O projeto “Sem retrato e sem bilhete”, de Babi Baracho é um curta baseado na canção do sambista Noel Rosa chamada “Último Desejo”, no qual precisa arrecadar 15 mil reais nos próximos 50 daias. A história tenta trazer um resgate do clima de boêmia da Ribeira através de Manoel, que está em guerra entre os desejos e frustrações, mas que os problemas, mesmo assim, conseguem trazer algumas lições. Babi é formada em audiovisual na Universidade Potiguar (UnP) e é integrante do Caboré Audiovisual.
O projeto também conta com outros colaboradores do Caboré Audiovisual, que ajudou nos últimos anos a impulsionar a produção independente de curtas. Com a diretora Diana Coelho, Baracho dirigiu sobre o grupo circense Tropa Trupe.
Para quem nunca viu a canção de Último Desejo, ele retrata fielmente a boêmia:
Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São JoãoMorre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violãoPerto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorarNunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negarSe alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separaçãoÀs pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim
O orçamento arrecado será dividido da seguinte forma: 57% para equipe, 18% para logística/produção, 13% para o Catarse, 7% para o material de arte e produção e 5% para as recompensas. Sim, quando falamos em Catarse (ou qualquer site de financiamento coletivo), também associamos as recompensas, que vão desde agradecimentos, dvds do Caboré, participação no curta como figurante, camiseta, ingressos para o lançamento do filme e o evento Sambão, que será realizado em junho, no qual o ingresso será destinado para aqueles que apoiarem até o dia 31 de maio.
Caso eles não consigam o dinheiro, o montante será devolvido aos colaboradores. Vendo o teaser, mostra que o trabalho está bem feito e vale a pena a doar cada centavo para a produção, veja a seguir:
Sobre Noel Rosa
Noel Rosa nasceu em 1910 no Rio de Janeiro e por conta de ter nascido com o uso de fórceps, fazendo com que tivesse um desenvolvimento limitado da mandíbula, o que lhe marcou as feições por toda a vida e destacou sua fisionomia bastante particular. Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio de São Bento, onde apesar da inteligência notável, não era aplicado nos estudos. Adolescente, aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Em 1931 entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de estudar mostrou-se pouco atraente diante da vida de artista, em meio ao samba e noitadas regadas à cerveja. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás desde 1929, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito. Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições. Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de “Com que roupa?”, um samba bem-humorado que sobreviveu décadas e hoje é um clássico do cancioneiro brasileiro.
Noel teve ao mesmo tempo várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com sua noiva, uma moça da alta sociedade carioca, chamada Lindaura. Apesar de ter afeto e carinho pela esposa, era apaixonado mesmo por Ceci, apelido de Juraci Correia de Araújo, a prostituta do cabaré, e sua amante de longa data. Era tão apaixonado por ela, que ele escreveu e fez sucesso com a música “Dama do Cabaré”. Após mais alguns anos juntos, o ciúme doentio de Noel por Ceci a fez terminar a relação, que ficou entre indas e vindas por um bom tempo, até que se afastaram de vez.
Em depressão por alguns meses pela separação de Ceci, Noel passou os anos seguintes travando uma batalha contra a tuberculose. A vida boêmia, porém, nunca deixou de ser um atrativo, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava ao samba, à bebida e ao cigarro, nas noites cariocas, cercado de muitas mulheres, a maioria, suas amantes. Mudou-se com a esposa para Belo Horizonte, para tratar de seu problema pulmonar, ainda inicial e não transmissível pelo ar, e para salvar seu casamento, já que gostava de sua esposa, mas ela ameaçava se separar, pois não suportava mais as traições e bebedeiras do marido.
Sem planejar, Lindaura engravidou, mas sofreu um aborto espontâneo no meado de sua gestação, e, devido as complicações por causa da forte hemorragia, afetando seu aparelho uterino, não pôde mais ter filhos, o que a deixou muito revoltada e deprimida. Foi por isso Noel Rosa não foi pai, o que o deixou muito mal, já que era seu maior desejo.
Trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na vida boêmia. O fato de não ter parado de beber e fumar, não fazer repouso absoluto e continuar pegando sereno nas madrugadas, pioraram sua tuberculose. De volta ao Rio, sentindo -se bem melhor, parou com as medicações, e jurou estar curado, mas poucos dias depois adoeceu fortemente, não conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama, e faleceu repentinamente em sua casa, no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia a alguns anos. Deixou sua esposa viúva e desesperada. Lindaura, sua mulher, e Dona Martha, sua mãe, cuidaram de Noel até o fim. Seu corpo encontra-se sepultado no Cemitério do Caju no Rio de Janeiro.
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