Primeiro, vejam este vídeo:
Essa matéria fala sobre uma Escola de Princesas, que foi criado em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, no qual está prestes abrir uma filial em São Paulo, empresariada por uma das filhas de Sílvio Santos. Um dos absurdos do vídeo foi uma mãe falando que uma escola de princesas ajudaria a facilitar seu papel como educadora. Oi? Você não quer educar a sua filha? O que adianta ela aprender tudo isso nessa escola e em casa não faz nada?
A escola abriu sua primeira unidade em 2013 e, rapidamente, se espalhou para outras cidades mineiras, como Uberaba e Belo Horizonte.
É legal fazer as crianças aprenderem a ter responsabilidades desde cedo, porém isso não deve restringir apenas para as meninas. Mas, ser princesa é apenas para cuidar da casa e se arrumar? Só cabe esse papel para mulher? Vem o questionamento que todos deveriam fazer, principalmente quando vemos irmãs, filhas e sobrinhas sendo criadas numa bolha, que a única função de uma garota é somente se maquiar e ser arrumada. A famosa “Bela, Recatada e do Lar”.
Aí surge uma nova forma de criar mais exemplos de novas mães solo, no qual os pais não aceitam a dividir as tarefas:
É meio contraditório uma pedagoga pensar nessa forma enquanto diversos estudos defendem a ideia do “ensinar a pensar”. Ou seja, fazer com que os jovens possam seguir determinadas correntes e não tenham a obrigação de seguir um determinado pensamento. É retrógrado pensar dentro de uma caixinha.
O curso tradicional tem três meses de duração e ensina meninas de quatro a 15 anos de idade os valores de uma princesa e como arrumar o cabelo, se maquiar e organizar a casa, além das regras de etiqueta e culinária.
Antes de mais nada o que seria uma princesa? Um cargo político e título de nobreza que existe em alguns países que constituem a monarquia. Geralmente, elas são filhas da rainha/do rei que são preparadas para se tornarem, futuramente, uma líder política de um determinado país. Em certos países, a princesa é um papel importante principalmente nas relações internacionais, muitas vezes a vida dela não é igual a retratada nos filmes da Disney, pode ser restritiva e muitas vezes cruel, vide a história da Lady Di, que morreu após uma perseguição de paparazzis.
Podia achar o Príncipe William bonito, mas não queria casar, principalmente pelo fato de não poder sair de casa sozinha para comprar um pão.
Eu, por exemplo, nunca seria uma princesa deste vídeo, minha cama neste momento está bagunçada, minhas roupas são colocadas de forma aleatória do armário e sempre esqueço que cotovelos na mesa não pode. Quando mais nova, muitas atitudes na escola chamavam atenção por “não ser de menina”, como minha caligrafia ruim e nunca escrevia os textos na margem do caderno. Numa época, um professor de matemática dizia que o meu caderno era igual ao de “menino” por ser desorganizado. A organização, obrigatoriamente, tem que vir de uma pessoa do sexo feminino?
Por muitas vezes, minha feminilidade foi questionada por colegas de escola e professores devido aos estereótipos que uma escola como as das princesas querem reforçar em pleno ano de 2016, período que muitos estão tentando desconstruir preconceitos e discutindo a participação do gênero na sociedade. A diferença de ser menina e menino está apenas por ter um sistema reprodutor diferente.
Meninas podem brincar de bola, não gostar de maquiagem e muito menos não quererem o quarto pintado de rosas. Elas podem preferir o Batman ao invés da Elsa do Frozen.
Além disso, incentivar uma garota de 7-10 anos que uma garota de verdade tem que se maquiar e ajeitar o cabelo é um erro, visto que alguns produtos podem causar crises alérgicas ou danos na saúde mais graves. Neste período, muitos especialistas recomendam que estes só possam ser usado como brincadeira, nada a sério.
Se quer com que as crianças sejam responsáveis, tem que fazê-los a ajudar a dividir tarefas simples, como lavar um prato, botar as roupas de molho, fazer um prato de comida (nem que seja um sanduíche), ajeitar a cama ou colocar o lixo na rua. Isto pode ser feito tanto por meninas quanto meninos, visto que os seres humanos precisam ter responsabilidade desde cedo e isso lhe ajudaria a viver em comunidade. Pedagogos já falam que por volta dos 2 anos, a criança já começa a ter compreensão suficiente para aprender a cuidar daquilo que é seu.
A escola impulsiona aquela tradição dos tempos das nossas avós que eram 100% dedicadas a família. Enquanto isso, eu aprendi que tinha direito de não seguir essa regra. Minha avó trabalhava e dirigia um carro enquanto as irmãs eram donas de casa. Minha mãe e meu pai dividem as tarefas de casa, mostrando para mim que as meninas não precisam ter esse peso todo sozinha quando casarem e os maridos devem ajudá-las, principalmente quando estão sobrecarregadas com trabalhos, filhos e atividades da casa.
Não há problema nenhum em ser princesa. Porém, em uma realidade mundial em que 5 em cada 6 meninas afirmam que só são valorizadas por sua aparência, ou ainda que apenas 1% delas acredita ter os mesmos direitos que meninos, uma instituição para garotas poderia explorar outras disciplinas.
Queria uma escola que me ensinasse defesa pessoal para aprender os assédios, ensinar os diversos tipos de famílias (sim, você não é obrigada a casar com homens ou ser casada com alguém), sexualidade, ter amor próprio ao corpo e mente, parar de criar rivalidade com outras meninas, saber namorar pessoas que não te deixam para baixo, mostrar que posso trabalhar aonde quiser (mesmo que o mercado seja dominado por homens) e que ensinassem os garotos como se deve tratar igualitariamente as pessoas.
Meninas, não caiam numa instituição que obrigam a pensar na caixinha.
Deixe um comentário