Quando Rodrigo Lima criou o Dead Fish em 1991, a democracia brasileira estava de volta após 21 anos do Golpe Militar, o governo de Fernando Collor apavorava todas as classes sociais e os movimentos sociais estavam de volta as ruas. Após 28 anos, as manifestações públicas e os direitos políticos estão em ameaça de extinção, principalmente com a volta dos pensamentos ultraconservadores e a ascenção de Jair Bolsonaro a presidência da República. A caixa de Pandora abriu com todos os males do brasileiro, como o saudosismo ao Golpe Militar, valorização do jeitinho brasileiro, fim de sindicatos trabalhistas e perseguição às minorias. Agora todos estão querendo responder a seguinte pergunta: Como seguir mantendo firme com a resistência ?
Nesta semana, Lima esteve com o grupo para a apresentação no Garage Sounds, na Arena das Dunas, e na noite desta segunda-feira (29), ele se reuniu com integrantes do coletivo Artistas Potiguares Antisfascista para discutir o Bolsonarismo no poder. Poderia ser um tema batido e fazer a esquerda dá uma outra volta no círculo, porém todos concordaram que deveríamos parar de “criar teorias para acabar com o fascismo no Brasil e colocá-las na prática”.
Dentre essas atividades que foram postas em prática está o mais novo disco do Dead Fish, “Ponto Cego”, marcando a volta do grupo ao selo Deck Disc, que abertamente falou o que eles estavam achando sobre esse Brasil 2019 e perto de entrar numa nova década. É um disco de tom explicitamente político que prega resiliência em letras que, com virulência punk, aludem a acontecimentos recentes da história social e política do Brasil. Alguns críticos da mídia especializada falaram que é uma revival aquele punk vindo das bandas dos anos 80, como Plebe Rude. Vide a letra de “Apagão”, cuja um trecho será exposto a seguir:
Fez-se o tumulto
E a desinformação
Daí surgiu a oportunidade
Se instala o medo
E a insensatez
Que não aflige quem tem muro e gradeQuando alguém vier bater
A sua porta a noite
E não tiver a quem recorrer
Como será?Quando o discurso
É posto em ação
Daí talvez já seja muito tarde
No ponto cego
O grito é em vão
A vida tem suas fatalidades
“A gente recebeu opinião de todos os tipos com discos. Ouvi dizer de gente próxima de mim que o disco era panfletário e estava sendo vendido”, lamentou o Lima em reunião com os artistas antifascistas da cidade. Em uma conversa informal, descontraída e com igualdade, eles discutiram sobre as atividades que realizaram para atingir a mensagem para a comunidade o perigo de ter um governo autoritário. Rodrigo comentou um pouco da origem do Hardcore Contra o Fascismo, evento que ele participou na organização e atraiu milhares de pessoas ao Largo da Batata em São Paulo, novo ponto para as manifestações políticas de esquerda.
De acordo com o cantor, tudo começou a partir de ver bandas de rock e alternativas, de modo geral, começarem a aderir o discurso conservador nos seus trabalhos. “Vou aos shows de punk desde os 14 anos em Vitória e nunca vi tanto avanço dessas bandas para trás”, lamentou o músico. Porém, esse “incômodo” também atingia outros músicos e produtores que tinham as origens políticas atreladas em suas veias. Assim, bandas de diversos bairros de São Paulo resolveram se unir em um evento para divulgar a sua mensagem progressista, além de divulgar o seu som. Assim, nasceu o “Hardcore Contra o Fascismo”.
Era um festival feito de forma colaborativa. De acordo com o UOL, o palco das apresentações eram montadas com pequenas caixas de som, microfones e instrumentos colocados no chão. Passagens de sons rápidas preparavam o espaço para shows igualmente curtos, que não duravam mais de 15 minutos. Além do Dead Fish apresentaram-se: Desalmado, Surra, Mar Morto, Black Jaw Dancers, Dinamite Club e Bernie. Entre um show e outro, discursos de ativistas veganos, feministas, estudiosos de esquerda e, claro, músicos.
O sucesso do show foi tão grande, que tiveram edições em outros estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Norte.
Porém, Rodrigo Lima contou que fazer o show foi uma forma de resistência, visto que houveram muitas dificuldades em fazer, incluindo intimidação dos militares. “Começamos na internet, discutindo o avanço de bandas conservadores e vimos a necessidade de colocar as nossas pautas na rua. A polícia, quando soube do Hardcore Contra o Fascismo, nos chamaram para uma reunião, sabíamos que era uma forma de intimidar. Na reunião, a gente filmou tudo e eles o tempo todo tentando convencer a não fazer o show, colocar empecilhos e a gente dizendo que ia fazer, resistindo mesmo”.
Com o sucesso do show, as pessoas ficaram empolgadas e começaram a discutir formas de impedir a vitória de Jair Bolsonaro. Porém, o Rodrigo Lima reconhece que a eleição as pessoas estão com medo e desperançosas. “Precisamos ampliar a nossa voz. Sair da teoria e colocar as nossas ideias na prática, precisamos furar a bolha e dialogar cada vez mais com a sociedade”, relatou.
Durante a reunião, ele estimulou as pessoas não desistirem de eventos como Hardcore Contra Fascismo e criarem novas alternativas, mesmo diante das dificuldades.
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