Fui assistir Aquarius no início desta semana. Era uma segunda-feira, 7 de novembro, todos os cinemas da rede Cinemark estavam com o Projeta Brasil, que exibe os filmes nacionais que entraram em cartaz no cinema neste ano e todos custaram apenas três reais. O evento acontece sempre no mês de novembro em várias cidades brasileiras e somente numa segunda.
Eram 40 longas brasileiros, com os mais variados gêneros – desde sucessos de público até obras aclamadas pela crítica. Por isso, a galera estava animada:
Quando cheguei ao Cinemark daqui de Natal, localizado no Midway, havia uma fila enorme, que começava do Teatro Riachuelo até a bilheteria. Queria pagar de esperta indo para a fila dos cartões? Esqueça, o Cinemark tinha desativado todas as máquinas que faziam este pagamento. Havia uma segunda opção: comprar na internet.
Outra dica seria ir de manhã assim que o shopping abrisse.
Inicialmente, o meu trajeto seria aula de francês no IFRN (em frente ao Midway) e depois pegar o ingresso na bilheteria, mas quando vi o tamanho da fila tive que pensa em dois segundos. Então, eu resolvi logo entrar na fila, se eu perdesse a aula seria uma consequência. Desculpa, professor Renato César. Olha o tamanho da fila:
Eram crianças, adolescentes, adultos e idosos. Todo mundo no mesmo balaio para assistir filme nacional por apenas três reais. Mas, o que assistir?
Os filmes que estavam em cartaz no horário que eu fui ao cinema eram: “Aquarius“, “Carrossel 2 – O Sumiço de Maria Joaquina“, “Desculpe o Transtorno“, “É Fada“, “Em Nome da Lei“, “Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo“, “Os Dez Mandamentos”, “O Shaolin do Sertão“, “Tô Ryca” e “Um Namorado Para Minha Mulher“.
O “Tô Ryca” e “O Shaolin do Sertão” já tinham encerrado as suas participações e eram voltados para comédia.
Os mais concorridos eram mais famosos e populares, como “Os Dez Mandamentos”, baseado numa novela da Record que foi sucesso de público, e “Carrossel”, adaptação brasileira de uma novela mexicana infantil. Enquanto os outros tinham duas ou três sessões, esses dois citados tinham quatro horários.
Ainda tinha o “É Fada”, protagonizado pela Youtuber Kéfera. Eram engraçados os comentários que ouvia da fila:
“Quem é essa Kéfera? É de comer?”- perguntou uma menina da minha frente.
O amigo dela respondia: “Ela é uma Youtuber!”
“Ela é o quê?”
“Abestalhada, são aquelas pessoas que aparecem no YouTube e ela é muito famosa, tem fãs e tudo”.
Enquanto ouvia esse diálogo e mexendo no celular, a fila estava andando em passos lentos. De vez em quando era comum ver gente desistindo de comprar os ingressos, pois o horário que queria não existe mais, chocou com o horário da aula e dentre outras coisas. Mas, eu estava lá firme e forte, pois queria assistir “Aquarius“, que passou no Festival de Cannes, na França, e não consegui vê-lo quando passou pela primeira vez em Natal.
Para assistir tinha duas sessões: 16h00, 18h45 e 22h00. Queria ir na sessão de 18h45, pois poderia voltar para casa mais cedo. Estava com um misto de felicidade e tensão, pois estava com medo de não conseguir assistir, mas estava determinada. Depois que os meninos que iriam ver o filme da Kéfera encontraram uma amiga que lhes ajudaram a furar a fila, encontrei um trio de meninas que tinham saído da faculdade e viram que poderiam ver filme mais barato.
O engraçado era que elas ficavam telefonando para outras amigas como uma forma de estimular para ver o filme: “Vamos, mulher, só tá três reais e compro o seu ingresso”. Ao mesmo tempo, elas ficavam perguntando o que assistir. Na tela da bilheteria, elas viram o filme “Um Namorado Para Minha Mulher“, último trabalho do ator Domingos Montagner, protagonista da última novela das 8, que faleceu durante as gravações.
“Ai mulher, bora ver este filme, pois é o último com a participação do Santo da novela, bichinho, ele morreu tão jovem”.
Após a decisão delas, elas e eu entramos na última parte da fila, que estava muito próxima do caixa da bilheteria. Após uma hora de fila, eu corri para o caixa e disse: “Aquarius, sessão de 18h45”. A sorte que consegui uma poltrona na fileira do meio, algo bem difícil para quem inventar de ir ao cinema de última hora.
O rapaz até tentou me oferecer o combo do Cinemark, mesmo rindo da minha euforia de conseguir o ingresso, após muita insistência disse não. Além dos ingressos de R$ 3, o público poderá adquirir o combo promocional Projeta Brasil (uma pipoca na embalagem especial do evento e um refrigerante 300 ml) pelo valor de R$ 5.
Finalmente, eu consegui meu ingresso:
https://www.instagram.com/p/BMhddQ6Dpjd
Não se engane pensando que a fila amenizou depois que comprei, ela ficou bem pior. Eram 18 horas quando saí da fila, tinha perdido a aula de francês (quero dar um upgrade no meu currículo vitae). Então, eu resolvi lanchar e depois ver os livros da livraria, não necessariamente nesta ordem. Eram 18h40, quando entrei na sala, a fila para entrar era bem inferior a de comprar. Menos mal, não é?
Entrando lá, vi um mar de gente que estava interessada em conhecer um pouco da produção nacional, fugir um pouquinho desse universo de Hollywood.
Foi muito bom ver Aquarius. O filme fala sobre Clara, que mora em um prédio pequeno na Praia de Boa Viagem, no Recife, e uma construtora quer construir um espigão no lugar aonde mora, mesmo recusando diversas vezes que não quer vender o seu apartamento. Por causa disso, ela vai a batalha. Embora seja uma crítica a especulação imobiliária no Nordeste, mas isso não é o único mote do enredo.
Também mostra a luta de Clara, personagem principal de Sônia Braga, para ser quem ela é e como uma mulher da terceira idade ainda não conseguem ser respeitadas e ainda tem que seguir os padrões impostos pela sociedade machista pelo fato de ser uma idosa.
Clara é criticada por ter trabalhado demais, tem uma relação conturbada com a filha por ela não aceitar a mãe possa se divertir e fazer o que quiser. Além disso, traz o questionamento sobre o amor na terceira idade, que é um tabu para sociedade, visto que muitos acham ridículo uma idosa querer fazer sexo.
Saí do cinema com um grande sorriso no rosto e pensando querer ser uma Clara quando ficasse idosa. Obrigada por assistir este filme, valeu a pena e coube a reflexão!
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