O movimento “Slow Living”, que em português quer dizer “Viver Devagar”, é um estilo de viver de maneira mais calma, de forma sustentável, com respeito aos tempos internos, atenção na hora de consumir, leveza nos relacionamentos e responsabilidade ao usar os recursos naturais do planeta. Sim, ele contraria o modo de vida contrário da atual, no qual exige consumir mais, ser mais práticos e ficamos mais vulneráveis aos sentimentos ruins.
A prática do Slow Living procura não só o caminho de tranquilidade, o tempo de descanso, tempo para o trabalho e para a família, mas também como ter tempo para nós mesmos. É para quem acredita em um estilo de viver mais humano, priorizando a qualidade dos momentos. Uma das adeptas é Isabel Alves, de 22 anos, natural de Recife, radicada em Natal, mas que vive há algum tempo com o marido em São Paulo.
Conheci Isabel nos tempos do colégio e sempre foi uma garota de atitude. Pintava os cabelos coloridos, mergulhava de cabeça nas coisas que acreditava e era muito criativa, sempre sonhou em ser estilista. Aos 18 anos, ela casou por opção (com direito a festança e tudo) e se mudou com o marido para São Paulo, onde ao mesmo tempo foi estudar moda no Senac. Foram nas aulas da faculdade que ela descobriu esse novo modo de vida.
“Nunca fui uma pessoa conscientizada sobre o desperdício, acredito que muito de nós nem pensamos nisso. Mas quando comecei a me envolver com o slow fashion e a uma vida mais sem excessos, encontrei a Lauren do “Trash is For Tossers” e a Cristal do “Um Ano Sem Lixo“. A Lauren é americana e ficou conhecida por caber todo o seu lixo em um pote de mason jar (pote de vidro). Já a Cristal adaptou essas ideias para o que temos aqui no Brasil e fala de várias dicas no site dela de como adaptar o que as gringas”, explicou Isabel.
No Brasil, a Cristal Muniz, designer gráfica de 24 anos, citada por Isabel, ajudou a divulgar essas informações no Brasil e espelhar outras meninas, além da nossa entrevistada. Muniz já fez palestras no Tedx e concedeu entrevistas para imprensa nacional.
De acordo com Isabel, muitas pessoas estão nessa mesma vibe, mas é uma coisa mais nicho mesmo, que tomou força por causa da internet.
As atividades de consumir menos começaram em fevereiro deste ano. Para relatar as suas mudanças, Alves também fez um blog, chamado Living Slow, criado para divulgar sobre a importância de viver num mundo menos consumista e tentar produzir menos lixo possível. Isabel, nesta página, compartilha sobre os seus aprendizados e a luta para reduzir o lixo e diminuir o lado consumista, que é tão comum nas nossas vidas.
“Produzir nada de lixo, nada mesmo é quase impossível quando falamos em pessoas que moram em cidades. Mas é possível diminuir muito mesmo procurando novas alternativas. Quando falamos em zero-waste (sem desperdício), esse consumo exagerado foi diminuído o máximo possível e o que sobrou dele foi destinado para a reutilização, seja pela compostagem para o o lixo orgânico ou a reciclagem para as embalagens e no final nada foi lixo de verdade, pois tiveram outros propósitos”, comentou.
Como faz para aderir a esta ideia? Isabel explica rapidamente: “Antes de sair de casa, é preciso se preparar. Ainda acontece de sair sem levar os meus itens que me permitem não precisar de embalagens descartáveis, mas nem sempre eu lembro. Tento levar minha garrafinha de vidro, guardanapo de tecido, copo retrátil, cada item desse me faz produzir um lixo a menos. Também é possível achar para vender kit de talheres portáteis, canudos de bamboo e até um pote de vidro para levar ou colocar a comida”.
Os lixos que não conseguem ser reaproveitados, Isabel e o marido levam para um centro de reciclagem. “Eles aproveitam tudo e entendem a importância que aquilo pode ter”, afirmou. Agora, eles preferem comprar itens sem embalagens, embalagens biodegradáveis ou ao vidro, que continua sendo a melhor opção pois é o item mais reciclado no Brasil.
Sim, o marido apoia bastante a ideia. “É bastante conscientizado sobre a questão do consumo e do lixo que produzimos”, relatou a blogueira e estilista.
Quais são as dificuldades de viver em um mundo menos consumista? A primeira, segundo Isabel Alves, é sair da zona de conforto e conseguir ir atrás de vias alternativas. É difícil repensar em tudo que foi ensinado. “O segredo é começar aos poucos e ter seu próprio tempo. É preciso aprender a gostar da jornada, pois a intenção é que seja definitiva”.
A desistência é um pensamento constante, visto que ainda não existem bastante feiras de ruas ou lojas que vendem produtos a granel em um preço acessível. Agora, Isabel, pretende comprar uma composteira para ajudar a produzir lixo orgânico.
Apesar dos problemas, alguns produtores e estilistas aderindo à essa prática. Na páscoa, por exemplo, ela ganhou um ovo de páscoa que não utiliza papéis como embalagem. “É legal dar um toque as marcas que gostamos sobre isso, para que elas entendam que o consumidor se importa e deseja que ela mude”, finalizou.
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