Se a gente se choca hoje com pessoas desfilando na avenida Senador Salgado Filho com cartaz “Volta Ditadura Militar”, não se preocupe. A elite natalense sempre foi bastante preconceituosa e Natal teve gente interessada na Eugenia. Como resultado, no meio das minhas pesquisas de pauta, eu achei algo bastante absurdo, mas que era normal. No ano de 1920, houve uma palestra sobre a importância da eugenia.
Isto aconteceu no Natal Club, na Av. Rio Branco, no qual o ministrante era o geneticista Christovam Dantas, sob o título de “A Eugenia e o Aperfeiçoamento da Raça”, no qual o jornal A República comentou que o evento lotou o salão.
Ou seja, os ricos de Natal apoiavam a ideia da Eugênia, a purificação das raças.
Afinal, o que é eugenia?
Eugenia é um termo criado em 1883 por Francis Galton (1822-1911), significando “bem nascido”. Para o pesquisador, ele defendia o melhoramento genético para que as novas gerações nascessem de forma mais saudável. A partir deste estudo, no entanto, surgiu a ideia de “pureza racial”, a qual os Nazistas adotaram e culminou, por conseguinte, no Holocausto.
Não é a primeira vez que os natalenses flertavam com coisas nazifascistas, uma vez que falamos do integralismo na capital potiguar.
Mesmo com a cada vez maior utilização de técnicas de melhoramento genético usadas atualmente em plantas e animais, ainda existem questionamentos éticos quanto a seu uso com seres humanos, chegando até o ponto de alguns cientistas declararem que é de fato impossível mudar a natureza humana.
O termo “eugenia” é anterior ao termo “genética”, pois este último só foi cunhado em 1908, pelo cientista William Bateson.
Nesta época, o país tinha o Movimento eugênico brasileiro, que explicarei no próximo tópico.
O que foi este movimento
Para as elites brasileiras, a eugenia era um símbolo de modernidade, uma ferramenta científica capaz de colocar o Brasil no trilho do progresso e do tão sonhado “concerto das nações”. Como? Deixando o país com mais cara de europeu. Na época, o país estava tendo surto de várias doenças virais, como a sífilis e varíola.
Entre os temas mais tratados pelos eugenistas brasileiros estavam a educação higiênica e sanitária, a seleção de imigrantes, a educação sexual, o controle matrimonial e da reprodução humana e debates em torno da miscigenação, branqueamento e a regeneração racial.
Nestes últimos três temas que mencionei, muitos dos pesquisadores acreditavam que para uma sociedade mais forte e progressista deveria ter uma raça pura, sem mistura entre brancos, índios e negros.
Voltando a palestra em Natal de apoio à Eugênia, o que rolou?
O palestrante Christovam Dantas, filho de Manoel Dantas, também era um dos defensores de uma raça pura, no qual “Assiste-nos o dever incontroverso de preparamos uma gestão forte, limpa de taras hereditárias trabalhando para a conquista de um posto sublimado”.
Ele era um nome forte no estado, uma vez que também era sobrinho de Juvenal Lamartine. Ele tinha especialização em genética nos Estados Unidos. Por isso, a credibilidade sobre o assunto cresceu ainda mais.
Por isso, ele defendia que as ações de melhoria deveriam ser feitas a partir de conferências, concursos de beleza e reportagens. Além disso, as associações esportivas e o Estado serem responsáveis pela educação moral e física das crianças e jovens.
Sem contar que era o dever da mulher dar uma educação exemplar aos seus filhos. De acordo com Christovam, “porque o papel mais importante na formação de uma nacionalidade forte pela saúde e moralidade de seus filhos, pertencia inegavelmente à mulher desempenhar”.
Ou seja, neste período a imprensa, após a palestra, intensificou as reportagens sobre esportes e belezas, fazendo com que os jovens da elite começassem a frequentar mais os clubes esportivos.
Isto encontrei em um dos capítulos sobre a Belle Époque de Natal, da pesquisadora Márcia Marinho.
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