Eram 23 horas da noite quando decidi que finalmente iria jantar, maldita hora que decido comer refeições de forma tardia. Estava com fome, cansada e chateada com todas as coisas que aconteceram nesta semana. Encontrei com meu namorado e resolvemos, após longo papo e de fugir novamente de jantar Mc Donald’s, resolvemos ir para Ponta Negra procurar um restaurante novo, próximo do Rastapé.
Ao estacionar o carro, encontramos um velhinho, na base de 70 a 80 anos, fazendo papel de flanelinha para aqueles que queriam entrar na casa de show de graças antes da meia-noite. Por isso, o local é conhecido pelos rolés universitários.
Voltando ao velhinho. Chega de digressão. Ele estava com um ar desesperado, mas não porque conseguiu trocados, sim querendo saber que bixiga estava acontecendo com a situação política brasileira. De longe, eu só ouvia ele perguntando: “É verdade que a Dilma saiu?”. Entretanto, as pessoas ignoravam as respostas, pois queriam ir ao rolé e não perder tempo em conversar com flanelinha.
Como o faro jornalístico fica implicando comigo até nos meus momentos de folga, eu resolvi ficar o conversando por uns 15 minutos e resolver perguntar sobre o que ele acha da situação política brasileira de uma pessoa que não tinha acesso à internet e explosão de fatos jorrados a cada segundo na timeline do Facebook/Twitter, independente se você era a favor ou contra o impedimento da Chefe do Executivo Federal.
“Ei, desculpa, senhor, o vidro do meu carro está quebrado e não dava para abaixar”
“Me dê um trocado, jovem, por favor”
Meu namorado deu o trocado ao senhor que, por sinal, se vestia com trajes interioranos, calça de linho, camisa, um chapéu de vaqueiro e suas sobrancelhas eram pintadas com carvão, porém não deixava de enfatizar aos grandes olhos azuis e com a pupila mais contraída que o normal. Se reparar bem, ele se vestia parecido com o meu avô Manoel, falecido em 2014.
“Moça, me tira uma dúvida, é verdade que a Dilma saiu?”
“É verdade, sim!”
“Mas, como foi isso? Os deputados podem tirá-la assim? Quem vai assumir?”
“Eles podem, segundo a Constituição. Um deputado federal pode pedir o processo de impedimento ao Presidente da Câmara, no qual decidirá se realizará o processo. O pedido precisa receber os votos de uma boa parte dos deputados para que encaminhar ao senado. Aí, o mesmo aprovou e ela está afastada agora”
“Será para sempre isso? Realmente?”
Então, ela deve ficar afastada por seis meses para que a Justiça julgue o processo de impeachment. Caso a Justiça ache certo a paralisação, ela ficará impedida de candidatar a qualquer cargo público por oito anos. Agora é o vice-presidente tem que assumir”
“Que coisa, não vai ser legal”
“Por que, você é contra que isso aconteça?”
“Porque as pessoas vão continuar roubando o país, não serão punidas e quem assume ainda é o vice dela. Deveria ter tido outras eleições”.
“Senhor, vamos ver o que vai aguardar, isso ainda demorará seis meses”.
O que aprendi com este bate-papo na rua? Independente se você é a favor da queda da Dilma Rousseff, as pessoas estão com medo e assustadas com o futuro do país, independente se você sabe das notícias através das outras pessoas, no caso do idoso, ou se sabe através das enxurradas de informações através da internet, televisão, rádio e celulares.
Entro no restaurante e pergunto para os caras se esse idoso sempre roda na região.
“Toda sexta-feira, ele aparece por aqui e sempre pede trocados. Ás vezes chega ser arredio quando as pessoas não possuem trocados. Ele estava conversando sobre o quê na calçada contigo?”.
“Perguntando sobre o impeachment e se realmente a Dilma saiu”.
“Sim, a coisa tá foda, independente do que vai acontecer nós estamos fudidos”.
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