Este terreno também é lembrado por ser as ruínas do Hospital Terciário de Natal. Mas, primeiramente, vamos falar da origem do Leoprosário de Natal, conhecido como o Hospital São Francisco de Assis, que ficava na rua de mesmo nome na divisa entre os bairros de Felipe Camarão e Cidade da Esperança. Os leprosários deveriam ficar em regiões isoladas da cidade.
A lepra, bastante citada na Bíblia, hoje é conhecida como hanseníase. As pessoas sabem que é uma doença crônica e curável, caracterizada particularmente por lesões na pele e danos aos nervos.
Demora de dois a cinco anos, em geral, para aparecerem os primeiros sintomas. O portador de hanseníase apresenta sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos que facilitam o diagnóstico. Pode atingir crianças, adultos e idosos de todas as classes sociais, desde que tenham um contato intenso e prolongado com bacilo. Ainda causa incapacidade ou deformidades quando não tratada ou tratada tardiamente.
Hipócrates utilizou pela primeira vez a denominação quando descreveu manchas brancas na pele e nos cabelos. A denominação lepra é utilizada na Bíblia hebraica tendo o significado de desonra, vergonha, desgraça. Este termo, todavia, foi utilizado para designar diversas doenças dermatológicas de origem e gravidade variáveis.
A lepra foi durante muito tempo incurável e muito mutiladora, forçando o isolamento, principalmente na Europa na Idade Média, onde eram obrigados a carregar sinos para anunciar a sua presença. A doença deu, nessa altura, origem a medidas de segregação, algumas vezes hereditárias, como no caso dos Cagots no sudoeste da França.
Voltando para capital potiguar, o hospital foi construído nos anos 20, quando o Rio Grande do Norte passou por uma forte campanha de higienização. No período de 1922 a 1927, 89 casos de lepra foram notificados, desses 80 resultaram em falecimento do doente. Diante dos registros, o Diretor de Saúde Pública, o médico Varela Santiago, inicia o processo de construção do Leprosário São Francisco de Assis.
Apesar de se conhecer o agente causador da lepra, não existia conhecimento especifico sobre o seu tratamento e principalmente sobre a sua transmissão. Assim, a forma de tratamento encontrada foi o isolamento compulsório dos doentes, em asilos e colônias. Essa prática de combate era utilizada em todo o território nacional.
O Leprosário São Francisco de Assis inicia a sua construção em julho de 1926, a partir da compra de um sítio, distante seis quilômetros da cidade. O terreno correspondia aos elementos principais da ideia de isolamento dos doentes, ficava distante da cidade, possuía árvore frutíferas e com casas de vivendo.
Dando continuidade ao plano de criação do Leprosário São Francisco de Assis o terreno foi ampliado, anexando novas terras. Assim, o Leprosário ia tratar os doentes e também os seus familiares. Para a concretização de construção da colônia contou com a forte participação da população e das entidades sociais. Foram realizadas várias festividades com o objetivo de angariar fundos, bem como doações foram realizadas por comerciantes, intendentes e industriais.
A construção do Leprosário foi finalizada no ano de 1929 com a entrega do primeiro grupo de casas tipo A. Eram casas que acomodavam três ou dois pacientes distribuídos em dois pavilhões, um feminino e outro masculino. Nesse primeiro momento foram internados cinquenta portadores da doença, todo indigentes. Meses depois, foram entregues o cemitério, a pedra fundamental da capela e mais dois grupos de casas classificadas como tipo B. Esse segundo grupo de casa dispunha de melhores acomodações, sendo destinadas aos pensionistas.
Em 1930, o Leprosário ampliou ainda mais a sua estrutura, construindo uma série de acomodações, como pavilhão de música e de leitura, a instalação de aparelho de rádio e escola profissional.
Sob responsabilidade do Estado, os bebês que nasciam nas colônias eram tirados dos pais sem autorização e colocados em orfanatos ou destinados à adoção. Movimentos sociais estimam que 40 mil crianças tenham passado por isso no Brasil. O afastamento de hansenianos era exigido por lei no país no século passado. Decreto de 1923, já revogado, tratava da separação dos filhos de pais com hanseníase; e outra lei de 1949, também extinta, estabelecia o isolamento obrigatório dos portadores da doença.
Em Natal, esses filhos eram levados para o Educandário Oswaldo Cruz, que funciona na Avenida Hermes da Fonseca.
A lei “compulsória” foi revogada em 1962, porém o retorno dos pacientes ao seu convívio social era extremamente dificultoso em razão da pobreza e isolamento social e familiar a que eles estavam submetidos. O Leprosário de Natal só foi desativado em 1990, no qual o prédio foi destruído e parte do terreno foi loteado para aqueles que ainda estavam em isolamento.
A unidade hospitalar era destinada ao tratamento de câncer, com capacidade de até 150 leitos. Em 1991, a obra, que estava 48% concluída, foi paralisada, no qual alegaram que houve uma invasão de sem-tetos ao terreno, Na época, havia sido investido mais de 25 milhões de reais.
O que resta é apenas o esqueleto do prédio em volta de um terreno cheio de lixo e mato.
Em maio do ano de 2014, os filhos dos ex-internos do hospital, que foram isolados dos pais, pediram a aprovação de uma lei complementar federal lhes concedendo uma indenização em torno de R$ 50 mil. Hoje existe um grupo chamado Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas Pela Hanseníase (Morhan), no qual é composto por 75 filhos separados dos pais que tiveram hanseníase e foram internados no antigo leprosário de Natal.
No ano seguinte, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) até assumiu em entrevista que pretendia construir um novo hospital para suprir a demanda que sobrecarrega os principais hospitais regionais da grande Natal. Entretanto, o secretário Ricardo Lagreca deixou a pasta no final daquele ano.
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