A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. O que é estuprar? É a prática não consensual do sexo, imposto por meio de violência ou grave ameaça de qualquer natureza por ambos os sexos. Sabendo disso, o Diretório Central de Estudantes (DCE) realizará nesta segunda-feira (18) um debate na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mais precisamente no auditório da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT). Essa discussão já está acontecendo em outras universidades brasileiras.
Através das redes sociais, as mulheres finalmente puderam revelar sobre os casos de estupros em trotes, calouradas, festas setoriais e caminhadas entre os vários caminhos mal iluminados do campus. Recentemente, o coletivo Leila Diniz criou a campanha “MeuMigodaUFRN”, no qual as mulheres denunciaram aqueles homens que lhe violentaram dentro da UFRN ou em festas relacionadas.
Na campanha houveram vários relatos de meninas que foram estimuladas a beber álcool por um veterano para depois serem forçadas a fazer sexo com o mesmo. Um dos relatos diz: “Em um dia de Cientec do ano passado, esse migo chama uma menina (caloura) que estava em estado de vulnerabilidade pois tinha bebido, para ir ao Centro de Biociências, junto de outro casal. Essa menina vai, afinal, o conhecia e o outro casal, conviviam na mesma galera, eram colegas e até já tinham ficado uma vez, jamais imaginou que ao chegar lá, iria sofrer um atentado de estupro após se recusar a ficar com ele. Ele objetifica mulheres descaradamente a ponto de agredir fisicamente quando se negam a ficar com ele”.
Além disso, esses casos nas calouradas são mais comuns que se imagina e muitas dessas vítimas são aconselhadas a não denunciar, deixar o assunto quieto ou os amigos não lhe apoiarem. A integrante da diretoria de mulheres do DCE, Mariana Ceci, disse que as administrações das universidades tanto brasileiras quanto estrangeiras também silenciam sobre o assunto e há uma falta de propostas educacionais que mostre o respeito entre os seres humanos.
“Falta um sistema fácil para que as alunas possam denunciar [os possíveis abusos dentro das instituições de ensino]. Muitas, quando sofrem, não sabem o passo a passo do que fazer e como proceder, isso é um problema”, comentou.
Nesta discussão será exibido o documentário “The Hunting Ground”, sobre estupros em universidades americana, bastante elogiado pela crítica, e em seguida haverá uma discussão sobre o tema trazendo para a nossa realidade na UFRN. Recentemente, o Centro Acadêmico do curso de Arquitetura enviou uma nota repudiando os casos de assédio sexual envolvendo uma festa de feijoada, onde pessoas entraram de penetra e tentou assediar uma das convidadas da festa.
O estupro consiste em qualquer forma de prática sexual sem consentimento de uma das partes, envolvendo ou não penetração. Por exemplo: um sexo oral forçado pode ser considerado um estupro. Ainda que o estupro vitime ambos os sexos, as mulheres são as vítimas historicamente mais atingidas.
O estuprador não tem um perfil certo, visto que pode ser um estranho andando na rua ou até o seu melhor amigo com quem você achava que podia confiar. Uma das coisas que cada vez mais estão sendo noticiadas são os casos de estupro e abuso sexual dentro das universidades.
A pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário, realizada em 2015 pelo Instituto Avon em parceria com o Data Popular, revela que 25% das estudantes universitárias já foram xingadas ou agredidas por terem rejeitado uma investida nas dependências da universidade ou em festas acadêmicas, competições e trotes. Maltratar uma aluna ou colega que recusou uma investida constitui agressão moral, um dos seis tipos de violência que ocorrem com as universitárias brasileiras.
“Historicamente vemos estupros coletivos em trotes e calouradas que são tratados como perfeitamente normais. Daí cabe a nós nos perguntamos: quanto vale o sim ou não de uma mulher no sistema patriarcal?”, explicou a integrante do DCE.
Também são considerados violência o assédio sexual, que engloba comentários e cantadas ofensivas ou com apelo sexual indesejado; a coerção, que consiste na ingestão forçada ou sem conhecimento de bebidas ou drogas, bem como a participação forçada em atividades; a violência física; a desqualificação intelectual; e a violência sexual, que vai desde o toque sem consentimento até o estupro.
Um ano após o encerramento da CPI dos Trotes, casos de violência contra estudantes de universidades brasileiras continuam sendo acobertados pelas instituições.
“A violência sexista sempre existiu dentro dos campi. No entanto, sempre foi mais confortável para as administrações silenciarem os casos para manter uma suposta imagem de segurança para o público externo. Recentemente, em várias universidades do Brasil, as mulheres decidiram colocar um basta na situação de violência e segurança. É um movimento nacional”, comentou Ceci.
Em Brasília, no mês de março, a jovem Louise Ribeiro, que estudava biologia na Universidade de Brasília (UnB) foi morta pelo colego de laboratório por ela recusar o pedido de namoro. O corpo da menina foi encontrado em uma área de cerrado no Setor de Clubes Norte, próximo à UnB. Amigos da menina avisaram a polícia e disseram que Neres podia ter envolvimento com o crime, devido à suposta fixação que o estudante tinha por Louise.
Já em São Paulo, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), uma das mais prestigiadas e elitistas do país. As violações constituem somente a ponta de um iceberg de uma cultura na qual não só as mulheres são ultrajadas, mas também são reprimidos os alunos homossexuais e negros. Marina Souza Pickman, hoje aluna do quarto ano, conta que nas suas primeiras semanas na universidade sofreu duas agressões sexuais. Sua história foi retratada na sucursal brasileira do El País.
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