Há cinco anos postei algo sobre onde ficava o Cabaré de Maria Boa e nesta semana, cinco ano depois, descobri que se fosse viva completaria 100 anos essa semana. A dona do bordel mais famoso da cidade deixou a vida terrena há 23 anos, mas está na história dos potiguares. Você deve conhecer algum primo, pai ou parente que tenha frequentado o local ou tenha perdido a virgindade por lá.
Antes de surgir o “Sol e Lua” (sensação das lives do Seridó), “Senzala”, “Nira Drinks“, “Vero’s”, Maria Boa afrontava a sociedade potiguar extremamente católica.
Maria Boa, potiguar de coração
Embora faça parte da história do Rio Grande do Norte, Maria Boa é natural de Remígio, perto de Campina Grande, na Paraíba. O seu nome de batismo é Maria Oliveira de Barros. A vida na prostituição surgiu após uma desilusão amorosa, no qual o rapaz a deixou por não querer casar. Por isso, foi levada para João Pessoa.
Foi na sua infância em Campina Grande que surgiu o apelido de “Maria Boa” , dado por um dos fregueses do pai feirante, por conta do seu atendimento gentil, embora as pessoas tenham levado para o lado malicioso.
De João Pessoa, ela foi parar em Natal, a fim de trabalhar em um bordel na Ribeira. Após a sua saída da boate, Maria Boa resolveu montar o seu próprio bordel, onde foi bastante requisitado pelos americanos durante a Segunda Gurra Mundial.
Além disso, os relatos contam que Boa contratava as mulheres mais bonitas para trabalhar. Elas eram lindas e elegantes, muitas vezes vindas de outros estados. Virou um point não só para aqueles que queriam uma noite quente, mas também para reuniões de empresários.
Era também o local que tinha as melhores comidas, bebidas e cigarros da região. Lá também foi a origem do termo galado, virando uma gíria mais popular dos natalenses.
Um avião na Segunda Guerra em sua homenagem
Se tornou uma grande lenda não só em Natal, mas também na Segunda Guerra. Um dos aviões B-25 dos aliados foi batizado com o seu nome e outros tiveram a sua imagem. Sua fama corria mundo, tanto que a casa virou um importante ponto turístico da cidade. A foto acima está o avião.
Inicialmente dizia que este avião pertencia aos americanos, mas uma pesquisa do jornalista Leonardo Dantas, um grande estudioso de aeronaves da Segunda Guerra, mostrou portanto que pertencia a Força Aérea Brasileira (FAB).
Ainda foi tema de filme
O Cabaré de Maria Boa também serviu cenário de filme. Em 1997, no ano ano em que faleceu, o seu bordel foi retratado no filme “For All – O Trampolim da Vitória”, de Buza Ferraz e Luiz Carlos Lacerda. Amplamente elogiado pela crítica especializada.
Sem contar que recebeu os prêmios de melhor filme, melhor roteiro, melhor trilha sonora, melhor direção de arte e melhor filme do júri popular no Festival de Gramado, e melhor filme, melhor ator e melhor direção de arte no Festival de Miami.
Cabaré funcionou até a década de 90
Mesmo com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Cabaré de Maria Boa era bastante frequentado pelos natalenses, as pessoas realmente iriam ao local como ponto de encontro. Se pesquisar no Google, é normal você ver textos sobre o lado culto de Maria, que adorava bons livros, cinema e tinha ideias bastante progressistas.
Um de seus passeios favoritos era ir às livrarias. Além disso, as suas vestimentas e joias eram motivos de burburinhos na cidades, visto que gostava de se vestir o melhor da Moda. Achamos um registro de 1993 da empresa com uma foto de Maria e mostra que mesmo na terceira idade, ela era uma mulher elegante.
O cabaré funcionou até o final dos anos 90, quando Maria Boa faleceu aos 77 anos em julho de 97, depois de ficar dias internada na Casa de Saúde São Lucas devido ao Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Onde fica o Cabaré
Hoje o cabaré não existe mais. Ele ficava no bairro de Cidade Alta, na rua Padre Pinto, próximo da sede da Cosern, a companhia de energia de Natal. Hoje, é um terreno baldio e fica próximo de um prédio residencial, conforme falamos nesta postagem aqui.
Um quadrinho para falar de Maria Boa
O ilustrador potiguar Aureliano Medeiros, conhecido pela página “Oi Aure“, realizou no ano de 2013 um quadrinho contando a história de Maria Boa. Na época, a HQ foi desenvolvida para um trabalho da faculdade de jornalismo e apresentada ao Intercom, maior congresso brasileiro especializado em Comunicação Social.
Deixe um comentário