Hoje, 11 de agosto, a imprensa potiguar noticia o centenário do Aluízio Alves, político potiguar, que criou primeiramente um dos clãs influentes no estado, no qual seus descendentes ainda estão em cargos públicos até hoje. Entretanto, no último fim de semana, uma matéria no jornal The Intercept revelou os seus podres e sua influência com John Kennedy para implantar a Ditadura Militar nos tempos da Guerra Fria. A intenção era, no entanto, evitar que o Brasil virasse uma nova Cuba.
Para explicar melhor, vamos montar, por conseguinte, uma linha do tempo a seguir.
Verde, símbolo de suas campanhas políticas
Aluízio Alves era formado em direito, mas trabalhava como jornalista. Sua vocação política surgiu em consequência das suas atividades profissionais e a estreia se deu sob as bênçãos de José Augusto Bezerra de Medeiros e Dinarte Mariz, líder da UDN potiguar e, assim, Alves foi eleito deputado federal em 1945 e participou da Assembleia Nacional Constituinte que promulgaria a nova Constituição em 18 de setembro de 1946. Reeleito em 1950, 1954 e 1958, chegou aos postos de secretário-geral da UDN e vice-líder da bancada.
O rompimento entre Mariz e Alves surgiu quando o Mariz, governador recém-eleito, ignorou uma série de ações de governo que foram reunidas por Aluísio Alves num extenso documento. Irritado, afastou-se politicamente de seu mentor e ingressou no PSD e foi eleito governador em 1960 para o desgosto de Dinarte Mariz.
Durante a campanha para Governador, o verde virou a cor principal do então candidato. Tudo começou quando Aluízio Alves liderou a “Cruzada da Esperança”, com a qual — de trem ou caminhão — percorreu todo o estado fazendo comícios “relâmpago”, organizando passeatas e pedindo votos de casa em casa. Nessas caravanas, seus seguidores eram identificados pelos galhos de árvore que traziam à mão e pela cor verde de suas bandeiras, em oposição ao vermelho adotado pelos partidários de Mariz.
Apelidado de “Cigano” pelo povo potiguar, inaugurava um estilo que marcaria para sempre sua biografia. O argumento era que verde era a cor da esperança e tinha o discurso de tirar os políticos tradicionais do estado.
Com a vitória da Ditadura Militar, os dois citados apoiaram inicialmente o golpe, que aconteceu no dia 01 de abril de 1964.
Por que criar a Cidade da Esperança?
A criação do conjunto surgiu no governo de Aluízio Alves, através da Fundação de Habitação Popular. Na época, este programa era pioneiro na América Latina. Ainda mais reza a lenda que o nome do conjunto se refere à Brasília, que era conhecida como a “Capital da Esperança”, sem contar com a superstição do então governador com a cor esverdeada.
A necessidade de criar um conjunto habitacional se deu devido à forte emigração para Natal no início da década de 1960, causando uma forte pressão demográfica, uma vez que o terreno ficava numa parte não aproveitada do antigo leprosário.
Sua construção durou de 1964 a 1966 e contou com recursos financeiros tanto do governo do estado do Rio Grande do Norte quanto com dinheiro dos Estados Unidos. Na época os EUA investiam no Brasil através da Aliança para o Progresso. Só transformou, contudo, em bairro no ano de 1993.
Matéria de Paulo Nascimento na The Intercept da relação de Aluísio Alves e o Golpe Militar
O presidente americano John F. Kennedy ligou o sistema de gravação instalado no Salão Oval da Casa Branca na manhã daquela segunda-feira, 30 de julho de 1962. A fita registrou a conversa entre o presidente e Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil. Ao longo de 28 minutos, eles trataram do presidente João Goulart, de um possível golpe militar e de quantos milhões de dólares os EUA estavam dispostos a torrar para interferir na política brasileira.
Na conversa, um nome chama a atenção. Trata-se de Aluízio Alves, à época governador do Rio Grande do Norte. Esses registros foram do jornalista potiguar Paulo Nascimento, no qual mostrou que o potiguar aproveitou bastante a “Aliança para o Progresso”. Você achava que essa ideia de potiguar ser americanóide não foi por acaso?
Clique aqui, portanto, para ler a matéria na íntegra.
Reportagem fez com que Cassiano Arruda, sogro do filho de Aluízio, fizesse uma matéria Chapa Branca
O jornalista Cassiano Arruda, em resposta à publicação do The Intercept, criou uma matéria falando dos “benefícios da Aliança Para o Progresso” no Rio Grande do Norte e como isso foi bastante importante. A mensagem, claramente, mostra uma forma de dizer que essas ações foram importantes para o estado.
“Você imaginou Joe Biden, dedicar meia hora do seu expediente a nossa governadora Fátima Bezerra? Ou Donald Trump fazer o mesmo com Robinson Faria? Barack Obama querer saber quem era Rosalba Ciarllini? Ou, ainda, Bill Clinton com Wilma de Faria?”, disse Cassiano ao tentar defender Aluízio. Vale lembrar que Cassiano, nos anos 80, trabalhava no Diário de Natal, jornal que apoiara a oposição dos Alves. Pesquisando os jornais na Biblioteca Nacional, é fácil, no entanto, ver uma notinha de Cassiano esculachando a turma do MDB.
Cassiano é pai da também jornalista Laurita Arruda, visto que atualmente é esposa de Henrique Eduardo Alves, filho de Aluízio. Além disso, hoje, Cassiano escreve no blog Território Livre, de autoria de Laurita, que está hospedado na Tribuna do Norte.
Para quem não sabe o Aluízio Alves criou a Tribuna do Norte no final da década de 50. Para ler a reportagem de Cassiano, clique aqui.
Após o Golpe Militar, virou símbolo do MDB
Aluízio Alves apoiava a Ditadura Militar até o momento em que o perseguiram. Ademais, tudo começou quando Alves apoiou Walfredo Gurgel para o governo e Dinarte o oposto.
A vitória de Walfredo Gurgel impediu que o estado fosse governado, pela segunda vez, por Dinarte, confirmando “a supremacia política da família Alves” e, ao mesmo tempo, todavia, contribuindo para o aumento do radicalismo político.
Em 1966, Dinarte veta a candidatura de Aluízio Alves para o Senado. Apesar de dominar a maioria dos diretórios municipais da ARENA, Dinarte não teve forças para fazer um candidato seu, contentando-se com um arranjo de conveniência. O mossoroense Duarte Filho foi o ungido pela ARENA. A indicação e a eleição de Duarte Filho, candidato consensual da ARENA verde (Aluízio) e da ARENA vermelha (Dinarte) não garantiu a pacificação do partido.
Três anos depois, com a instalação do Ato Institucional número 5 houve a cassação de Aluízio Alves, fazendo com que ele migre para o MDB. Com o mandato cassado, ele estimulou que seu filho e sobrinho, Henrique Alves e Garibaldi Alves Filho, respectivamente, entrasse na política, assim nascendo, portanto, o período do Jardim de Infância.
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