Recentemente, um dos portais de notícias da capital potiguar acusou o Núcleo de Educação Infantil (NEI) de doutrinar os alunos para seguir um determinado partido. A escola é um órgão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que ensina filhos de funcionários e a comunidade durante o período da pré-escola.
Recentemente, o deputado federal Rogério Marinho (PSDB) realizou um pedido de investigação ao Ministério Público Federal acusando a escola de realizar uma “doutrinação ideológica”. De onde veio essa “ideia”?
Tudo começou quando houve a paralisação no mês passado dos funcionários e professores da universidade como uma forma de criticar a PEC 421, que já explicamos no blog. A proposta do Governo Federal prevê que o orçamento só seja aumentado de acordo com a inflação nos próximos 20 anos. Ou seja, a área de Educação receberia durante duas décadas a mesma coisa.
Então, os professores tiveram que explicar o porquê o campus universitário estava parado naquele dia. Em nota enviada à imprensa, a diretora do NEI, Teresa Régia Araújo de Medeiros, enfatizou que as atividades pedagógicas do Núcleo envolvem a participação do aluno, em uma permanente interação para a construção da cidadania.
“O modelo pedagógico do NEI reserva espaços para que, por exemplo, as próprias crianças votem os temas que serão abordados em sala de aula, de modo a exporem suas ideias a respeito do tema. No mês de setembro explicamos, à maneira delas, com a linguagem apropriada a elas, qual a razão da paralisação que ocorreria no dia 22. Não houve apelo partidário algum, mas sim um debate, como de costume, que procura gerar por si só o envolvimento dos alunos nas atividades”, colocou a gestora do NEI.
Nesta semana, alguns pais enviaram uma nota de repúdio sobre essas acusações. Além disso, esta semana alguns pais e professores fizeram um protesto contra as acusações enviadas à imprensa.
Cerca de 50 pais e mães, alguns com os filhos, se reuniram na frente da escola de educação infantil portando cartazes com dizeres como “Eu Apoio o Nei”, ‘Somos Todos Nei” e “Eu Amo o Nei”. A manifestação favorável à postura pedagógica da escola decorre de notícias veiculadas sobre o Núcleo “ministrar conteúdo partidário nas atividades escolares”.
Referência no estado em educação infantil, a escola de aplicação pedagógica da UFRN, vinculada ao Centro de Educação (CE). Funciona há 27 anos e oferta vagas para alunos entre 1 e 10 anos, atendendo atualmente a 342 alunos.
A nota pode ser lida a seguir:
NOTA DE APOIO AOS PROFESSORES DO NEI/CAp/UFRNQue escola é essa?
Que escola é essa onde se toca uma música infantil ao invés de uma sineta para sinalizar que está na hora de ir para a sala de aula?
Ah, essa é a escola que valoriza a música como atividade lúdica e por isso dá vez à lira ao invés do toque unilateral da sineta. Isso se chama sensibilidade;
Que escola é essa em que os professores e professoras, atentos aos saberes das crianças, promovem com elas a escolha do tema de pesquisa e meu filho chega em casa e comenta: “Mamãe, o tema das árvores não passou, só teve dois votos” (este era o tema que ele sugeriu). E continua: “os morcegos e as borboletas ficaram empatados e hoje vamos fazer nova votação para escolher qual tema vai ganhar”.
Ah, essa é a escola em que se ensina a criança que podemos decidir coletivamente e que devemos respeitar a decisão da maioria quando o nosso voto é vencido. Isso se chama Democracia;
Que escola é essa que diariamente promove um momento de relaxamento e meu filho chega em casa me ensinando como respirar melhor?
Ah, essa é a escola que considera que as crianças têm corpo e que este corpo precisa relaxar e a mente precisa se acalmar. Isso se chama aprender o autocontrole;
Que escola é essa que convida os escritores para contarem as estórias e promoverem oficinas de leitura e escrita com as crianças?
Ah, essa é a escola que considera a leitura e a escrita como práticas sociais de linguagem e que estão nos livros porque antes estão em nós, seres que convivem em permanente diálogo. Isso se chama interação;
Que escola é essa que promove o ensino de Língua estrangeira, dança e música, sem deixar de ensinar os conteúdos necessários ao conhecimento das linguagens convencionais?
Ah, essa é a escola que considera e respeita que somos seres múltiplos e com muitas potencialidades a serem exploradas. Isso se chama pluralidade cultural;
Que escola é essa que, em cada sala de aula, acolhe ao menos uma criança com necessidade especial de aprendizagem?
Ah, essa é a escola que respeita e compreende que todas as pessoas têm direito à educação de qualidade. Isso se chama inclusão;
Que escola é essa em que, além de prepararem semanalmente os seus planos de trabalho, a cada mês, os professores param para estudar e planejar coletivamente o processo de ensino e aprendizagem?
Ah, essa é a escola que considera que sempre nos formamos uns com os outros e que a constante troca de saberes e planejamento conjunto faz com que o trabalho tenha continuidade, conformidade e evolução. Isso se chama formação continuada;
Que escola é essa que sempre dialoga com os pais, estando permanentemente aberta para ouvir sugestões e críticas?
Ah, essa é a escola que considera a família o pilar mais estruturante da formação da criança e, por isso, sempre dialoga com essa família. Isso se chama respeito;
Que escola é essa que não confunde ser professor com ser babá?
Ah, essa é a escola que compreende e respeita o trabalho das babás, mas compreende que na escola os nossos filhos vão para vivenciar a escolarização do conhecimento e para se tornarem sujeitos capazes de pensar e ser responsáveis por seus atos. Isso se chama autonomia e responsabilidade pessoal;
Que escola é essa que tem tanto espaço para as crianças brincarem e que os professores fazem, a cada bimestre, um relatório individual de cada criança, abordando as várias fases do desenvolvimento delas?
Ah, essa é a escola que compreende que a criança se constitui no brincar e que cada um é diferente do outro. Isso se chama respeito às singularidades da infância;
Que escola é essa que também é laboratório?
Ah, essa é a escola que abre espaço para a formação de outros professores, pois é sabedora do seu papel de coformadora de novos professores, respondendo à sociedade a tarefa que lhe foi conferida. Isso se chama escola-modelo;
Que escola é essa que respeita tanto as crianças, que separa um tempo para explicar-lhes por que, em um dia em que deveria ter aula, essa aula não ocorrerá na escola, mas na rua?
Sim, essa é a escola que foi às ruas no dia 22 de setembro de 2016, convidou os pais a participarem do ato em defesa da educação pública e de qualidade. A escola, já sofrendo com cortes de verbas, não pode e não deve se isentar de mostrar à comunidade a sua real situação. Sim, professores e pais foram às ruas em defesa do Núcleo de educação da infância – NEI/CAp/UFRN – e nisso não há doutrinação, estimados natalenses e potiguares, nisso há responsabilidade e compromisso com a educação de qualidade das crianças que estudam no NEI. Nesse sentido, vimos a público defender essa escola, o NEI, e repudiar as afirmações levianas que foram feitas em blogs locais contra os professores, bem como denúncias feitas por alguém que não compreende que a escola não se sustenta no vazio, mas ela precisa necessariamente de verbas públicas para se manter e, ameaçada como está pela PEC 241, só resta, aos professores, com total apoio dos pais, bradar nas ruas e mostrar a nossa indignação.
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