Sai mulherzinha dos cartões, entram veteranos empolgados

Sai mulherzinha dos cartões, entram veteranos empolgados

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Ainda era vestibular, no ano de 2011, quando entrei na faculdade de jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde todos paravam para saber os nomes dos aprovados através do rádio, televisão, jornal e internet. As coisas mudaram e o Sistema de Seleção Unificado (Sisu) virou o processo seletivo, onde se usa nota da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para ingressar as instituições de ensino superior que são públicas. Porém, esta não apenas a única coisa que mudou, a hora do cadastramento também sofreu algumas alterações nesta vida universitária. Na minha época, a gente tinha que parar no prédio de C&T, fugir das moças que vendiam cartão de crédito correndo, entregar os documentos e, por fim, ia no dia marcado para o departamento com o objetivo de saber as matérias que seriam pagas no primeiro período.

Sete anos depois ou oito anos depois, minha irmã entra na UFRN e ao acompanhá-la ao fazer cadastramento vi que muita coisa mudou. A primeira impressão era ainda a agonia dos calouros para entrar logo no prédio do cadastramento, mas nitidamente a gente via rostos adultos começando a sair da adolescência,  não sei se porque os adolescentes estão desenvolvendo mais rápido ou estava tão empolgada em fazer faculdade que nem ligava nessas coisas, apenas o meu foco era fugir do trote, que provavelmente seria feito quando começasse as aulas.

Uma coisa me chamou atenção eram os diversos cartazes de pessoas que estavam na porta, então fiquei me questionando: São aqueles pais empolgados ?  Amigos ? Primos ? Que nada! Eram os veteranos correndo atrás dos calouros (novatos) com mensagens de boas-vindas e descobrir quem é quem de uma forma mais rápida, visto que a lista do Sisu, em breve, deixará de ficar disponível e o que resta serão lembranças.

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Os primeiros calouros que presenciei foi de psicologia, com cartazes bem coloridos e rapidamente fui falar com eles no tom de brincadeira:

Já brigaram com o Sigaa (sistema da universidade, onde o aluno faz a matrícula, verifica as matérias, notas e notícias sobre as aulas do semestre)? – pergunto

Jáááá – responderam

Conheceram os novatos ? – perguntei

A maioria são todos tímidos – responderam

Amam o Setor II (onde acontecem as aulas do curso) ?

Siiiiiiim

Quem fuma maconha levanta o braço?

Todos caíram na risada, mas só um corajoso respondeu:

Sou do Proerd (Programa da Polícia Militar de Combate às Drogas, onde são feitas aulas dentro das escolas de Ensino Fundamental), drogas estou fora!

Resolvi esperar a minha irmã do outro lado do prédio, próximo da saída dos novos estudantes do prédio do cadastramento, onde estavam concentrados diversas pessoas, dos mais diversos cursos e tinha gente até de Centro Acadêmico (também conhecido como grêmio, CA) participando e dando boas-vindas. Rapidamente, consigo identificar os veteranos de jornalismo, com cartazes, mensagens com celular na mão e um desejo no coração: dar amor aos jovens padwans enquanto o mercado de trabalho fornece ódio.

O que você mais ouvia na escadaria eram os gritos dos experientes, desesperados, para saber quais eram os seus alunos:

QUAL É O CURSO PELO AMOR DE DEUS?

VOCÊ É MEU CALOURO ?

Se a resposta for sim eram um grito de felicidade do mesmo modo quando o Brasil foi tetra na Copa de 1994. Ao mesmo tempo, eram abraços, um brigadeiro e uma tinta na cara com carinho.

Era gente de biomedicina, biologia, ecologia, serviço social e dentre outros cursos. Um ajudava o outro para identificar os novos alunos, nos quais alguns ficavam felizes por conhecer os novos coleguinhas e outros fingiam que nem viam.

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A surpresa é quando vejo na escada o jornalista Enildo Fernandes, que desce as escadas e os veteranos tudo correm para saber qual a graduação, ele solta a seguinte pérola:

 Está é a minha quarta graduação na Universidade.

Depois, a gente se encontrou e começou a falar dos velhos tempos da universidade.

Os anos se passaram e a UFRN proibiu os trotes, no qual eram proibidos aqueles caldos sujos, andar de elefantinho no entorno do campus e muito menos pedir dinheiro melado para aquela calourada, no qual eu corri feito uma condenada para fugir desta atividade.

Eram outros tempos e outras visões e a desconstrução é diária, mal tinha passado a lista no vestibular e cinco veteranos tinham me adicionado no Orkut pedindo para ir ao Bar do Thomas ou o Bar de Mãe, que fica próximo do campus e nas principais vias do conjunto Mirassol, onde parte do campus universitário da UFRN fica. Ainda tinha o famoso grupo no MSN, tão maluco quando o grupo de Whatsapp.

Voltando a falar da localização da instituição de ensino. Sim, diferente de várias cidades, a universidade não fica na entrada, a mesma está praticamente numa região central e virou o principal ponto de referência para qualquer lugar. Se você não sabe onde fica a UF, não pisou por Natal.

Mas uma coisa não muda: o talento dos veteranos para caçar os calouros.

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Sobre lara

Jornalista e publicitária formada pela UFRN, começou despretensiosamente com um blog para treinar seu lado repórter e virou sua vitrine. Além disso, é mestranda em psicologia na UnP e ainda é doida o suficiente para começar mestrado em Estudo da Mídia na UFRN. Saiba mais sobre esta brechadora.

Desenho: @umsamurai.



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