O feminismo é um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens. Este existe desde o século 19. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias que advogam pela igualdade entre homens e mulheres, além de promover os direitos das mulheres e seus interesses. Não, ele não é de esquerda e nem direita, uma vez que existe feministas conservadoras, mas isso não é o assunto em questão. Texto feito para o Trabalho de Conclusão de Curso de Vanessa Dantas, estudante de design gráfico da Universidade Potiguar (UnP).
O feminismo sempre existiu em mim, não tive a conclusão por completo quando cheguei aos 20 anos. O feminismo me ensinou a me amar e não abaixar a cabeça para pessoa alguma. Nasci mulher, me identifico com uma, mas sempre desenvolvi o meu lado questionador. Questionava o porquê de os homens não gostarem de mulheres com maquiagem, preferir às magras, falar palavrão ou algo do tipo. Eles sempre queriam me colocar numa gaiola.
Ser mulher não é fácil. Não vou ser hipócrita, eu sei que cada uma tem as suas dificuldades e barreiras quando você vive em diferentes classes. Mas, eu quero falar do assunto comum: a desigualdade.
Apesar de finalmente conseguir o direito de trabalhar em algumas áreas e votar em que desejamos, ainda precisamos de muitas conquistas. Mulher ainda não ganha a mesma coisa que o homem (mesmo se eles tivessem o mesmo emprego e cargo), ainda não tenho a segurança de voltar para casa sozinha (chance de ser estuprada e morta), não tenho direito de opinar sobre sexo, as pessoas opinam com a roupa que uso e dentre outras coisas. Sem contar que estamos propensas ainda a ser submissas aos homens.
Mas, como eu me descobri feminista? Senta que lá vem história…
Eu vivo numa família de quatro pessoas, onde três membros são mulheres, que são eu, mãe e minha irmã mais nova. A minha mãe viveu numa família onde minha avó trabalhava bastante e com o seu esforço conseguiu abrir a sua própria mercearia. Vovó ensinou tanto a minha mãe como ao restante da família, cujas as irmãs (minhas tias-avós) eram donas de casa, que é possível ajudar com as contas da casa junto com o marido.
Então, dona Alice (minha mãe) desde nova estudou, arranjou um emprego público e se formou numa universidade federal. Apesar do machismo ditar as regras ainda naquela família, a semente do empoderamento foi plantada. Elas mostraram que era possível.
Seis anos após a formatura da mamãe, eu nasci no dia 1 de abril de 1993. Meus pais me permitiam ganhar Max Steel de presente, brincar de carrinho ou qualquer brinquedo, pois para eles brinquedos eram brinquedos. Apesar desse lado avançado, eles também tinham as suas “tradições”. Nunca fui uma criança totalmente obediente, sempre questionei as regras e tudo o que meus pais falavam. Cresci ouvindo essas frases:
“Mulher não deve falar palavrão”
“Lara, feche as pernas, pois mocinha não deve sentar com as pernas arreganhadas”
“Você precisa se valorizar para conquistar o rapaz”
“Espere o homem dar a iniciativa”
À medida que fui crescendo, eu percebi que se seguisse todas essas regras à risca passaria por sérios problemas. Na escola, eu sofri sérios problemas de bullying, tiravam sarro desde os meus cabelos cacheados, da pele parda, das espinhas que nasceram antes da hora e também do corpo rechonchudo. As palavras têm poder e elas machucam.
Por muitos anos, quando uma pessoa brincava ou fazia uma piada comigo, demorava muito para saber se foi ofensa ou não. Aquilo me machucava bastante, na escola dizia que eu era a garota mais feia da sala (muito bom para desenvolver a autoestima, só que não). Naquela época, o transtorno de ansiedade já demonstrava os seus primeiros sinais.
Para mostrar como não estou fazendo de vítima, na 5ª série, os alunos estavam na aula de ciência e no livro aparecia uma garota na foto e alguém comenta:
“Que garota feia!”
E um outro garoto comentou:
“Se essa menina for bonita, a Lara é bonita!”.
Apesar de machucar bastante, chorava escondido em casa e queria ser uma menina branca de cabelo liso e magra, eu sabia que se fosse alterar a minha natureza seria uma péssima escolha. Então, comecei a questionar os conceitos de beleza, não abaixar por padrões estabelecidos pelos garotos da escola e comecei a desenvolver a personalidade interna.
O Rock and Roll me ajudou a questionar os padrões. Aquela sensação de liberdade e ser eu mesmo, me estimulou a querer ser daquele meu jeitinho. Lá surgiram várias feministas que apareceram na minha vida, como Janis Joplin, Joan Jett, Doro Pesch, Grace Slick, Stevie Nicks e Chrissie Hynde. Todas elas queriam mostrar que elas eram capazes de fazer a mesma coisa que os homens fazem na cena musical. Então pensava: “É esse caminho que devo seguir”.
Assim como a baiana Pitty, depois que tive problemas com algumas amigas, achava que todas as mulheres eram as minhas inimigas. Então, eu comecei a andar só com garotos e achava que eles me protegiam do machismo e algo do tipo. Alguns me chamavam de puta por ficar abraçada com meus amigos, mas ignorava. Por isso foi fácil, eu começar a demonstrar iniciativa para poder namorar ou ficar com os meninos. Sim, meninas, vocês podem paquerar na hora que quiser.
Entretanto, as qualidades que os caras adoravam inicialmente, vira o sinal de abuso e começam a condenar todos os tipos de coisa, até se você fazer uma piada sem graça. Alguns chegam a ficar comparando o seu corpo com o daquela amiga gostosa. Cuidado quando estiver em um relacionamento abusivo, isso machuca toda a sua autoestima e demora anos para se recuperar, mesmo que arranje um outro namorado. Sei muito bem o que é um relacionamento abusivo de quase um ano.
Fuja desses caras, tenha empoderamento para saber a hora certa de fugir, agora posso falar com força de que eu sou melhor que eles e que tentaram me derrubar por ser uma pessoa de “sexo frágil”.
Foi assim que me descobri feminista.
Anos depois, eu percebi que eles também possuem os mesmos problemas que eu criticava tanto, visto que eles ficavam com medo de debater comigo sobre certos assuntos. Além disso, eles nunca entenderiam realmente o problema de ser mulher. Como assim, Lara? O preconceito de verdade é só sentindo na pele e não dá para discutir os sentimentos alheios, a não ser a própria pessoa.
Eles não poderiam me defender do assédio sofrido na adolescência, de um professor do colégio casado começar a dar em cima de mim depois que entrei na faculdade, ouvir psius na rua e outros xavecos nojentos ou piadinhas por ser mulher, principalmente quando faz alguma besteira no carro enquanto dirige.
Sim, amigas, mesmo que não goste do feminismo, você já ouviu e sentiu na pele. Não estou dizendo para você não ser “bela, recatada e do lar”, parar de ser amiga dos homens ou namorar apenas mulheres. Essa mensagem é para mostrar que vocês têm opções de serem o que quiser, mostrar o que estão pensando, parar de ouvir os outros e que vocês podem ser engenheiras, donas de casa, jornalistas e dentre outras profissões.
Não preciso ser legal e fofa para ser mulher ou ser mãe para ser mulher. Mulher não deve se submeter com que os outros vão dizer.
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