A Sol Negro, editora do RN, vai lançar o livro “Os vivos (?) e os mortos”. Esta é mais nova produção do pernambucano Fernando Monteiro. A intenção inicialmente era continuar com o seu projeto poético de livros com longos poemas temáticos. O mote será sobre perseguição e tortura da ditadura militar brasileira instaurada em 1964.
Mais especificamente, o poema gira em torno da chamada “casa da morte”, residência de número 668 da rua Arthur Barbosa em Petrópolis, no Rio de Janeiro, usada por membros do regime militar para torturar e assassinar presos políticos durante os anos 1970.
Centro clandestino, do qual ninguém saía vivo. Além disso, ninguém sabia deste lugar, mas uma denúncia de Inês Etienne Rommou tornou o lugar de tortura em algo público. Além disso, Inês era membro da organização VAR-Palmares. Por isso, ela recebeu torturas e a estupraram por três meses seguidos. Pensando que ela estava morta, os torturadores a desovaram no subúrbio do Rio.
Mas, ao mesmo tempo que trata dos “mortos” da ditadura e da geração altruísta que lutou contra ela, Monteiro traz o seu poema até os dias atuais, expondo os contrastes entre aquela geração combativa e a geração atual, passiva e enfeitiçada por telas e algoritmos.
Por que a interrogação após a palavra vivos ?
O sinal de interrogação (?) depois de “vivos”, já no título do poema, coloca desde o começo a provocativa indagação que o poema não quer calar. Além disso, o objetivo do texto era saber o quão realmente os vivos estão entre os seres humanos de hoje.
Assim, questionam os discursos e atos de ódio, os linchamentos virtuais, o ressentimento e o delírio generalizados. Num momento em que se defende abertamente a tortura, e o autoritarismo, e o obscurantismo tomaram a administração pública, o poema de Monteiro afirma com todas as letras que tortura é horror e absoluto fracasso humano e civilizatório, que perseguição e obscurantismos são inaceitáveis.
Afinal, quem é Fernando Monteiro ?
Moneteiro nasceu em Recife, no ano de 1949. Dentre as suas profissões estão primeiramente escritor, poeta e cineasta. Seu primeiro livro foi em 1973, com “Memória do Mar Sublevado”. Somente em 1993, pelo selo do lendário editor paulista Masso Ohno, o premiado “Ecométrica”. Posteriormente, voltou-se para o romance, e veio a publicar, em Portugal, pela prestigiosa editora Campo das Letras.
Em 2009, ano em que foi o homenageado do sétimo Festival de Literatura [“A Letra e a Voz”] retornou ao verso com o poema longo no “Vi uma foto de Anna Akhmátova”, a que se seguiu “Mattinata” (2012), em coedição da Sol Negro Edições com a Nephelibata.
Em 2017, foi o autor homenageado da Bienal Internacional de Literatura de Pernambuco. Além disso, prosseguiu na poesia com Museu da Noite (Editora Confraria do Vento, 2018).
Edição do livro vem foi feita em Natal
Editado pela Sol Negro Edições, sediada em Natal-RN, o livro conta com um projeto gráfico desenvolvido especialmente para acompanhar e dialogar com o texto do poema, criado em parceria pelo editor e designer Márcio Simões e o ilustrador Chico Díaz.
Conhecido por seu trabalho como ator, especialmente para a rede Globo de televisão e para o Cinema, Díaz também é artista visual e esse é o primeiro livro ilustrado por ele. Na edição, o texto do poema aparece na cor branco, em páginas negras, intercalado em cada uma de suas partes pelas imagens vorazes e torturadas de Díaz, que também abrem e encerram o livro, reforçando e intensificando o tema tratado.
O papel, consideravelmente mais espesso que o comum, tem gramatura de 120g/m2, dando um melhor acabamento ao volume, garantindo a opacidade entre as páginas e a melhor impressão possível para o livro. A edição conta ainda com uma apresentação do poeta e professor Sérgio de Castro Pinto.
Campanha no Catarse
A Sol Negro para o financiar este projeto resolveu utilizar o Catarse, site de financiamento coletivo, para angariar os recursos. A intenção é gerar oito mil reais para a impressão e distribuição da obra.
Como participar? Clique em apoiar e siga as instruções: cadastro e pagamento. Depois disso é só esperar a data de entrega. Todas as recompensas só serão, no entanto, entregues depois que a meta do projeto for alcançada.
O projeto se encera em 13 de janeiro de 2021. Como resultado, os livros começarão a ser enviados entre fins de fevereiro e começo de março, tão logo estejam prontos.
Caso o projeto não atinja a meta e não possa ser realizado, todos os pagamentos serão devolvidos.
Para ajudar a publicação do livro, só acessar, portanto, este link.
Sobre Chico Diaz?
Formado em arquitetura pela UFRJ, nos tempos das sombras fugiu para o teatro e, por conseguinte, foi sequestrado pelo cinema.
Em 1981, no entanto, fez “O sonho não acabou”, de Sérgio Rezende, que acabou sendo o primeiro de mais de 80 filmes nacionais e internacionais, reconhecidos e premiados, entre eles “Corisco e Dadá” de Rosemberg Cariri, “Amarelo manga” de Cláudio Assis, “Os matadores” de Beto Brandt, dentre outros. Depois, trabalha também na televisão brasileira e no teatro.
Recentemente esteve em Lisboa no Teatro do Bairro, sob direção de Antônio Pires com a peça “Biografia de um poema” de Carlos Drummond de Andrade, assim como filmou com João Botelho, em 2019, “O ano da morte de Ricardo Reis de José Saramago”, com lançamento previsto para 2020.
Serviço:
Título: Os vivos (?) e os mortos
Autor: Fernando Fonteiro
Ilustrações: Chico Díaz
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