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Massacre de Orlando: Lutar pelos direitos gays não é mimimi

Essa sou eu vendo os noticiários do canal a cabo sobre uma cidade que visitei há nove anos, Orlando, nos Estados Unidos. O caso? Quando rolava o dia dos namorados no Brasil, um atirador homofóbico matou mais de 50 homens e feriu mais 50 numa boate chamada Pulse. Pior atentado desde o 11 de setembro.…

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Essa sou eu vendo os noticiários do canal a cabo sobre uma cidade que visitei há nove anos, Orlando, nos Estados Unidos. O caso? Quando rolava o dia dos namorados no Brasil, um atirador homofóbico matou mais de 50 homens e feriu mais 50 numa boate chamada Pulse. Pior atentado desde o 11 de setembro. O público-alvo da casa era o LGBT; Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros. Nas primeiras horas da manhã neste domingo estava apresentando a Roxxxy Andrews, uma das drags mais talentosas nos Estados Unidos e ex-participante do Rupaul’s Drag Race, que já falei neste blog. A cidade do estado da Flórida que era antes conhecido apenas pelos parques da Walt Disney, hoje é ligada por uma tragédia cotidiana intitulada de homofobia. Mais uma vez estamos em xeque.

Pulse, boate onde ocorreu o atentado em Orlando, EUA (Foto: El País)
Pulse, boate onde ocorreu o atentado em Orlando, EUA (Foto: El País)

Sou uma pessoa privilegiada por ser hetéro e não precisei sair do armário. O closet existe, pois o preconceito existe. Porém, eu ainda tive a sorte por ter conhecido o Setor II da UFRN, onde eles mostraram que toda forma de amor é válida, ser diferente é normal e ninguém é obrigado a ter um padrão, uma lição contrária à minha vida escolar, onde tinha que ser de um determinado jeito ou seria excluído da roda de amizade.

Apesar de ouvir várias vezes que “ser gay é errado” por alguns parentes, sempre discordei. A MTV foi uma escola para mim, como adolescente, em mostrar a realidade sobre a homofobia do país (Saudades Beija Sapo Gay), da importância de discutir sobre sexo e mostrar que não existe amor apenas por homem e mulher. Além disso, eu sempre questionei todos os tipos de ensinamento.

Aí vem o meu questionamento: Por que eu, que tenho um relacionamento heteronormativo, posso beijar e andar de mãos dadas em público enquanto um homoafetivo não? Por que os gays não podiam casar ? (o casamento no Brasil só é válido no registro civil) Qual é o erro de mostrar o amor? Por que você está me dizendo que isso é bizarro?

Os LGBTs se isolam e utilizam esses espaços como a Pulse, que fica numa cidade americana conservadora, para se sentirem confortáveis com a sua natureza (ser gay/bi/trans não é escolha, beleza?), poder amar o seu/a sua boy e se divertir. Se alguém invade um lugar, que na teoria, deveria ter paz, onde eles vão se proteger?

Alguns parentes comentarem que ele era um rapaz violento, homofóbico e colecionador de armas. O pai do autor do atentado declarou que ele tinha ódio aos gays. Na verdade foi um crime contra a liberdade das pessoas se expressarem a sua natureza. O que temos a ver com isso? O problema não é só nos Estados Unidos, mas no restante do mundo, no qual listarei algumas coisinhas a seguir sobre as terras tupiniquins:

1. Em 2013, um homossexual foi assassinado a cada 28 horas no Brasil.

2. Cerca de 70% dos casos dos assassinatos de pessoas LGBT ficam impunes.

3. O país teve 650 assassinatos homofóbicos ou transfóbicos em 2012 e 2013 e desde 2008 concentra quase metade do total de homicídios de transexuais do mundo, de acordo com o relatório da organização europeia Transgender Europe.

4. Estudo realizado em 501 escolas detectou que 80% dos alunos gostariam de manter algum tipo de distanciamento de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros.

5. Brasil é o país com a maior quantidade de registros de crimes homofóbicos do mundo, seguido pelo México e pelos Estados Unidos.

6. Nordeste é a região brasileira com o maior número de crimes homofóbicos registrados, sendo os estados da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas os que mais registraram crimes homofóbicos no Brasil em 2007.

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Fonte: Revista Brazil com Z

No Brasil, alguns portais de notícias chegaram a relatar sobre o assunto em Orlando, porém o mais chocante foram alguns comentários dos usuários, nos quais chamavam o assassino de herói, sugeriam colocar gasolina para eliminar essa “imundice” ou “um alívio para a família”.

Tem gente que diz que não quer ter filho LGBT por medo dele sofrer o preconceito na rua. Infelizmente, a sociedade quer ensinar aos gays que quanto mais discretos, mais protegidos serão, quando o correto é lutar pelos seus direitos de trabalhar, estudar, participarem da vida política, poder demonstrar o seu amor por alguém e serem respeitados numa rua do mesmo jeito que um casal heteronormativo. Por isso apoio as paradas existentes, pois ainda é necessário mostrar numa forma bruta (alguns chegam a manifestar de forma intensa sobre os mal tratos de religiosos, familiares, políticos e cidadãos. Precisamos ter mais Vivianes no Brasil) e divertida ao mesmo tempo a existência deles e como eles ainda estão escondidos em pleno período de avanços.

Com certeza algum amigo meu escutou esta frase:

“Pode ser gay, mas não pode ser afeminado”

“Não vá beijar o seu namorado na frente de todo mundo”

“Só não pode dar pinta”

Sabia que em 78 países ainda têm leis que proíbem um relacionamento homoafetivo? Um deles é a Guiana, país vizinho. Sabia que tem pena de morte para gays em Arábia Saudita, Irã, Iêmen, Mauritânia e Sudão? Pois é…São países de origem muçulmana. Assim como certos religiosos cristões mais radicais, alguns muçulmanos condenam a homossexualidade.

Se eu tivesse um filho gay, o que eu faria? Transformo as palavras de Lorelay Fox as minhas: “Respeite a existência ou enfrente a resistência”. Ou seja, vou ensiná-lo a lutar, a se amar em primeiro lugar e nunca esquecer de suas raízes quando os outros querem que tenha um determinado modelo.

Portanto, tragédias como essa na cidade americana deveriam estimular discussões nas escolas, universidades, trabalhos e palestras. Conheço familiares e amigos que são excluídos em festas ou celebrações por serem “considerados uma vergonha”. Moram em outras cidades para não depender da opinião alheia. Outros estão nas ruas, pedindo esmolas, prostituindo e vivendo em condições animalescas.

Parada Gay de Nova Iorque
Parada Gay de Nova Iorque

O caso aconteceu nos Estados Unidos, mas todos os dias o público LGBT recebe diversos tiros de metralhadoras por cada coisa ouvida de líderes religiosos em programas da noite, reproduzidas pelos seguidores e criando ódio gratuito. O momento é o mês de junho, mesmo mês do Orgulho Gay. Após a luta de Harvey Milk em São Francisco na década de 70, mostra que ainda temos muito a avançar na luta contra a desigualdade.

A comunidade gay ainda irá ter seus dias especiais em parques temáticos, festas em boates voltadas para este público, pacotes de turismo especiais e manifestações para que se sintam seguros. Mas, agora essa proteção está em xeque. Mesmo vivendo em um dos países onde os LGBTs conseguiram alguns dos direitos necessários, ainda há o que lutar para que todos possam conviver num perfeito estado de equilíbrio.

Termino essa frase com o artigo de David Alandete para o El País:

Em algum momento no futuro será preciso ir mais além: se de verdade houvesse aceitação e normalidade social não seriam necessários os milhões de bares que há no mundo, como o Pulse, um lugar no qual foi tão fácil cometer um massacre. Os gays deveriam poder mostrar-se como tais onde quer que fosse, sem medos, sem riscos, sem agressões.

Comentários

2 respostas para “Massacre de Orlando: Lutar pelos direitos gays não é mimimi”

  1. Paul

    O problema não é o mimimi, o problema é culpar a sociedade errada. Quem promove homofobia é o mundo muçulmano, não o cristão, mesmo assim, as pessoas insistem em culpabilizar o ocidente ou objetos inanimados.

    1. Lara Paiva

      Quem promove a homofobia não é o muçulmano. Mas, quem promove a homofobia são pessoas que se dizem religiosas e são carregadas de preconceito. Para piorar a situação, eles influenciam de pessoas carentes para expandir esse preconceito. Acredito que o texto está bem claro nisso

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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