Essa menina da foto acima se chama Sylvia Pinheiro, ela é nerd, gosta de ler, jogar e fazer ciência. Apesar do meio ser bastante conhecido pelo meio masculino, a jovem neurocientista está tentando mostrar que sabe ser uma boa pesquisadora. Antes, quando pensávamos em neurocientista vinha logo a mente a personagem Amy Farrah Fowler do seriado norte-americano The Big Bang Theory. Sem querer querendo, a personagem de Mayim Bialik, que também é neurocientista na vida real, estimulou outras garotas a seguir este caminho.
Voltando para Natal, Sylvia é formada em Biologia e, recentemente, ela se tornou mestre em Neurociências após estudar a relação das atividades cerebrais dos povos antigos com literatura.
A Neurociência, para quem não sabe, é o estudo científico do sistema nervoso. Tradicionalmente, a neurociência tem sido vista como um ramo da biologia. Entretanto, atualmente ela é uma ciência interdisciplinar que colabora com outros campos como a educação, química, ciência da computação, engenharia, antropologia, linguística, matemática, filosofia, física e psicologia, medicina e disciplinas afins.
O termo neurobiologia é usado alternadamente com o termo neurociência, embora o primeiro se refira especificamente à biologia do sistema nervoso, enquanto o último se refere à inteira ciência do sistema nervoso.
“Eu tive um pouco de dificuldade quando fui escolher pra que prestar vestibular, porque gostava de tudo um pouco, especialmente disciplinas de biomédicas e humanas. Durante a minha graduação em biologia tive contato com a Neurociência em algumas matérias, como biofísica e fisiologia, e achei sensacional que a base de todos os nossos pensamentos, algo tão complexo, pode ser estudado também numa perspectiva de ondas e interações químicas”, comentou a cientista.
Depois, ela começou a pagar cada vez mais matérias específicas sobre o assunto, no Instituto do Cérebro, órgão ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e, por fim, ingressou numa bolsa de Iniciação Científica. “O que mais curto do meu trabalho é pelo fato de ser interdisciplinar, podendo estudar o mesmo fenômeno de várias formas”, afirmou.
Mas, afinal, o que neurocientista faz e pode fazer? Sylvia, caro leitor, te explicará bem direitinho. “Como reúne várias áreas de conhecimento, o Neurocientista pode ter formação de várias áreas. Lá no Instituto do Cérebro, por exemplo, tem biólogos, médicos, psicólogos, engenheiros, físicos e dentre outras opções. A neurociência, basicamente, busca compreender a base de muitos dos mecanismos que nos intrigam no dia-a-dia: por que esquecemos as coisas? Por que sonhamos? Como o cérebro de um bebê se forma na barriga da mãe? O que acontece com o nosso cérebro durante a depressão? Ou ainda por que só a nossa espécie é capaz de ler e escrever?”, explicou.
Aí, a neurociência precisa de vários especialistas em diversas áreas para que a pesquisa seja um sucesso. “Tudo isso precisa envolver o conhecimento de várias áreas unindo esforços, e tem múltiplas aplicações na sociedade, seja para criar terapias para doenças, até criar novas metodologias na educação ou construir novos aplicativos e equipamentos que interajam com nossa cognição”.
Inicialmente, Sylvia estudava as células tronco neurais e sua interação com algumas proteínas importantes para sua diferenciação ou não em neurônios. Mas, durante o mestrado, resolveu unir o amor pela ciência e literatura e resolveu trabalhar com a neurociência da linguagem, no qual “sempre chamou a sua atenção”.
“Atualmente, estudo teoria de grafos aplicada à evolução da linguagem, investigando se existem certos padrões na trajetória do discurso na literatura antiga que são semelhantes à de indivíduos esquizofrênicos ou a crianças em alfabetização”, argumentou.
“Nossa pesquisa usa escrituras antigas como ‘O código de Hamurabi’ da Suméria e ‘O Livro dos Mortos’ do Egito, e o que encontramos é que aparentemente, nossos ancestrais tinham traços na linguagem bem parecidos com os dois grupos antes mencionados, representados por baixa riqueza de palavras e habilidade em conectá-las, além de alta repetitividade. Isso pode ajudar a entender um pouco sobre como era a cognição desses nossos antepassados e como ela evoluiu”, continuou.
Agora, o objetivo de Pinheiro é continuar estudando a Neurociência da Linguagem no doutorado, porém está em dúvida se focará na área de comportamento humano ou entre animais. Entretanto, ela alertou as gostosuras e travessuras de ser uma cientista nas terras tupiniquins.
“A ciência é algo que, se você gosta, te acompanha em todos os lugares. Você frequenta o laboratório ou base de pesquisa, realiza suas atividades da pós graduação, estuda e faz experimentos, mas tem algo a mais ali. As crianças são cientistas naturais, por serem muito curiosas e adorarem perguntar, um hábito que a gente vai perdendo quando vai crescendo. Durante o processo de formação, a gente percebe também que não basta gostar de estudar aquilo, precisa de muita disciplina, um pouco de inconformismo e principalmente, persistência. É olhar as coisas com carinho mas também levar muitas quedas e aprender a levantar e ser forte, pois mil motivos vão desmotivar: o cansaço, a sensação de não ser bom o suficiente, a falta de compromisso do país com a ciência. É tentar sair da sua zona de conforto se aventurando em coisas que você antes, não tinha considerado. Por fim, ainda estou em aprendizado disso tudo, mas acho que o que é mais gostoso é como você volta, naturalmente, a olhar o mundo com a empolgação que você tinha quando era criança”, finalizou.
Deixe um comentário