Para alguns 14 de março é considerado no Brasil o Dia Nacional da Poesia (oficialmente é novembro). Por quê? Uma forma de homenagear um dos maiores nomes da literatura brasileira, o Castro Alves, que flertou com o romantismo e realismo; sem contar que foi um dos grandes defensores da libertação dos escravos.
Seu nome é Antônio Frederico de Castro Alves. Nasceu em Curralinho, no dia 14 de março de 1847. Sua mãe, Clélia Brasília Castro, morreu quando o poeta tinha dois anos.
No colégio, por sua vez, teve acesso aos primeiros gênios literários e começou a frequentar aos eventos de artes e saraus, além de escrever os primeiros versos.
Com o segundo casamento do pai, Antônio José, se mudou para Recife, onde frequentara a Faculdade de Direito e recitava os seus primeiros versos no pátio da instituição de ensino. Em 1863, ele lança o seu primeiro poema a favor da abolição, “A Canção do Africano”.
Após o falecimento do pai e irmão, Castro Alves começa a manifestar os primeiros sinais de turbeculose, mas isso não deixou de continuar com a intensa produção de poemas e peças teatrais.
Seu primeiro trabalho conhecido foi o drama “Gonzaga ou Revolução de Minas”, que foi interpretado em vários teatros do Brasil. Neste período, Alves ficou conhecido pelos textos a favor da moral, causa social e, principalmente abolição dos escravos, que só aconteceu em 1889, quase 30 anos depois de sua morte.
Em 1868 viajou para o Rio de Janeiro, onde recebeu visitas de José de Alencar e Machado de Assis. Para imprensa, Alencar o comparara com Dante Alighieri.
Resolveu continuar os seus estudos de Direito em São Paulo, mas continuava a publicar poemas nos jornais de vários lugares do Brasil. No mesmo ano, ele lançou o “Navio Negreiro”, a mais importante obra do autor.
Nos últimos três anos de vida, a tuberculose piorou bastante, chegando a amputar uma de suas pernas. Sua última aparição foi em fevereiro de 1871, em Salvador, falecendo quatro meses depois, na mesma cidade.
Nos anos seguintes foram lançados postumamente algumas de suas obras, como “Os Escravos”. Hoje, a cidade de Curralinho, terra Natal do poeta, virou Castro Alves em sua homenagem.
A Duas Flores
São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo,no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão…De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar…
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!“0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!“Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar …“Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro”.O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!……………………….
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
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