Bettina é uma loira muito bonita e inteligente. Ela ficou famosa pelas propagandas chatas no You Tube dizendo que “conseguiu transformar 1500 reais em 1,5 milhões em três anos”, provocando a ira dos brasileiros pela insistência, mas ao mesmo tempo pela problematização. Poderia ficar batendo na tecla de que se fosse um homem a propaganda teria mais efeito ou que a empresa teria errado na forma de segmentar o seu público com o Google Ads, mas a empresa Empiricus Research, onde a garota-propaganda trabalha na parte do marketing, atingiu esse objetivo: querer que a direita e esquerda promovessem esse dabete e que não importa ao falar bem ou mal, estão na mídia.
Mas, poucos esquecem do perigoso discurso de que as chances são iguais para todos.
Demorei muito para ter a consciência de que as chances não são iguais para todos, somente quando entrei na UFRN em 2011, onde eu cheguei de uma escola privada e vi que as pessoas para chegarem aí tiveram diferentes histórias de conquistas e muitos tiveram que sacrificar várias coisas para conseguir. Infelizmente, os estágios eram mais fáceis para aqueles que tinham contato do que para aqueles que estavam inicialmente adaptar para uma nova cidade e ao mesmo tempo se virar para arranjar o emprego, pois o dinheiro que o pai ou mãe dava não era o suficiente. Ou tomar banho na UFRN, pois saiu direto do emprego e não teve tempo de ir para casa.
A internet deixa rastros e alguém achou o de Bettina, viu que esses 1,5 milhões de reais não veio apenas de 1500 reais, mas de poupança feita pelos pais e também investimento em criptomoedas. Além disso, ela é herdeira de uma fábrica de cerâmica em Santa Catarina. Ou seja, como já dizia a vovó: ela veio em berço de ouro. Infelizmente, existem muitas e muitos Bettinas, que acham que a ajuda do pai com condições não foi uma grande ajuda ou facilitou o trabalho. Pelo contrário, querem ensinar a ideia falsa que tudo pode ser construído do zero, independente se você mora na zona Sul ou Norte.
Então, eu pergunto à jovem: como o trabalhador brasileiro vai se manter vivo daqui a 3 anos ?
O problema é não do fato de ser rica, mas celebrar as exceções e esquecer que a vida tem regras com requites de crueldade.
As pessoas ainda querem insistir que dois garotos de 10 anos de idade, sendo um morando no bairro nobre e o outro numa favela, têm a mesma chance. Porém, esquecem de dizer que o jovem tem que estudar, usa a tarde para ajudar os pais em sustentar a casa ou se virar para conseguir ter acesso aos livros e outros materiais para conseguir um estudo que possa aumentar as suas chances de conseguir 1 vaga na universidade, visto que a maioria dos seus concorrentes tiveram acesso ao ano inteiro aos cursinhos e aulas de reforço.
Bettina poderia ensinar a transformar 1,5 mil reais em plano de saúde, alimentação saudável e gostosa, direito ao lazer e uma saúde mental em dia no ambiente de trabalho, visto que a maioria dos brasileiros ganham 1 salário mínimo e meio para conseguir sustentar uma casa com quatro pessoas. Melhor, como sobrar esse dinheiro para investir na sua empresa, Bettina? Infelizmente, não tem, você é privilegiada, mulher.
Enquanto a Bettina acha lindo ser milionária, tem gente que está limpando banheiro de universitários como Bettina para pelo menos conseguir uma vaga no Prouni para o curso dos seus sonhos.
Mas, não, Bettina acha que ela se tornou milionária do zero e que as pessoas podem também chegar nesta questão. Os direitos só deverão ser iguais, quando todos possam ter acesso aos mesmos materiais e de maneiras iguais.
Deixe um comentário