Seu nome é José Ezelino e é filho de escravos e nascido em Caicó no ano de 1889 – um ano após a abolição da escravatura no Brasil, a Lei Aúrea, assinada pela então Princesa Isabel. Pouco se sabe de sua história e como descobriu a fotografia, só se sabe que ele adquiriu experiência com profissionais da Paraíba e do Pernambuco, através de um recorte de jornal da época. Mas, ele conseguiu registrar uma das 10 maiores cidades do Rio Grande do Norte, principalmente que esteve em ascenção economicamente, com a agricultura do algodão. Era uma profissão na época rara no Sertão, na década de 20, principalmente nos recantos distantes dos grandes centros urbanos do país.
De acordo com Rostand Medeiros, na metade da década de 1920 do século passado o município de Caicó tinha uma população em torno de 25.000 mil habitantes, mas o núcleo urbano não tinha nem 8000 pessoas. Apesar desta pequenez habitacional, Caicó já tinha um banco.
Era nesse período que Ezelino registrou em sua máquina a si mesmo e a seus familiares com a mesma linha estética das famílias de alta classe da Região Sudeste e de países europeus. O artista, um grande inovador, criou figurinos direção, cenários e captação de imagens utilizando seus próprios recursos e sem apelar para referências de outros artistas. Além disso, conseguiu registrar o centro da cidade, como nesta foto a seguir:
Ainda também procurou retratar os moradores da região:
No ano passado foi lançado o livro “Quando a pele incendeia a memória”, de autoria da pesquisadora Ângela Almeida que resgata o trabalho do fotógrafo caicoense. Além disso, Ezelino imortalizou imagens de parentes e amigos e o cotidiano da sociedade da sua época. Para a elaboração do livro, Ângela Almeida contou com o apoio da sobrinha-neta do retratista, a arquiteta Ana Zélia Moreira, que apresentou o álbum de família, herança deixada por sua mãe. O livro conta com projeto gráfico de Rafael Sordi Campos e ilustrações de Michelle Holanda.
Não existe nenhum registro fotográfico semelhante ao de José Ezelino no Brasil. A maioria dos registros é da população negra retratada como vendedores de ruas ou como trabalhadores de baixo escalão. Além dos registros familiares, Ezelino produziu um vasto material da cidade de Caicó e demais regiões do Seridó. Infelizmente, muitas destas fotos foram perdidas ao longo dos anos, o que fortalece ainda mais a importância do trabalho da pesquisadora Ângela Almeida.
O trabalho de Ezelino é considerado único, já que a maioria dos registros de negros da época mostram imagens de vendedores de rua e de trabalhadores braçais. Ezelino, que paralelamente produziu um vasto material de Caicó e demais regiões do Seridó, infelizmente teve muitas fotos perdidas.
Recentemente foi eleito por um grupo de especialistas em fotografia como um dos melhores fotolivros de 2018. A publicação contou com patrocínio do Morada da Paz, por meio do programa de incentivo à cultura Djalma Maranhão da Prefeitura do Natal, com realização da Cultura de Valor.
Promovida pela revista ZUM, publicação semestral do Instituto Moreira Salles (IMS) dedicada ao universo fotográfico, a distinção foi dada apenas a dois livros: “Quando a pele incendeia a memória”, de Ângela Almeida (Edufrn); e “Conhecidos de vista”, de Letícia Lampert (Editora Incompleta). O livro sobre José Ezelino da Costa foi o único do Rio Grande do Norte a participar do festival ZUM, realizado em setembro deste ano na sede do IMS em São Paulo/SP.
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