O conheci na faculdade de jornalismo, na UFRN. Ele era o “professor” dos alunos que queriam apresentar e fazer reportagens dos programas que faziam parte do “Projeto Tela Livre”. Inicialmente, a conversa era bem “profissional” até descobrir que tínhamos trocentos amigos em comum e que ele estudou no Ensino Médio com meus amigos.
Depois disso foi fazer pauta sobre economia que não entendíamos nada, chá de cadeira com artistas chatos, questionar sobre o motivo do outro fazer concurso público, acompanhar a sua vida de cineasta e dentre outras coisas. Uma coisa tenho certeza: esse ano foi de Henrique e nada como fazer uma matéria especial de Natal. Enquanto para alguns, este ano foi tenebroso.
A matéria foi recheada de pisca-pisca, músicas lacradoras e risadas. Afinal, o Natal é o motivo de celebrar o nascimento.
O seu curta “Ainda Não Lhe Fiz Uma Canção de Amor” rodou por Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Rio de Janeiro, Maranhão, São Paulo e dentre outros lugares do Brasil. Além disso, conquistou algumas estatuetas. Pois é, a história do casal Greg e Alessandro foi contada em vários lugares da terra, fazendo com que muitas pessoas do LGBT se sentissem representadas.
“Quero fazer mais filmes voltados para esta temática. No ano que vem pretendo fazer um novo curta, que vai seguir uma temática parecida com o “Ainda”, tenho roteiros feitos, mas eu não sei como irei trabalharei ou angariar recursos, pode ser em edital ou financiamento coletivo”, afirmou o jornalista cineasta.
A vida de cineasta sempre esteve em Henrique, mas preferiu fazer jornalismo por na época não ter cinema na UFRN. Isto, contudo, não foi um grande problema, pois estudou bastante a parte do audiovisual dentro da faculdade e seu TCC foi um curta. “Não me arrependo em nenhum momento ter feito a faculdade, meu período acadêmico foi todo no audiovisual e hoje trabalho com duas coisas que eu amo: jornalismo e o cinema.”.
Tudo começou em 2014, quando Henrique inscreveu um roteiro para o Cine Natal, organizado pela Fundação Capitania das Artes (Funcarte), órgão da Prefeitura do Natal. Mesmo com a rotina maluca de redação, ele resolveu fazer um filme inspirado numa canção do cantor e compositor Luiz Gadelha.
Foi através de uma campanha de site de financiamento coletivo que surgiu o “Ainda Não Lhe Fiz Uma Canção de Amor”. A intenção era unir a música e mostrar que um relacionamento LGBT também tem as suas complexidades. Após alguns meses de gravações, o mês de novembro foi a estreia.
“Inicialmente, ele estreou em um festival na cidade de Caruaru e depois resolvi fazer uma estreia aqui em Natal”, relatou.
Depois disso, ele entrou de férias do trabalho, comemorou o Natal em Recife, o ano novo com os amigos jornalistas e estava cheio de vontade de trabalhar e lançar o seu curta para o mundo inteiro.
Assim como um filme, a vida muda e traz um plot twist, uma reviravolta maluca mesmo, após sair de um evento, no seu último dia de férias, ele estava descendo do ônibus, quando foi baleado após um assalto. “Eu denomino este período como janeiro tenso”, contou Henrique.
Naquele mês, ele teve que ficar internado no hospital, passou por cirurgia e uma mistura de momentos tomou conta, como medo de morrer ou ser uma pessoa dependente dos outros. Mas, ele conseguiu virar o jogo e sambou na cara da violência urbana. Assim que recebeu alta, a vontade de espalhar o seu filme para os festivais cresceu mais de oito milhões de vezes.
“Cheguei em casa, abri o computador e fui pesquisar todos os festivais de cinema que teriam no Brasil. Então, eu comecei a inscrever o ‘Ainda’”. Além disso, as coisas mudaram para melhor, mesmo o cenário brasileiro mudando drasticamente, ele começou a fazer coisas que não faria, como colocar brinco, andar de saia pela rua, entrevistou mais pessoas do meio cultural, se ama mais, fez tatuagem e dentre outras coisas, começou a valorizar para valer a vida.
Sobre os festivais? Ele conseguiu sim. Dois meses após sair do hospital, ele foi ao Maranhão, onde ganhou o primeiro prêmio. A estatueta em forma de boi está em um lugar importante de sua sala de estar, junto com o seu tapete de claquete.
Depois disso ele não parou mais, passou no Rio de Janeiro, onde fez palestra na sede do BNDES e conheceu o Cristo Redentor. Pisou na terra da Garoa, São Paulo, onde participou da 23ª edição da Feira Mix. “Nessas cidades eu conheci muitos diretores, roteiristas e atores que era bastante fã, no qual agora troco roteiro, dicas e fico conversando sobre os mais diversos assuntos”, disse.
No Piauí, ele foi parar na cidade de Floriano, no 11º Encontro Nacional de Cinema e Vídeos dos Sertões, no qual ganhou quatro prêmios. A trilha sonora do “Ainda Não Lhe Fiz Uma Canção de Amor” ganhou o prêmio de melhor trilha sonora, desbancando a Maria Gadú, que estava concorrendo nesta categoria com uma outra produção.
“Pintando o mapinha, eu sei que ele [o filme] não rodou todos os estados brasileiros, mas ele andou para muitos lugares que nem eu mesmo imaginaria”, vibrou. Hoje, os prêmios são exibidos na sala de estar, junto com a decoração natalina, como uma forma de resumir o que foi 2016 para ele.
Sobre o festival de Piauí, ele ficou com receio do filme ser boicotado na cidade por conta da temática, mas foi algo que surpreendeu. “Algumas idosas que estavam na plateia vieram à mim e me parabenizaram. Além disso, por causa do filme, cheguei a conhecer um rapaz que faz performance de drag queen na cidade.”.
Mas, calma, a vida do Henrique não parou de ter plot twist. Recentemente, o filme foi exibido numa penitenciária que fica em Pernambuco. “São as coisas da vida, não é? No início do ano, eu estando daquele jeito e em dezembro estava exibindo o meu filme para as pessoas que estão naquele local para pagar pena por diversos crimes”, relatou.
Agora, ele quer curtir o Natal com a família, na cidade do Recife, para comemorar as coisas boas que vieram e ficar junto da família. Este será seu primeiro Natal depois de várias reviravoltas, mas importante é que ele vai continuar celebrando e comendo Chester (“Odeio carne de peru”) com a mãe, pai e irmão, como sempre aconteceu e acontecerá.
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