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Como a Ray-Ban caiu nos gostos dos natalenses

Um ato interessante dos natalenses, independente de ser classe média ou classe média alta, é fazer um próprio censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a partir da utilização das coisas. Ou seja, a gente julga se o outro é rico a partir dos objetos que ele consome. Se ele tiver usando um…

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Um ato interessante dos natalenses, independente de ser classe média ou classe média alta, é fazer um próprio censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a partir da utilização das coisas. Ou seja, a gente julga se o outro é rico a partir dos objetos que ele consome. Se ele tiver usando um carro 0 km de uma marca estrangeira, ter uma casa em um bairro nobre e usar roupas de grife, provavelmente, na visão de muitos habitantes, é “rico”. Mas, de onde veio esse hábito?

Uma das influências vieram com a chegada dos americanos durante a Segunda Guerra Mundial, já falada no Brechando em algumas matérias e nesta semana falará de mais um assunto interessante sobre o assunto. Uma delas foi a chegada da grife Ray-Ban no Brasil, que até hoje é considerado um artigo de luxo para muitos papa jerimuns.

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Os americanos vieram para Natal no ano de 1943, mas uns seis anos antes surgiu a grife Ray-Ban, no qual os natalenses foram os primeiros a experimentar.

Alguns anos antes da sua criação, o tenente John MacCready retornando de uma aventura aérea em um balão reclamou que o sol tinha irritado e danificado a retina dos seus olhos. Ele contatou em Nova Iorque a famosa loja e fabricante de óculos Bausch & Lomb, pedindo-lhes para criar óculos elegantes e que desse proteção aos seus olhos contra os raios solares. E dessa característica surgiu o nome da marca, a mistura do termo em inglês raio (Ray) e as três primeiras letras da palavra banir (Bannish). Em 7 de maio de 1937, a Bausch & Lomb registrou a patente.

Os pilotos da Força Aérea dos Estados Unidos imediatamente adotaram os óculos de sol devido a estas características. Por isso, alguns o chamam de óculos de aviador.

O óculos aviador, queridinho dos natalenses na Segunda Guerra (Foto: Life)

Foi nesta época que os natalenses conheceram os americanos e ficaram apaixonados por estes óculos. Claro, eles queriam consumir estes produtos. O cotidiano norte-americano é trazido para Natal com uma forte imagem de povo dominante, cultura rica. Com a chegada dos estrangeiros, a população natalense aumentou em 20%, o que mudou drasticamente os hábitos locais.

Os gringos trouxeram na bagagem o jazz, a coca-cola, o chiclete, as camisetas coloridas, o ray-ban, o jeans, o Lucky-strike, a calça slack – que os natalenses chamavam “de sileque”, o hábito de tomar cerveja na boca da garrafa e colocar os pés nas mesas dos bares. Neste período, jornais, como a República, reforçavam como os hábitos dos americanos eram importantes para os brasileiros.

De acordo com Carmem Daniella Spínola da Hora Avelino, em seu artigo, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) de Getúlio Vargas, no período que gerenciava o Estado Novo (lê-se Ditadura de Vargas), inicialmente, recomendavam que os jornais e imprensa tivessem uma postura mais neutra com os americanos que estavam instalados em Natal.

Naquela época, o jornalismo na Segunda Guerra Mundial – assim como a Primeira, era totalmente descritivo e generalista, baseado em fatos e comentários. Essa tendência ficou conhecida nos Estados Unidos como he said journalism, ou seja, o jornalismo das declarações, que deixava de lado a análise, a contextualização, a interpretação e até a investigação.

Lá eles ressaltavam que era muito interessante os hábitos dos americanos e as pessoas foram aderindo. Foi assim que criamos uma sociedade consumista, uma semente futura do “American Way of Life”. É muito comum ouvir as pessoas desesperadamente quererem um óculos aviador em pleno ano de 2017.

Por incrível que pareça, a ascensão do Ray-Ban não aconteceu em Natal. Durante a década de 50, mais precisamente em 1952, o designer Raymond Stegeman criou o modelo Wayfarer construído com armação de plástico e com um desenho inspirado em carros com traseira rabo-de-peixe, muito comum na época. Raymond Stegeman vendeu o protótipo para a B&L que registrou a patente como Ray-Ban Wayfarer.

Os Wayfarers obtiveram grande popularidade na década de 1950 e 1960, especialmente após de terem sido usados por Audrey Hepburn, em 1961 no filme “Bonequinha de Luxo” e principalmente por serem usados por Jacqueline Kennedy, a primeira dama dos Estados Unidos.

Após o período de sucesso nas décadas de 50 e 60, o Wayfarer caiu no esquecimento nos anos 70 e quase ficou fora do mercado. Nos anos 80, a Ray-Ban resolveu investir no modelo novamente com a inserção em vários filmes de Hollywood e deu certo. Na década de 80 os óculos voltaram a ser destaque de moda e vendas, principalmente com a vinda de filmes de guerra, como “Top Gun”, que foi um sucesso estrondoso em Natal.

Em 1999 foi comprada pela empresa italiana Luxottica por U$$ 640 milhões.

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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