O autor do livro “Travestis Envelhecem”, Pedro Sammarco, aponta que o tempo de vida dos trans é de 35 anos. Sammarco é psicólogo e fez doutorado sobre o assunto. Enquanto isso, o tempo de vida dos demais brasileiros é de 74 anos. Por que é raro ver trans envelhecendo? São pucos casos que a gente olha uma Roberta Close ou João W Nery com mais de 50 anos e ainda fazendo as suas atividades.
O que é trans? Trans vem do termo transgênero. Refere-se aquelas pessoas cuja expressão social ou identidade de gênero difere daquela tipicamente associada ao gênero que lhes foi atribuído no nascimento (transexualidade). Também designa pessoas que não se identificam com as noções convencionais de homem ou mulher, combinando ou alternando as duas identidades de gênero (não-binário).
É comum ver matérias nos cadernos policiais sobre assassinatos e mortes de transexuais, sejam eles homens ou mulheres. O motivo? São vários, pode ser as consequências de uma prostituição, por crimes transfóbicos, doenças, tratamentos estéticos (inserir silicone industrial, por exemplo) e suicídio.
De acordo com a Rede Trans, 128 transgêneros foram assassinados em todo o Brasil. As fontes da Rede Trans vem através dos portais de notícias e também informações de organizações especializadas de todos os estados brasileiros. A Rede Trans apuraou que o tempo de vida de uma trans é entre 20-35 anos, concordando com a pesquisa do psicólogo Pedro Sammarco.
“A população trans é bem jovem e excluída do meio familiar. Por conta disso, muitos jovens são expulsos de casa e, consequentemente, não conseguem chegar a escola, além de não ter perspectiva de trabalho e renda. Por isso, muitos têm contato com as drogas ilícitas e a prostituição. Muitos são ceifados por conta das dívidas que acumulam entre os cafetões e/ou traficantes”, afirmou Rebecka de França, integrante da ONG Atransparência.
A ONG natalense Atransparência aponta que em 2016 já foram nove mortes, sendo seis por violência, dois suicídios e uma por problemas do silicone industrial apenas no Rio Grande do Norte. Recentemente, um transhomem tirou a sua própria vida em Natal.
Rebecka, entretanto, deixa claro que não são apenas esses motivos que causam a morte precoce da população trans. “Muitos se sentem abandonados pela sociedade, causando a depressão e se sentem esquecidas pela sociedade.”.
Recentemente, o jovem natalense Iuri Dantas morreu após uma crise de depressão, mesmo com o apoio da família. A mãe, Irene Dantas, comunicou no Facebook em post público e lamentou a morte do filho, a quem sempre entendeu, respeitou e apoiou. Segundo ela, foi um “privilégio trazê-lo ao mundo” e que sabe mais do que ninguém que ele tinha uma “alma masculina em seu ser”, pois desde os seis anos ele já dizia se sentir um homem.
“Se tem duas palavras que podem me definir no dia de hoje é: dor e saudade (…) Não perdi um filho, perdi um amigo, companheiro, parceiro de aventuras e principalmente um confidente maravilhoso. Meu filho pagou um preço muito alto pelo fato de ser um ser autêntico, sincero, corajoso e livre de preconceitos e hipocrisias”, escreveu ela.
A ativista Rebecka conta que mesmo da existência do apoio familiar, muitos trans ainda não conseguem lidar com o preconceito familiar. “Mesmo que algumas tenham o apoio, algumas não conseguem continuar a luta de mostrar quem são. Os familiares podem entender o seu lado. Porém, as pessoas trans sabem como é sair dos muros de sua casa e ficar encarando os olhares de repulsa da população.”.
Todo dia é uma luta para afirmar que é transgênero. Por exemplo, sabia que precisa de um laudo para conseguir mudar a documentação? De acordo com Rebecka, o laudo que serve como prova para conseguir o direito de mudar os nomes só fica pronto em dois anos. “Depois, demora um longo tempo para fazer a cirurgia de redesignação sexual. Demora ainda mais se for dar entrada pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Mas o que fazer para acabar com essas mortes precoces? A esperança é criar programas de inclusão social aos transgêneros. Segundo Rebecka, uma ótima forma seria discutir isso nas salas de aulas, embora que o Plano Municipal e Estadual de Educação retiraram o tema LGBT em suas respectivas pautas.
“Isto dificulta ainda mais a inclusão das travestis e outros transexuais na sala de aula. Fica cada vez mais complicados deles terminarem seus estudos e consequentemente ingressar na universidade”, finalizou a jovem, que é uma das poucas travestis que estão numa universidade, ela é estudante de Geografia no Instituto Federal do Rio Grande do Norte e também é membro do Centro Acadêmico do curso.
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