Vida tem gosto de Céu, que nem aquele picolé caseiro. Mas, não falarei disso. Quem me conhece pessoalmente acha que a morte da minha avó foi algo mais triste que aconteceu na minha vida. Em partes, sim, pois no meio do luto vieram outros processos dolorosos. Eu vi de perto como é o processo de morrer, simultaneamente vi a fome de viver. A passagem dela mostra que ciclos acontecem e que precisamos cuidar da vida que está presente, restando apenas a saudade. O cuidado da vida, talvez, tenha deixado em forma de gato. O que um felino pode ter ligação entre a vida e a morte?
Tendo alguma religião ou não, há muitos mistérios que nem a ciência e a religião explicam. O luto é doído, mas pode vir com significados, inclusive explicar a relação de vida e céu.
Vovó Maria do Céu partiu nas primeiras horas de 22 de agosto. Por coincidência, o seu marido, vovô Manoel, morreu em 22 de janeiro de 2014. Não é a primeira vez que este número vem a tona, pois meus pais casaram no dia 22 de maio de 1992. O número presente na vida da família.
Mas, preste atenção no dia 22 de agosto de 2022, é essencial para este texto. No dia anterior, meu coração pedia para visitar o hospital e despedir da minha avó em vida, além de buscar o meu pai que ficou o dia cuidando dela. Após sair da unidade, fomos em direção para casa o pneu do carro furou e conseguimos voltar com o reserva.
Na madrugada, a minha família recebe a ligação do falecimento de vovó. Meu pai se vestiu, pegou a chave do carro da minha mãe e resolvera os trâmites burocráticos que terminaram ao amanhecer. Então, veio a surpresa…
Um céu em forma de gato
Como era de se esperar, dormimos muito pouco e acordamos cedo, mas com um miado bem baixinho. Pensamos que era Thor e Nala, os dois gatos da casa, mas o som era diferente. Além disso, ficava mais alto quando chegava na garagem. “Deve ser da rua”, pensávamos. Ainda chegamos a ver no telhado se tinha algum gato que ficou preso e não conseguia mais voltar para fazer o resgate. E nada.
“O velório da sua avó é daqui a pouco, vamos logo”, apressou minha mãe. Assim que estacionamos no Centro de Velório, a surpresa: o miado do gato continuava. “Meu Deus, o gato tá dentro do carro, precisamos tirá-lo daqui.”. O flanelinha da rua, que também ouviu o miado, também propôs em nos ajudar. Mas, não tínhamos o macaco do carro para levantar e fazer o resgate.
Então, eu vou em direção ao meu pai que estava recebendo as visitas e disse o que aconteceu. Meio atordoado e confuso, deste evento aleatório, foi em direção ao carro para saber o que houve. Lembramos da oficina próxima ao Centro de Velório e levamos o carro com maior cuidado para lá. Com a ajuda de um elevador mecânico, conseguimos o resgate. Melhor, salvar uma vida no dia que iríamos despedir de outra vida.
Não tinha como não o adotar
Na oficina conseguimos uma caixa com flanelas para tentar limpar o gato sujo de graxa e eu e minha irmã voltamos a cerimônia, onde ouvimos toda cerimônia do velório na porta para a surpresa dos convidados sem acreditar no ocorrido.
Devido ao sepultamento de vovó acontecer em Sítio Novo, distância de 100km da cidade, paramos em casa e rapidamente improvisamos um ambiente com água, ração e caixinha de areia para que pudesse ser confortável até o nosso retorno e ficar longe dos dois gatos, visando evitar brigas.
Se minha avó se chama Maria do Céu, ele tinha que se chamar Céu
Ao voltarmos, concluímos que o Céu, batizamos assim, trouxe um significado para este dia: “A vida continua e se manifesta nas mais diferentes mensagens.”.
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