Eles se conheceram na Rua do Salsa em Ponta Negra, foi amor à primeira vista, rapidamente engatou para o romance e começaram a se ver todos os dias e depois, veio o namoro à distância para finalmente morar junto e viver como grandes companheiros, amigos e eternos amantes. Podia ser um casal homem e mulher cis heterossexual, mas estou falando de Sidi Schneider e Márcio Benjamin, que são aqueles casais inseparáveis, no qual fazem tudo juntos e sempre apoiam as decisões do outro. Um nordestino cabra da peste, escritor e advogado, e outro gaúcho típico, que trabalha como professor.
Sidi, utiliza as redes sociais cotidianamente, para mostrar o orgulho do noivo escritor e faz diversas declarações de amor. Inclusive, fez uma surpresa para comemorar os cinco anos de união. Até lembra da data de quando começou esta aventura romântica: 21 de fevereiro de 2012, quatro anos depois surgiu o pedido de noivado, na mesma data. Para Márcio, o jovem “era o pedaço que faltava em sua vida”.
“No primeiro momento ele chegou perguntando meu nome em inglês, pois achava que eu era europeu, e eu ao invés de responder, o beijei. Depois falei meu nome e o convidei para sair comigo. Após 2 dias, no dia 23/02, era aniversário dele. Márcio me convidou para comemorar com seus amigos. Durante a semana seguinte ficamos nos encontrando quase todos os dias, até ele me pedir em namoro. No início fiquei com medo de assumir um compromisso, mas acabei aceitando na noite seguinte. Depois, ele me enviou um buque de lírios brancos e junto a sua pulseira de couro, a mesma que usava na noite que nos conhecemos e me pediu para cuidar dela, enquanto iria morar em Sobral, no Ceará.Nosso namoro a distância durou 3 meses, sendo que ele voltou a Natal, quando em poucos dias veio morar comigo, e hoje estamos a 5 anos morando juntos. E a um ano e meio de noivado, sendo que planejamos nos casar, oficialmente, no próximo ano.”.
Então, o Márcio chega e complementa o namorado falante: “Vaila do menino pra falar! Contou foi tudo (risos). Só esqueceu de dizer que eu fiquei meio receoso de ir pra casa dele assim sem conhecer, pedi pros meus amigos deixarem os celulares ligados e interrompi a ida (à pé, por motivos de cana e de proximidade) por uns instantes, dizendo que se a intenção era me colocar em banheira de gelo pra tirar órgãos, poderia esquecer, porque nada prestava muito! (risos). É sério. Fiz mesmo!”.
Os dois podem ser considerados uma versão romântica do Batman e Robin, no qual eles realizam o máximo de atividades juntos e sempre mostrando uma perfeita sintonia. Os dois comentam que aprenderam um com outro, inclusive incentivando o trabalho dos outros e discutindo sobre os diversos assuntos numa mesa de bar. “Sid sempre me estimula e me apoia, mas também briga comigo e me cobra, em busca dos nossos objetivos! Com ele também conheci muito da cultura gaúcha e da filosofia. Discutir Foucault em mesa de bar, já pensou? Com ele é assim!”.
Sidi também comentou a importância de Márcio na sua vida: “Acredito que a importância de Marcio em minha vida seja principalmente como uma pessoa que está construindo uma vida comigo, me ajudando a assumir minha sexualidade, tanto em meu trabalho quanto com minha família. Também me ensinou muito sobre a cultura nordestina, seja através de seus contos e livros ou ainda através da sua convivência diária. Ele também sempre busca me apoiar em minhas decisões e luta pelo movimento LGBT, e ainda me apoia com relação a minha formação continua tanto na área da educação quanto na ampliação de meus conhecimentos, me apresentando novos livros e principalmente filmes.”.
Ao contrário de muitos casais homoafetivos, eles são abertos sobre a sua relação e Sidi contou que fala para seus alunos sobre a sua vida amorosa para mostrar aos seus estudantes que não precisam dizer que seu companheiro é seu amigo e contando sobre como é a relação de um casal gay na sala de aula. “Aprendi também muito com o Sidi acerca de nunca se envergonhar. Aprendi que quanto mais claro você deixa pros outros a sua opinião e condição, menos eles têm como te atingir, e caso tentem com base na sua condição sexual, sem problema, processo neles”, defendeu o seu companheiro.
Apesar do apoio dos amigos e alunos, de vez em quando aparece uns percalços. “Quanto a demonstração de amor em público, nunca fomos impedidos, mas geralmente em lugares que não conhecemos procuramos evitar, devido a intolerância que ainda ronda nossa sociedade. Contudo, já houve ocasiões que pessoas se incomodaram e acabaram saindo da mesa ao lado, no entanto, o dono do restaurante chegou e nos falou que tínhamos todo o direito de comemorar a virada de ano e nos felicitava por estarmos juntos, além de confirmar que todos os casais eram bem vindos a seu restaurante”, afirmou o escritor.
No entanto, eles passaram por um constrangimento na internet, quando uma menina do Paraná entrou no Instagram do Sidi e comentando dizendo que não era um casal perante à Deus. “Acabei discutindo com ela e busquei printar seu comentário e a expus da mesma forma nas redes sociais, assim como denunciei seu perfil, afirmando que meus orixás não distinguem amor entre pessoas do mesmo sexo, ou de sexos opostos, e sim, são voltados ao amor”, relatou Schneider.
Para Márcio, ele viu que o poder que a internet tem de ofender, porque ela realmente ficou nos perseguindo, e teve lá seu apoio de outros como ela, mas acima de tudo viu o poder que ela tem de ajudar. “Uma galera que veio em nossa defesa foi realmente enorme! E isso me emocionou muito”, lembrou Márcio Benjamin.
Por que as pessoas ainda fiscalizam a orientação sexual alheia? O Sidi Schneider fala direto: “Acredito que muitas pessoas ainda buscam fiscalizar as relações amorosas diversas, pela falta de discussões que ainda temos em nossa sociedade e pela falta de demonstrações de amor em sua diversidade. Infelizmente nossa sociedade é construída e permeada por uma moral tradicional, herdeira de instituições que sempre buscaram controlar as relações pessoais como forma de um domínio social, sendo que muitas pessoas foram educadas neste tradicionalismo moral e não são postos em situações para que discutam suas opiniões, tornando estas verdades absolutas e incomunicáveis com as mudanças que estão ocorrendo através das diversas conquistas de direitos pela comunidade LGBT.”.
O que eles tem para dizer sobre os casais LGBT? Eles respondem aqui:
Com relação aos casais LGBTT, sair de seus armários e se assumir perante nossa sociedade, acho importantíssimo, primeiramente pelo fato de poder demonstrar seu amor no momento que estiver afim, e segundo como forma de combate a homofobia que esta impregnada em nossa sociedade e que ainda faz muitas vítimas. Outro fato que torna importante esta saída do armário é a diversidade de casais que começam a formar nossa sociedade, tornando cada dia mais possível discutirmos em nossos grupos sobre a existência destes, promovendo assim um maior entrosamento social e ao mesmo tempo provocando a discussão sobre a necessidade de discutirmos a igualdade de direitos a qualquer casal, e tornando cada dia mais normal casamentos, adoções e reconhecimentos de famílias LGBTTs. O fato de se assumir também é muito importante para o LGBTT, pois ele se empoderar e a cada dia se tornar sujeito de sua sexualidade e de sua união homoafetiva.
Sidi Schneider
No fim das contas é pensar: quanto tempo eu estou perdendo por deixar de viver? Será que penso realmente que a sociedade acha que esse “brother” com o qual eu vivo tirando foto é realmente meu amigo? E ainda : será que eu devo tantas explicações assim? Não, amigo, NÃO DEVE. Viva a sua vida e faça o bem, o resto é perfumaria, como dizia um dos maiores cantores do Brasil. Um enorme beijo a todos e gastemos nossa energia pra fazer o bem, já existe mal demais por aí.
Márcio Benjamin
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