O dia 31 de março e o 1º de abril é um momento que as pessoas deveriam primeiramente relembrar das vidas que foram mortas durante a Ditadura Militar. Primeiramente, nós falamos da morte de Luís Maranhão e também de vários assuntos sobre este tema. Recentemente, visitamos a ocupação Emmanuel Bezerra, no qual pessoas ocuparam a antiga Faculdade de Direito da UFRN. Mas, afinal, quem foi este estudante da instituição de ensino?
Filho de pescadores, ele entrou na militância ainda jovem
Emmanuel nasceu São Bento do Norte, no dia 17 de junho de 1947. Portanto, não veio da elite, como muitos estudantes da UFRN, visto que o acesso ao ensino superior era difícil. Na época, ele morava em Caiçara do Norte, distrito de São Bento. Em 1961, para ter uma vida melhor, mudou-se para a Casa do Estudante. Inicialmente, ele estudou no Atheneu e lá começou a sua militância.
Ele fundou com outros colegas, funda o jornal “O Realista”. As denúncias sociais eram o principal morte do jornal. Sua carreira como jornalista não terminou, visto que após o término da escola, já na época da ditadura militar, no entanto, fundou “O Jornal do Povo”, cujas publicações tinha representantes de diversos municípios.
Vida na UFRN
No ano de 1967, ingressou na Faculdade de Sociologia da Fundação José Augusto, onde atuou no Diretório Acadêmico “Josué de Castro”. Foi eleito presidente da Casa do Estudante, onde moravam os estudantes pobres do interior e que mais tarde serviria de trincheira de luta do movimento estudantil (secundaristas e universitários) de Natal. Foi delegado junto ao 29º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em São Paulo.
Em 1968, tornou-se diretor do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo papel de liderança no movimento estudantil universitário. Também organizou a bancada dos estudantes potiguares para o 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), onde foi preso e logo depois expulso da universidade.
Em 1966, entrou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e se tornou um dos principais articuladores nacionais. Em 1967, deixou o PCB para entrar no recém fundado Partido Comunista Revolucionário (PCR).
Emmanuel é preso (dezembro de 1968), após instauração do AI-5. Além disso, o militante cumpriu pena até outubro de 1969 em quartéis do Exército, Distrito Policial e finalmente na Base Naval de Natal. Libertado, o estudante imerge na clandestinidade, indo atuar politicamente (já como dirigente nacional do seu partido) nos Estados de Pernambuco e Alagoas.
Nesse período, realiza viagens ao Chile e Argentina em missão do partido, ainda mais buscando aglutinar exilados brasileiros à luta em desenvolvimento no país.
Sua morte
Emmanuel Bezerra dos Santos morreu em 4 de setembro de 1973, junto a Manuel Lisboa de Moura, na cidade de São Paulo. De acordo com a versão oficial, tanto Emmanuel quanto Manoel foram mortos em um tiroteio com agentes policiais. Emmanuel retornou ao Chile há pouco tempo.
Então, os policiais montaram, por conseguinte, uma emboscada aguardaram a chegada de Emmanuel. Ainda de acordo com esta versão, logo após o avistarem, deram-lhe voz de prisão e, neste instante, ele teria atirado nos agentes. Como resultado, os militares reagiram, desferindo tiros na direção dos dois. Emmanuel e Manuel estavam mortos quando estavam sendo levados para o Hospital de Clínicas.
Uma segunda versão de sua morte
Emmanuel e Manoel foram presos em Recife, no dia 16 de agosto de 1973. Posteriormente, os militares conduziram os presos ao DOPS de Pernambuco, sendo torturado por vários dias. Depois, foi transferido para São Paulo, pelo policial Luiz Miranda e entregue ao delegado Sérgio Fleury. Na capital paulistana, torturaram Emmanuel até a morte no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI-SP), quando o mutilaram, arrancando-lhe os dedos, umbigo, testículos e pênis.
Seus corpos foram enterrados inicialmente como indigentes
A sua necropsia foi realizada pelo médico Harry Shibata, que assinou o laudo sem examinar o corpo e ainda mais omitiu todas as marcas de tortura presentes em seu corpo. Fotografia recuperada pela Comissão da Verdade mostra Emmanuel já morto e muito machucado.
Ficou evidente a violência sofrida no DOI-CODI. Seu olho esquerdo estava inchado, seus lábios também machucados, havia ferimentos em seu rosto, seu nariz aparecia quebrado e em volta do seu pescoço estava feito um colar de morte, marcado com ferro em brasa. Emmanuel Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura foram enterrados como indigentes no Cemitério de Campo Grande, em São Paulo.
Só acharam os restos mortais nos anos 90
Em 13 de março de 1992 seus restos mortais foram exumados, periciados e identificados pela equipe de legistas da Universidade de Campinas (UNICAMP). Trasladados para Natal em julho de 1992, a ossada seguiu em cortejo para São Bento do Norte, com uma grande comoção da comunidade local. Seu corpo encontra-se no Cemitério Público da cidade.
Emmanuel recebeu diversas homenagens, uma delas é que seu nome agora é rua no bairro de Pitimbu, em Natal.
Além disso, Emmanuel ganhou um livro com seu nome “Emmanuel vida e morte”. A obra, feita por diversos de seus amigos de infância, familiares e colegas, é um diário vivo de como era ter vivido com o estudante e o que ele representava para cada um.
Atividades artísticas
Além de militante político, Emmanuel era uma pessoa voltada para a arte e cultura, uma vez que participou dos movimentos artísticos desenrolados na capital Natal. Rabiscou seus primeiros poemas adolescentes ainda na sua longínqua Caiçara do Norte. Apesar das atribulações da vida clandestina, foi possível, portanto, salvar alguns dos poemas de sua autoria.
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