Foto: Emilly Lacerda
“Faço alguma coisa ou outra na televisão, mas eu jamais vou me considerar um galã de televisão. Lá eu sou o cronista que falará de relacionamento, comportamento, política ou futebol”, essa foi uma das primeiras frases do jornalista Xico Sá, esse moço da foto acima, para centenas de alunos de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) numa noite de sexta-feira (13). Apesar da sexta-feira 13 ser considerada um dia mal-assombrado, podemos dizer que este foi diferente. Tivemos uma aula de jornalismo.
Fui como uma pessoa interessada em jornalismo e pela pessoa, mas os papos sobre a profissão me fizeram prestar mais atenção e para compartilhar aos meus leitores. Hoje, eu adoro comparar que o jornalismo está passando por um período similar à extinção dos dinossauros, sendo que o meteoro que os mataram se chama tecnologias digitais e muitos veículos, principalmente os donos, não estão sabendo renovar a sua empresa ou manusear a mídia digital. Assim, causando as demissões, fechamentos e desesperos dos jornalistas.
Foram discutidas as questões políticas, jornalismo (“profissão ingrata e maravilhosa”) e o profissional. O foco deste texto será sobre os dois últimos assuntos a ser citado.
Assim como eu, ele está questionando a função da nossa profissão e do nosso cenário político atual. Se não é nesse emprego, será a partir da mídia independente (principalmente nessa!). Ou seja, não estamos fugindo da briga.
Sobre a desilusão da profissão, ele disse que o jornalismo sempre foi algo árduo para trabalhar, mas que é possível mostrar a essência da profissão através da mídia independente e sem amarras políticas.
“O jovem jornalista, hoje, tem a vantagem de usar mais artifícios que a geração dos anos 80, que é a criação de um próprio jornal, canal no You Tube ou as redes sociais. Isso é uma grande história. São nesses locais que eu sou patrão, chefe de reportagem e pauteiro de mim mesmo. Na minha época utilizava mimeografo ou fazer pequenos jornaizinhos e não atingia tanto o público como hoje consegue com a internet”, apontou.
Além disso, as novas mídias são uma das formas de mostrar que existem vários lados para se contar a história e agora as pessoas não precisam tomar como verdade absoluta aquele fato contado no jornal. “Na época da Ditadura Militar, no golpe de 64, por exemplo, só existia o jornal Última Hora que falava das mazelas daquele governo. Se quisesse saber a verdade tinha que ler os panfletos que eram oferecidos”, analisou.
Agora, as pessoas, com a internet, possuem uma resposta mais imediata para saber o que estão falando seja verdade ou mentira.
De acordo com Sá, os impressos e as mídias atuais precisam ser mais sinceros com os leitores sobre a visão do dono da empresa, mas também trazer a opinião de outras pessoas que são contrárias aos pensamentos de origem do jornal/canal/rádio. Esse problema, no qual aponta, vem desde os grandes jornais das principais capitais brasileiras e até de pequenas cidades.
Apesar de incentivar o novo jornalismo, ele ainda não acredita que a mídia independente ainda garantirá a mesma quantidade de salário de repórter de redação. Sobre a redução do número de pessoas nas redações, ele comentou: “Situação nas redações é a mais precária possível. Não dá para fazer um trabalho legal fotografando, filmando e escrevendo ao mesmo tempo. Por isso, compromete o trabalho do jornal, mais defeitos e erros. É muita loucura. Todas as mudanças tecnológicas deveriam ser usadas para facilitar os nossos serviços e não para piorar.Infelizmente, eu não sei como sair dessa forma”.
Ele também recomendou que os novos jornalistas não se acomodem com apuração pronta e rápida: “Agora, a imprensa recebe as informações tudo pronta, não chegam a investigar profundamente os fatos. Cada jornalista deve recolher a sua informação a partir de diversas formas.”.
Em 2014, ele saiu da Folha de S. Paulo pelo fato da empresa não aceitar um texto em que fala de seu voto para as eleições gerais de 2014. “Eles até sugeriram que eu colocasse esse meu texto na parte dos leitores, mas porra eu era o colunista do jornal e estava comparando a política como torcida de futebol”, comentou.
O jornalista disse que não esperava o roçoio nas redes sociais e aproveitou para “rasgar os podres” de alguns locais em que trabalhou. “Sabia que seria um momento arriscado, inclusive físico. Era um momento importante de como funciona a imprensa no Brasil”, afirmou.
O cronista, inicialmente, contou a que a imprensa era meio contida sobre as opiniões pessoais dos jornalistas através das redes sociais, porém atualmente é difícil controlar o cidadão com a pessoa profissional. O próprio também tentava ser uma pessoa mais controlada quando começou a utilizar o Twitter e Facebook, depois começou a praticar “hábitos de coragem ou irresponsabilidade”.
“Uma das coisas que posso como cidadão e jornalista é mostrar como um jornal funciona. Quando você começa a contar de como é feito, muitas pessoas começaram a se desiludir com a profissão”, admitiu.
Em outros momentos da palestra, ele tenta ser o advogado do diabo da profissão e mostra que mesmo com todos os problemas é possível fazer um bom jornalismo. “O jornalismo é uma coisa que a gente entra nesse negócio e não sai mais. Nós temos as milhões de brechas para contar a nossa história. O importante é não se intimidar e muito menos só escrever em um único espaço.”.
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