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Boicote ao carnaval de Natal e a reação do prefeito

Um grupo de músicos de Natal enviaram uma nota, nesta terça-feira (19), alegando que vão boicotar o edital da Prefeitura do Natal, através da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), para participar das festas de carnaval, no qual acontecerão nos primeiros dias de fevereiro. O documento é assinado pelo grupo que faz parte do Rede de…

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Um grupo de músicos de Natal enviaram uma nota, nesta terça-feira (19), alegando que vão boicotar o edital da Prefeitura do Natal, através da Fundação Capitania das Artes (Funcarte), para participar das festas de carnaval, no qual acontecerão nos primeiros dias de fevereiro. O documento é assinado pelo grupo que faz parte do Rede de Músicos Independentes (Remuin). Nesta terça, a Prefeitura realizou uma cerimônia de lançamento da festa, que contará com Alceu Valença, Moraes Moreira e Baby do Brasil.

O motivo para o boicote seria a falta de valorização do Município pelos músicos locais, pagando cachês bastante inferiores aos dos artistas de fora do estado. Em 2015, o investimento para os artistas made in Rio Grande do Norte era de 180 mil reais e neste ano será 60 mil a menos. Entretanto, o investimento total será mais de quatro milhões de dilmas. 

Além disso, os artistas criticam a Funcarte pela falta de avaliação do trabalho dos artistas no edital, chegando a perder até os arquivos enviados pelos próprios artistas. “Os projetos e materiais enviados pelos artistas à Capitania das Artes são mal armazenados (alguns até perdidos) e mal avaliados (muitos discos não são escutados pelos curadores)”, apontou a nota.

O grupo criado no ano passado busca estreitar o diálogo com o poder público, a exemplo do que acontece com os setores do audiovisual e teatro, que conseguem se articular e dar continuidade a ações que desenvolvam seus segmentos.

Eles divulgaram a nota na página do Facebook, que será reproduzida a seguir:

BOICOTE AO EDITAL DO CARNAVAL MULTICULTURAL DE NATAL 2016.
POR UM CARNAVAL QUE NÓS QUEREMOS!

Um novo ano inicia, mas algumas coisas permanecem iguais. Não é novidade para ninguém a luta que os artistas da cidade travam cotidianamente para ocupar os escassos espaços que a prefeitura oferece em seus editais. Na música, de evento a evento, acontece sempre o mesmo:

1. As atrações ditas “nacionais” são sempre privilegiadas (quanto a estrutura oferecida, divulgação nas mídias, horários dos shows e os valores dos cachês);
2. A ínfima visibilidade oferecida aos artistas que produzem seu trabalho na cidade é dada de forma cada vez mais burocrática, negligente, limitada e segregadora, chegando a dificultar (e, muitas vezes, impedir!) que se mostre seu trabalho como verdadeiramente é;
3. Está cada vez mais difícil inserir pessoas indicadas pelos segmentos artísticos e pela sociedade civil nas curadorias e seleções;
4. Os projetos e materiais enviados pelos artistas à Capitania das Artes são mal armazenados (alguns até perdidos) e mal avaliados (muitos discos não são escutados pelos curadores internos da FUNCART);
5. Os períodos de recurso para os projetos inabilitados não são respeitados;
6. O representante do segmento musical dentro da instituição já mostrou em várias ocasiões total falta de interesse em dialogar com a classe artística potiguar e escutar suas sugestões, necessidades e demandas. O maestro parece manter seus ouvidos fechados para as diversas cenas existentes na cidade, mas elas gritam, pulsam e não podem mais ser ignoradas.
7. Não é uma preocupação do poder público municipal incentivar a criação de obras inéditas e a produção autoral em seus editais. A difusão dos trabalhos, assim como a formação dos profissionais da música também não são contempladas nas chamadas públicas.

O edital publicado que rege o carnaval 2016 da cidade não fica fora dessa. Traz consigo o mesmo do mesmo, complicando ainda mais quando permite que cada MEI só pode inscrever seu próprio trabalho. Atire a primeira pedra aquele que nunca teve dificuldade de suprir tudo que era requerido nesses editais. Sem falar no falso termo MULTICULTURAL. O critério trazido no edital como relevância, para que os trabalhos que sejam “adequados aos festejos carnavalescos”, limita a característica multi-gênero que se pode obter. Com tudo isso, a Rede de Música Independente de Natal – REMUIN, apresenta seu repúdio e declara o boicote ao edital do CARNAVAL MULTICULTURAL DE NATAL nº 003/2016.

As secretarias e fundações de cultura têm a obrigação de oferecer um carnaval com programação DIVERSIFICADA para sua população, assim como estimular a participação da sociedade civil na construção de uma identidade cultural múltipla e mutável.. Consideramos todas as manifestações musicais realizadas na cidade “adequadas” e capazes de concorrer ao chamamento público do Carnaval Multicultural de Natal 2016 nº 003/2016 e vislumbramos um futuro próximo onde todos os estilos musicais, expressões artísticas, gêneros, raças e classes sociais ocuparão juntos os palcos e ruas da capital potiguar.

‪#‎NATALTEMÚSICA‬ ‪#‎DIVERSIDADE‬ ‪#‎MULTICULTURAL‬

Sabe qual foi a reação do prefeito? O jornalista Dinarte Assunção, do Portal No Ar,  disse que o prefeito reagiu com riso o manifesto dos artistas locais. “Começou a esboçar o riso no canto direito do lábio. Depois, o esquerdo também se contraiu, até que, com a pergunta toda formulada, seus lábios se expandiram revelando o riso sobre o manifesto. […] Como a reportagem permaneceu imóvel, esperando o desenrolar da resposta, o prefeito disse mais animadamente: “É carnaval!”, dizia um dos parágrafos da reportagem.

Apesar do boicote, a Prefeitura alega que a participação será 90% de artistas locais e mais de 37 pessoas se inscreveram para o edital. Será?

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Desenho do ilustrador Um Samurai

Lara Paiva é jornalista e publicitária formada pela UFRN, com especialização em documentário (UFRN) e gestão de mídias sociais e marketing digital (Estácio/Fatern). Criou o Brechando com o objetivo de matar as suas curiosidade e de outras pessoas acerca do cotidiano em que vive. Atualmente, faz mestrado em Estudos da Mídia, pela UFRN e teve experiência em jornalismo online, assessoria de imprensa e agência de publicidade, no setor de gerenciamento de mídias sociais.

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