linha Direta, da Rede Globo, em 29 de junho de 2006, sob o nome de Linha Direta Justiça. O dono do circo, Danilo Stevanovich, foi vivido pelo ator Dalton Vigh.
A tragédia foi também assunto do livro “O espetáculo mais triste da terra – O incêndio do Gran Circo Norte-Americano”, do jornalista Mauro Ventura. Elaborado a partir de extensa pesquisa desenvolvida pelo autor, durante dois anos e meio Ventura entrevistou sobreviventes e pessoas que de alguma forma se envolveram com o acontecimento, como médicos, voluntários, autoridades e escoteiros. Ele também ouviu o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que chegou a atender vítimas da tragédia, além de parentes do Profeta Gentileza, que morou no terreno após a tragédia. O livro de Ventura, lançado em 2011, quando do cinquentenário da tragédia, aponta controvérsias como o número de mortes e as causas do incêndio.
Circo Pavilhão François também teve origem com o Stevanovich
De acordo com o Wikipedia, Jean François e Anna Stevanovich fundaram o Circo François no sul da França em 1881. Após girarem por toda a Europa e Oriente médio, Jean François e sua mulher Ana Stevanovich, chegam ao Brasil em 1886 com dois filhos pequenos: Marcos e Estevão. Vieram com outros clãs de ciganos, que posteriormente são chamados de circenses tradicionais.
Em 1903, a família instala um luxuoso circo na Capital de São Paulo, no Largo da Sé. Em 1907, viajam para a Argentina e o Uruguai, trazendo uma tropa de 14 cavalos dos pampas, que passam por intenso adestramento. Jean François transforma seus filhos – eram 14 – em exímios jóqueis. Além disso, importa um gerador de eletricidade Otto, da Alemanha, e um projetor de filmes Pathé, da França, isso quando o lampião a gás ainda imperava nas cidades.
Em 1916, exibe a “Pantomima aquática” num tanque de 80 mil litros de água instalado no picadeiro. “E ali se remava, se nadava, se mergulhava, para maravilhar a platéia.” Para estabilizar sua vida com a chegada dos filhos, decide transformar seu circo em pavilhão. A princípio monta um palco ao lado do picadeiro, mas, depois, acaba restringindo o espetáculo às encenações, criando uma estrutura portátil e desmontável em alumínio para o pavilhão, que apresenta dramas, comédias e pantomimas, isso em 1924.
O Pavilhão funciona até 1935, quando Jean François falece em Santos, SP. O circo é retomado e mantido em atividade até 1962, pelas mãos de Augusto François, terceiro filho de Jean, e Hilário de Almeida, que se casa com Maria François. Após girarem por toda a Europa e Oriente Médio, emigraram para a América do Sul.
No Brasil, o Circo François cresceu muito, tornou-se uma verdadeira escola de circo. Mais tarde trocaram a lona por um pavilhão de alumínio desmontável: nascia o lendário Pavilhão François. Seguindo a tendência de outros circos brasileiros, a primeira parte do espetáculo constituia-se de números circenses tradicionais e a segunda, de uma peça de teatro. Os atores da família François se tornaram célebres, destacando-se o casal Angelo e Mimi François nas décadas de 1920 e 1930.
Após rodar pelo continente por mais de 80 anos, o Pavilhão François fechou suas portas definitivamente em 1962, vencido pela concorrência do cinema e da televisão.
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