“Eu quero doar meu corpo para pesquisa”. Com certeza você já ouviu essa frase de alguém que não quer ser enterrado e muito menos cremado. Mas, você sabia que pode seu cadáver em nome da pesquisa? Sim, possível doar o corpo em Natal. Desde a década de 80, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) conta com o Programa de Doação de Corpos, sob a responsabilidade do Departamento de Morfologia (DMOR), o qual visa a garantir aos alunos dos cursos da área da saúde a vivência de uma experiência empírica o mais perto possível da realidade.
O DMOR é dividido em três disciplinas básicas: estologia, que trabalha os tecidos e as células; embriologia, que trabalha a formação do indivíduo desde o embrião até a fase fetal; e anatomia macroscópica, que estuda as estruturas do corpo. É desta última que depende o programa de doação de corpos. Em média, 800 alunos são atendidos por semestre, a exemplo dos estudantes de odontologia, medicina, nutrição, fisioterapia e educação física.
Embora exista simulacros, os modelos artificiais representam cerca de 20% da realidade do corpo humano. Por isso, ele destaca a importância da doação de corpos para estudos científicos e para a formação profissional na área de saúde.
Atualmente, a UFRN possui 12 corpos armazenados em formol. Destes, cinco são corpos não reclamados e os demais, oriundos do programa de doação de corpos. Isso mostra que cada vez mais as pessoas se sentem à vontade em relação ao assunto.
Semestralmente, a UFRN homenageia simbolicamente os doadores de corpo por meio da realização da Missa em Homenagem aos Doadores Anônimo. Nos últimos cinco anos, houve um aumento no número de doações do sexo feminino, que representa cerca de 60% dos corpos disponíveis atualmente. Ele ainda acrescenta que o departamento raramente recebe corpos jovens. A faixa etária é entre 60 e 70 anos.
A legalização do processo de doação de corpos para fins de estudos surgiu a partir da Lei nº 8.501 de 1992. Apesar da lei, os pesquisadores não podem receber corpos oriundos de mortes violentas/criminosas e infectocontagiosas. A Legislação considera que, no caso de morte violenta, o corpo é uma peça importante no processo da investigação policial, sendo assim, prova de um crime; e, no caso das vítimas de moléstias contagiosas, há a possibilidade de contaminação por intermédio do corpo proveniente de uma dessas doenças.
Nos últimos anos, a UFRN tem trabalhado na conscientização das pessoas acerca da importância da doação de corpos. Campanhas, matérias jornalísticas, palestras e outras formas de comunicação têm sido usadas visando a esclarecer as pessoas acerca do Programa de Doação de Corpos.
O trâmite da doação é simples. Depois da decisão, com o formulário de interesse e os documentos em mãos, o doador deve se dirigir ao Departamento de Morfologia, onde recebe um cartão de doador e passa a fazer parte do banco de doação da universidade. Apesar de a pessoa assinar, em vida, o Termo de Doação de Corpo, o representante legal, após sua morte, é quem decide o encaminhamento do corpo. Por isso, ressalta que o doador deve estar ciente de que precisa, ainda em vida, comunicar o seu desejo à família.
Após o falecimento, a família pode fazer as cerimônias religiosas e, se necessário, a universidade cede a capela do campus para os ritos religiosos. Logo após a cerimônia, o corpo é encaminhado à Universidade e, a partir desse momento, não há mais visitação. Apesar de não ter a possibilidade de uma visitação aos laboratórios, a universidade mantém túmulos no Cemitério Parque de Nova Descoberta, nos quais os corpos são sepultados após o processo de estudo.
Por último o professor explica que, ao contrário do que muitos pensam, é possível doar os órgãos e o corpo. Uma doação não anula a outra. Portanto, mostrando que é possível doar o corpo em Natal.
O corpo tem tempo indeterminado de durabilidade e uso, a depender do desgaste causado pelo manuseio. Na UFRN, por exemplo, há corpos que chegaram na década de 70 e, quase 50 anos depois, são mantidos no formol, o que torna o tempo de “vida” indefinido.
Ainda assim, ciente da importância da conservação das peças anatômicas e, também, da dificuldade em adquiri-las, as instituições, de maneira geral, têm buscado utilizar técnicas que propiciem uma maior durabilidade.
Na UFRN, o Departamento de Morfologia pretende implantar, nos próximos meses, a técnica de Plastinação, um método de preservação de espécimes biológicos que deixa a peça anatômica o mais próximo possível de sua aparência em vida. A técnica foi criada pelo médico anatomista Gunther von Hagens, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, em 1977. Nesse processo, os exemplares são envoltos por um polímero, que pode ser o silicone, epóxi ou poliéster, evitando, dessa forma, o uso de soluções conservantes como o formol. Além disso, a técnica ainda evita que estudantes, professores e técnicos tenham contato direto com a substância.
E, agora, você sabe que é possível doar o corpo em Natal para pesquisa?
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