Um dos assuntos que ainda é tabu se chama aborto. Atualmente, quase um milhão de mulheres são mortas por retirar fetos em clínicas ou inserindo remédios vendidos clandestinamente. Aborto é a quinta maior causa de morte materna no Brasil. São várias as razões que levam uma mulher a provocá-lo e geralmente estão associados com a idade, fator socioeconômico e número de filhos.
De acordo com as estimativas que entre 7,5 milhões e 9,3 milhões de pessoas interromperam a gestação no Brasil entre 2004 e 2013. Estima-se que ocorrem a cada ano 46 milhões de abortos provocados em todo o mundo e cerca de 20 milhões são clandestinos.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação pode ser ainda mais alarmante, visto que o número de abortos pode ultrapassar um milhão de mulheres e provocando 70 mil mortes.
Em 2005, na região Nordeste, a proporção de abortos inseguros, entre 15 a 49 anos, foi de quase três abortos a cada 100 mulheres. O Comitê Estadual para a Redução da Mortalidade Materna, no ano de 2005, apontou que o estado tem a taxa de mortalidade materna de 100 a 130 óbitos por 100 mil habitantes, estando 13% associado ao aborto por condições inadequadas. Portanto, não existe dados atualizados sobre o assunto no RN.
A X (alteramos o nome das entrevistadas) cometeu um aborto quando tinha 21 anos e disse que foi o processo mais doloroso que sofreu na vida. Após o procedimento, ela começou a usar tratamentos anticoncepcionais e é a favor da legalização.
“Nem todas as mulheres que fazem aborto se sentem livres ou acham que se livraram de um peso. É uma marca na alma, do mesmo jeito que ser mãe ou sofrer um aborto espontâneo. A legalização não significa que vão deixar de se protegerem porque vão poder abortar, mas têm o direito de escolha”, justifica.
Ao ser questionada se teve o apoio do companheiro, ela respondeu que sim. “Ele me apoiou, disse que apoiava qualquer decisão que eu tomasse. Me perguntou mil vezes se era isso mesmo que eu queria antes de fazer, esteve comigo no momento”, contou.
A Y namorava sério há alguns anos quando engravidou. “A decisão foi tomada sem pensar e por insistência do meu parceiro na época. Foram horas de muita dor e sofrimento, algo que não desejo passar nunca mais.”, afirmou.
Se faria novamente? Y prontamente respondeu que não e justificou: “Não sou mais capaz psicologicamente de fazer, apesar de saber que tem pessoas mais fortes. Arrependo de ter tomado a decisão pela insistência dele, minha família descobriu depois e me repreenderam por isso. Não tocamos no assunto, pois foi algo muito doloroso e trouxe algumas consequências para a saúde.”.
A Z presenciou a sua irmã ter quase morrido com o processo de aborto. “Fui a única a ficar do lado dela. Ela ficou grávida de um namorado seis anos mais velho e a primeira coisa que ele disse foi que sumiria, a deixaria sozinha e a acusou de ser imprudente. Me lembro quando disse que estava grávida e que a primeira coisa que o cara falou foi que iriam comprar o remédio o mais rápido possível”.
O “Painel Temático: Saúde da Mulher”, elaborado pelo Ministério da Saúde, concluiu que 686 mulheres são internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a cada dia, em decorrência de complicações relacionadas ao aborto.
Após tomar o remédio, a irmã de Z passou muito mal e rapidamente foi ao hospital. “Meu maior medo foi dela morrer, pois chegou muito fraca no hospital. Foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nem com a médica ela pôde falar. No outro dia ela fez a cirurgia de curetagem para tirar os restos com o objetivo de não haver inflamações. Se tivesse tido apoio, não faria o aborto. Ela não quer olhar para a cara dele, hoje em dia. O maior arrependimento foi tê-lo conhecido.”.
Além disso, há uma verdadeira indústria do aborto ilegal sustentada na base desta proibição estatal. Calcula-se que os custos para um abortamento clandestino girem em torno de R$ 1.500 a R$ 3.500”. Enquanto a camada mais pobre se vê forçada a recorrer a métodos muito mais precários.
Apesar de afetar milhares de mulheres e custar aos cofres públicos pelo menos R$ 142 milhões por ano, o aborto continua sendo tratado como uma questão delicada nas campanhas eleitorais e a maioria dos candidatos procura driblar o assunto.
Aborto só é permitido para bebês sem sistema nervoso, gerados via estupro ou que causam risco de vida para a mãe.
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