O próximo sábado (18) haverá o I Encontro de Moda Afropotiguar, no Surto Cultural, no bairro de Ponta Negra, a partir das 17h30. Como é isso? É um evento onde pessoas especializadas em moda voltada para a cultura negra mostrarão a sua arte para a população. Estarão disponíveis joias, turbantes e roupas inspiradas na África e destinado para as mulheres negras. Isso é uma segregação? De jeito nenhum, a Sté Campos, idealizadora do evento, explicou que muitas mulheres de origem africana não se sentem representadas nas novelas, propagandas, nos desfiles de moda e em diversos meios de comunicação.
“É evidente a necessidade de fortalecimento do povo negro e de luta por condições de igualdade, tema esse muito caro à sociedade brasileira. São situações de opressão e preconceito compartilhadas por aqueles que descendem da diáspora africana nas Américas, e a luta contra isso acontece a partir de várias frentes, uma delas é o empoderamento através de um discurso estético forte, positivo, político e necessário. A nossa moda afropotiguar é uma forma de resistência.”, disse Campos.
Muitas vezes a moda inspirada nesses meios de comunicação veem como inspiração a moda da Europa. Vale lembrar que nos séculos passados muitos países europeus tiraram os africanos de suas origens e levaram como escravos para a América Latina e lhes forçando a aceitar os seus costumes. Por isso, pessoas estão criando marcas voltadas para a cultura negra, onde a importância é mostrar o orgulho dos ancestrais e que existe beleza na nossa origem.
Ela comemorou o fato dos pais sempre a orientar sobre a existência da discriminação racial no cotidiano. “Eu tive um pai que ensinou suas filhas desde cedo que racismo existia e, do jeito dele, nos direcionou para as culturas afro através da capoeira e das músicas que ouvia. E objetivamente disse que não permitisse a opressão.”.
Sté alegou que enfrenta o racismo diariamente. “Cheguei a ser confundida com a empregada doméstica da casa do namorado. O tema da beleza é um tabu para jovens negras, quanto mais preta e crespa menos bonita, menos interessante, esse era o discurso que ouvi sentindo nas entrelinhas. Duvidarem na nossa capacidade intelectual e nos mandarem servir o café no grupo de estudos”.
De acordo com a idealizadora do projeto, o I Encontro de Moda Afropotiguar é um resultado das séries de parcerias que buscou ao longo dos anos.
“Atualmente está tendo uma onda de empoderamento negro em Natal, com empreendedorismo, feminismo negro, coletivos, afro, como Pixaim, Pimenta de Preta, e algumas marcas de moda afro como Kakilambe, Mãe Preta, Afrokan, D’Carvalho, Di Moreira nas artes visuais, salões afro, enfim, um turbilhão de coisas rolando. Pensei em juntar todo mundo, criar um canal de escoamento de produção porque nosso evento comporta uma feira de moda também, e sobretudo de divulgação dessas marcas”, afirmou Sté.
Sabendo disso, Sté em 2011 criou o “Negro Charme”, uma marca de acessórios femininos elaborados de forma artesanal cuja inspiração parte de vivências e pesquisas sobre as culturas negras. O foco é oferecer um conjunto de acessórios pautados em uma estética afrocentrada, desde colares, pulseiras, anéis e brincos, até os produtos associados: turbantes e bolsas.
“Em 2016 me tornei Micro Empreendedora Individual (MEI), comecei e repensar a gestão e a intensificar o processo criativo a partir de imersões culturais no Rio Grande do Norte e na Bahia, especificamente Salvador.”, relembrou.
Portanto, neste período em buscar parcerias com outras empresas, a Sté procurou uma renovação em sua empresa, como renovação da identidade, criação de site, elaboração de editorial de moda e realização de novos ensaios fotográficos.
O encontro é uma forma de comemorar os cinco anos da marca, que está prestes a se mudar para a cidade de Salvador, cidade onde tem uma das maiores concentrações negros no Brasil.
Mas, como será o evento? Sté explicou que além do Negro Charme, também terá mostra de objetos de outros empreendedores. Além disso, haverá um debate sobre moda afropotiguar além de exposição fotográfica, discotecagem, culinária africana, vivências em dança e massagens.
“Meu ateliê está em mudança para Salvador. Pra não ficar longe de quem tem me acompanhado até agora migrei para o mundo online. Em breve estará no ar nosso site que abrigará um demonstrativo de trabalhos artísticos, ensaios de moda, blog e galerias de produtos. Como cada mulher é única, nossas peças também. Na galeria haverá modelos gerais a partir do qual a cliente poderá montar sua peça de acordo com seu corpo e gosto”, afirmou.
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