“Seu nome é Lara, não é? Sabia que este nome foi de um personagem de uma novela nos 70 anos? Acho que é Irmãos Coragem e Glória Menezes a interpretava, ela tinha duas personalidades. Sabia disso? Você tem traços indígenas? É descendente de índios?”, este foi o início do papo com Homero. Inicialmente, seria um passeio sem planejar fazer alguma matéria na praia de Ponta Negra, mas encontrá-lo fez com que os planos fossem alterados.
Homero saiu de Porto Alegre, há 36 anos, com um único objetivo: andar os 27 estados brasileiros a pé. Sim, ele é um andarilho, como prefere ser chamado, apesar de já ter sido confundido com um morador de rua. Andando a pé, ele descobriu belas paisagens, conheceu amigos, estradas perigosas, lugares estranhos e muitas histórias para contar. Já andou para todos os lugares das terras tupiniquins, mas desde o início do ano resolveu fazer o repeteco.
Cheguei a pesquisar no Google quantos quilômetros é de Porto Alegre à Natal e o resultado foi: 3385 quilômetros. Isso quer dizer que demora:
- 9 dias de bicicleta
- 33 dias a pé
- 50 horas de carro
Mas, Homero não gosta das coisas bem planejadas, prefere ficar conhecendo os lugares de modo vagaroso e sem pressa. Afinal, ele está certo. Para que seguir o manual, hein?
Conheci Homero andando pelas ruas de Ponta Negra, mais precisamente na orla da praia enquanto um grupo de amigos estavam cantando músicas no violão. Então, ele começou a cantar a versão brasileira de “Woman No Cry”, de Bob Marley, feita por Gilberto Gil.
Uma coincidência dele com o seu xará grego é que ele gosta de aventuras. São várias histórias que podem ser escutadas. Só precisa ter um pouco de paciência. O Homero grego era famoso na Grécia Antiga pelas obras Ilíada e Odisseia. Os gregos antigos geralmente acreditavam que Homero era um indivíduo histórico, no qual seus poemas foram transmitidos, inicialmente, através das narrativas orais.
Assim como o grego, Homero faz a sua própria Odisseia e com as suas narrativas orais são deixadas para quem estivesse disposto a ouvi-lo. Sua história não passa e continua a cada passo que anda na vida terrestre. Não quis informar se estudou ou era formado. Nem precisava, pois via que era um rapaz que gosta de música e estudou em uma excelente escola, principalmente pelo português impecável e sem erros.
“Vou passar esse fim de semana em Natal, mas depois vou andar até Fortaleza”, comentou Homero.
Empolgado com a roda de violão, ele resolveu sentar e deixar a “sua cachorra” de lado para bater um papo com o pessoal. A cachorra, citada por ele, é uma bolsa cheia de palha de coqueiro, onde ele faz as suas artes para se manter e também guarda os seus utensílios. Além disso, ele também guarda um instrumento feito por ele. O material utilizado? Garrafa Pet+Arroz.
Parecia que tinha feito a invenção do século e sempre estava disposto a ensinar alguém a como tocar.
“Pegue, é bem fácil de aprender, só manter o ritmo e pronto”, argumentou.
Então, ele foi comentar as suas aventuras, no qual comentou que odeia pegar caronas. “Geralmente, eu não confio muito nas pessoas, eu já tive grandes problemas com as caronas que pedi. Por isso, eu não gosto”, pontuou.
Homero contou a frustração de nunca ter conseguido andar a pé na ponte Rio-Niterói, é uma ponte que atravessa a Baía de Guanabara e liga as duas maiores cidades fluminenses. E eu questionei o porquê. Tem apenas 12 quilômetros de extensão. “Lá não pode atravessar a pé, só em um dia da semana, toda vida que chego ao Rio, não é o dia que permite a entrada de pedestres. Aí sempre vou de bolsa e vejo a mais bela vista da Baía”, comentou.
O Brechando chegou a apurar quando é liberado para pedestre a ponte, mas ela é totalmente proibida para pedestre por conta da sua extensão e dos fortes ventos na região, fazendo com que as pessoas possam cair para fora da estrutura.
Homero vive de ajuda e sempre se vira como pode. Apesar dos poucos dias em Ponta Negra, ele já tava amigo de todos os ambulantes e banhistas. Quando viu uma roda de violão entre amigos, ele prontamente se juntou, chegando a cantar os 12 minutos de “Faroeste Caboclo”, da banda Legião Urbana.
Além da música, chegava a falar de história, física, filosofia e um papo de mais de trinta minutos. Depois, ele se despediu da roda de violão e foi continuar a sua aventura como andarilho.
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