Hermano França foi demitido de um emprego na área que estava há mais de 30 anos, entretanto ele foi vítima das consequências de uma pandemia que acelerou mais ainda a demissão em massa de pessoas acima dos 50 anos, no qual já acontecia na última década.
Ele olhava fixamente para seu gato e dizia. “E agora?”. Tudo isso após entregar todos os equipamentos de seu trabalho remoto. Esta era a nova vida de Hermano França, que era exemplo de pessoa de sucesso, com emprego bom, comparado a sociedade brasileira. Às vezes, ele trabalhava demais e priorizava o sucesso. No entanto, ao chegar nos 50 anos, viu que a sua credibilidade era posta mais ainda em prova. Ele é meu pai, mas a demissão de 50 anos virou assunto na mesa de bar de alguns amigos e colegas. Você conhece alguém que dedicou corpo e alma numa profissão que foi descartado ou descartada na pandemia como copo de plástico.
Antigamente, no início da carreira, os seus superiores acreditaram que o mesmo era jovem demais para ser gerente geral de uma agência bancária, quando tinha 24 anos, agora ele é velho demais para ser um bancário, com 57 anos.
Foi na pandemia em que matou mais de 1 por cento da população, o Hermano recebeu uma mensagem em seu tablet dizendo que seu contrato acabou e que suas “atividades não eram aptas ao banco”.
E acabou?
Essa frase da carta de demissão do meu pai chamou muito a minha atenção, porque foi quase uma forma de dizer “você está velho demais para isso”.
Essas frases foram tão dolorosas, ouso a dizer maiores que o impacto que ele sofria quando nos últimos dois anos estava com severas crises de ansiedade e eventualmente ia aos hospitais para tomar ansiolítico. Infelizmente, pesquisando para este livro, vejo jovens e sêniores enfrentando um jogo desleal com a saúde mental. As pressões eram cada vez mais altas e a exigência de uma modernidade abrupta lhe corroía. Meu pai é um workaholic e ele teve que se reinventar nestes últimos anos e, ao mesmo tempo, tive que ver o trabalho com outros olhos.
O início da carreira
Podia ser uma carta de liberdade, podia, mas a alta inflação, aumento dos preços e também as dívidas fazem com que as despesas sejam maiores, mesmo que consiga uma aposentadoria por tempo de serviço prestado. Além disso, a pergunta do “e agora, o que eu faço?” é o que mais corre, visto que até para se personalizar tinha um custo.
E mesmo se aposentar, o corre ainda continua. Segundo o levantamento do SPC, aquele órgão que registra os endividados, 47% dos aposentados que ainda trabalham estão nesta situação por necessidade financeira – ou seja, o valor do benefício do INSS não é suficiente para pagar as contas. Destes, 45% são das classes A/B e 48% das classes C/D/E.
Seu Hermano pode se aposentar, uma vez que ele tem tempo de contribuição e de serviços prestados. Retomando alguns pontos, a legislação permite que aposentados por tempo de serviço ou idade trabalhem. Sendo assim, não há nenhum problema em assinar a carteira de trabalho.
Questionamentos sobre ser velho demais para tal função
Ao ler sobre os questionamentos, surgia vários questionamentos sobre o que é ser um profissional velho ou antiquado. Será que escolheria um profissional experiente e que mesmo não sendo craque da tecnologia entrega os resultados? Ou um profissional jovem que sabe de tecnologia ou tenha experiência?
Fiquei pensando: por que não os dois? Meu pai trabalha nesta área desde os 18 anos, quando estagiou na Caixa Econômica Federal. Eu lembro que toda vida ele passa na rua João Pessoa, ele para e solta um sorrisinho discreto: “Foi aqui que tudo começou”. Me lembro dele trabalhar com os tijolões em forma de celular, ensinar a mandar fax e foi um dos primeiros a aderir ao smartphone, por que ele estaria inadequado para tal função? Pesquisando, eu vi que existem seus Hermanos por aí nesta Natal e conversei com alguns no Linkedin.
Lá, ele presenciou inúmeros avanços tecnológicos, como extrato no papel para o celular e a existência do cartão de crédito. Sem contar que viu inúmeras crises econômicas e soube sair delas, no qual algumas imagens poderiam sair em sua mente.
“Quando houve o Plano Collor, eu morava em João Pessoa e tinha outro banco na frente do meu. Do nada, um homem na calçada começou a gritar porque sua poupança foi confiscada e deu um tiro na cabeça. Ninguém fala que esta parte foi terrível, apenas o impeachment do presidente”, lamentou.
Mas também ele conta histórias engraçadas, como ir ao show de Zé Ramalho no pós-trabalho, rodar todo o interior da Paraíba durante os planos econômicos de Sarney, levar meus avós para conhecer São Paulo de avião ou ter ficado preso no banheiro para não ser vítima de assalto ao banco.
E o emprego para pessoas acima de 50 anos?
Além de ser uma defesa ao meu pai, veio até mim, em simultâneo, o questionamento sobre empregar pessoas acima de 50 anos. Por que os sêniores são inúteis ao capitalismo?
Então, veio a curiosidade de conhecer outras pessoas, como o Hermano, o meu pai, que foram demitidas durante a pandemia. O meu primeiro passo foi procurar o Sindicato dos Bancários do Rio Grande do Norte.
A assessora de imprensa, Ana Paula Costa, me deu dados interessantes e o que mais me chamou que nos últimos meses sobre a demissão de várias pessoas acima dos 40 anos aumentou consideravelmente e do outro lado as mesmas empresas divulgando vagas para os cargos dos demitidos a partir de trainee. Além disso, uma das minhas amigas me mandou um recado. “Veja o Twitter agora mesmo”. O Banco X estava no trending topics, os assuntos mais comentados da rede sociais. Lá, um monte de pessoas denunciara a demissão em massa de funcionários acima de 40 anos.
Existe um preconceito por trás disso
E esse medo é justificado em pesquisa. Perambulando uma matéria do Correio Braziliense, de 2019, antes da pandemia, esse temor era justificável sob a seguinte perspectiva:
“Entre os receios dos recrutadores com relação a esse perfil estão salários altos (31%), pouca flexibilidade (18%), desatualização (12%) e o risco de ampliar conflitos entre gerações (7%).”.
A reportagem de Ana Maria Mansur utilizou como fonte a consultoria Robert Half. Fundada em 1948, a Robert Half foi a primeira empresa de recrutamento especializado a oferecer profissionais qualificados para a área financeira. Hoje, após 70 anos de experiência em recrutamento, a Robert Half possui um leque de especialidades ampliado e contrata profissionais permanentes e temporários para as áreas de finanças, contabilidade, jurídica, mercado financeiro, engenharia, tecnologia, recursos humanos, marketing, vendas e alta gestão.
Em fevereiro de 2020 a Robert Half foi nomeada novamente na lista da Fortune das “World’s Most Admired Companies”. Traduzindo no português, as mais admiradas companhias do mundo e, por conseguinte, segue como a melhor empresa de recrutamento classificado.
Mas, procurando os seus releases, descobri que a mesma empresa de RH fez uma parceria com o Banco X, que demitiu os bancários acima de 50 anos vendeu a ideia de que estão contratando novas pessoas, focando na ideia de procurar profissionais que acabaram de sair da faculdade com salários bem inferiores. E, ao mesmo tempo, vendendo a ideia que estão incentivando os profissionais seniores.
Dados sobre o desemprego na pandemia e das pessoas acima de 50 anos
Antes do COVID-19, a demissão de +50 estava avançando em passos largos. De acordo com os dados do Caged, a média de 2012 a 2019 foi de 474.351 contratações de jovens até 25 anos. Em setembro deste ano chegou a 481.420 – um ligeiro aumento de 7.069 novas vagas.
As demissões também foram menores para quem tem menos de 25 anos
A média de 2012 a 2019 foi de 410.351 e no último mês de setembro chegou a 293.133- uma queda nos desligamentos de 117.218. Uma posição bem mais favorável do que as dos trabalhadores acima de 50 anos.
No entanto, os dados mostram que existe uma esperança de chamar os +50
A última carta de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em setembro, mostrou que a população ocupada com mais de 60 anos cresceu 5,3% em comparação com o trimestre anterior, embora a taxa de desemprego do segmento tenha avançado, no mesmo período, de 4,4% para 4,8%. Na faixa etária entre 40 e 59 anos, a desocupação diminuiu de 7,5%, em 2018, para 7,2% no mesmo período de 2019.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos, grupo etário convencionalmente composto por pessoas acima de 60 anos, deve chegar a 25,5% da população brasileira até 2060.
Existe um projeto para impedir a demissão
Uma das propostas mais recentes que está tramitando na Câmara dos Deputados diz respeito a uma proibição para as empresas públicas e privada: elas não poderão efetuar a demissão de colaboradores ou de suspender contratos de trabalho enquanto durar a pandemia.
A proposta tem como a autora a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ). Em sua justificativa, ela ressaltou que a pandemia demanda esforços emergenciais tanto do poder público quanto da iniciativa privada.
O PL 979/20 está na Câmara dos Deputados. Acompanhe este artigo e veja quais são as regras desta proposta.
Uma opção ao desligamento de colaboradores, é a redução da jornada de trabalho. No entanto, não pode ser feita a redução da remuneração em mais de 20%, além disso, não pode reduzir para aqueles que recebem até cinco salários mínimos.
Segundo o projeto, caso haja o descumprimento desta determinação, a empresa pagará uma multa diária de 0,25% do faturamento mensal.
Além disso, se a empresa fizer a demissão ou a suspensão do contrato previstas em lei, a multa diária pode chegar à 0,5% do faturamento mensal da empresa.
Esta reportagem será transformada em livro-reportagem, que não tem previsão de data para o seu lançamento.
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