Conheci Myrianna Coeli quando tentei ser colaboradora do seu blog, chamado “Na Toca Tem”. Myri, como é conhecida por todos, sempre mostrava que o foco era trabalho, tinha passado no concurso da EBC e nada de ser mãe. Até que um dia se apaixonou, casou, teve duas filhas e separou.
Agora, a sua maternidade é uma das suas pautas e bandeiras nas redes sociais. É comum ver em suas redes sociais sobre como lidar com a separação, birras, adaptações das crianças e também ver o lado de Myri descobrindo como é a maternidade com os seus seguidores.
Além disso, ela mostra que mães também são gentes, que quer ir numa baladinha de vez em quando, ter um descanso, ir para praia, conversar besteira com as amigas e dentre outras coisas. Além disso, ela mostra que o universo maternal na imprensa e redes sociais ainda é muito distorcido.
É uma mãe em construção sempre, visto que está ajudando a desenvolver duas meninas que possuem as suas diferenças e pensamentos próprios.
A entrevista sincerona, como ela sempre foi, está completa você confere a seguir:
Conte me um pouco de como você pensava que ia ser sem as meninas? Como era a sua rotina antes das meninas?
Eu trabalhava e viajava antes das meninas (risos). Achei que com a chegada delas iria conseguir manter a rotina, claro que com menos viagens e menos baladas do que antes, mas a realidade é que tudo mudou. Inclusive eu mesma.
O que motivou a ter filhas nesta aventura de gerar filhos no universo apocalíptico ?
Quando eu comecei o relacionamento com meu ex-marido, pai de Alice e Helena, eu não pensava em ser mãe. Achava que não tinha jeito com crianças, ainda acho que não tenho (risos). Mas, acho que por uma questão de subconsciente coletivo de que depois de casar os filhos têm que vir, eu acabei aceitando embarcar nessa pelo menos com uma filha que era meu plano inicial.
Comecei inicialmente a ter vontade de ter a segunda para ter uma companhia para mais velha, mas planejava pra quando Alice tivesse uns três anos. Ainda bem que Helena veio antes, porque com 3 anos de Alice eu tinha me separado (risos).
Você julgava as mães anteriormente e queimou a língua?
Acho que eu sempre achei horrível os filhos que faziam birra e julguei mães e pais que não sabiam “controlar” seus filhos. Mas quando engravidei, comecei a ler sobre o assunto e vi que é super normal e não existe uma mãe que tenha filhos sem birra.
Também achava estranho, não sei se julgava, mas não entendia como mulheres que não estavam felizes no casamento não saíam dele, mesmo com filhos. Bem, queimei a língua também e vi que não é uma decisão fácil a ser tomada, especialmente com filhos pequenos.
Por que as pessoas romantizam tanto a gravidez? E você chegou a romantizar ou passou por perrengues que ninguém quer falar?
Mulher, eu acho que a romantização vem pra fazer as mulheres aceitarem procriar (risos). Nunca falam que existe um número alto de abortos espontâneos no início da gravidez. Nunca falam das doenças que a pessoa pode desenvolver como diabetes, hipertensão, dores na lombar, enfim.
A pessoa tem uma coceira horrorosa quando a barriga está grande e esticada, a gente não consegue respirar direito e nem dormir no final da gestação. Mas, eu sinto falta de sentir as meninas mexerem dentro de mim, de ficar com o cabelo lindo, de ter um brilho na pele.
Confesso que não engravidaria de novo não (risos).
Eu como não tenho filhos, não sei as dificuldades das mães, mas que conselhos você daria para pessoas como eu não falar besteira para as mães ? Como essas pessoas podem te ajudar?
Acho que o conselho é chegar e perguntar se aquela mãe precisa de algo, se está precisando conversar. Se sua amiga virou mãe, especialmente em um grupo que não tem outras crianças, perguntar se ela quer sair, ver um filme, tomar uma. Ajudar no que for preciso. Pode ser chato ouvir toda hora conversa sobre criança, mas uma mãe precisa extravasar e falar com as amigas.
NUNCA dê pitaco sobre a criação dos filhos de outra pessoa. Não tem coisa mais chata. Se você acha que uma mãe tá fazendo algo errado, pergunte o porquê dela fazer daquele jeito e somente se ela for uma amiga próxima. Nunca chegue dizendo “mas você deveria fazer assim ou assado”. Nunca.
Você fala bastante nas redes sociais na dificuldade de conciliar trabalho com a rotina das meninas e a cobrança externa de tu ser sempre presente na vida maternal, por que os homens conseguem conciliar e as mulheres não ? Por que a educação ainda é exclusivamente materna?
Porque vivemos em uma sociedade machista. Ao pai nada é cobrado, a mãe tudo. Antes de me separar eu não tinha tempo para nada.
Uma coisa que me incomoda muito, muito mesmo, são as revistas que ficam vangloriando as mulheres que engravidaram e voltaram o corpo “normal”. As pessoas querem controlar nosso corpo de toda maneira. Você sentiu essa pressão ou esse incômodo de voltar para trás o corpo da Myri?
Na primeira filha nem senti tanto porque com a amamentação eu fiquei com um peso menor do que quando engravidei em pouco mais de dois meses. Porém, assim que cheguei ao peso que queria, engravidei de novo e ganhei muuuuito peso. Resultado, corpo super flácido após o segundo parto e foi difícil me aceitar.
Esse processo só ocorreu há pouco tempo, na verdade. E é libertador aceitar nossa própria forma, mesmo que não seja a padrão. Afinal, não tem pra quê ser padrão, né? Isso é a coisa mais antiquada do mundo.
Outro tabu que me incomoda muito é que mãe não pode transar e vi isso até na novela das 9 quando a Pereirão de Lília Cabral recebia bronca dos filhos porque saiu com um paquera.
E muitos casamentos ruíram porque eles não conseguiram ter essa sintonia do pós-filho.
Minhas filhas ainda não sabem quando saio com paqueras (risos). Mas eu não tô nem aí o que a sociedade pensa ou fala. Mãe tem tesão, mãe gosta de sexo, seja ela casada ou separada.
Porém, é bom lembrar que a libido da mulher dificilmente volta a ser a mesma quando tem filho. Seja pela sobrecarga de trabalho, seja pela bagunça hormonal que ocorre com a geração de um vida.
Se a mulher casada está sem libido, o companheiro deveria procurar saber. Afirmo COM CERTEZA que essa mulher, no mínimo está exausta e não quer pensar em sexo. Imagina só passar o dia todo limpando fralda, amamentando, pensando em comida, organizar a casa, estimular a criança, ler sobre educação parental para dar o melhor para aquela criança, se virar para trabalhar ou trabalhar fora e, ao final do dia, muitas vezes sem banho tomado, ainda ter energia para transar.
Aos maridos que reclamam da falta de sexo, sugiro dividir por igual à carga das suas esposas. A libido dela vai voltar rapidinho. Mas não façam isso só por uma ou duas semanas, façam SEMPRE, criem o hábito de ser útil de fato dentro de casa.
Como tá esse procedimento de paquera/sexo pós-meninas e o porquê deste estigma da mãe imaculada?
Depois que me separei demorei uns meses pra colocar a vida e a cabeça em dia, mas eu paquero, eu namoro, eu saio e me divirto. Se me acharem uma má mãe por causa disso, não me importa. Afinal, uma mãe é também, mulher, amante, profissional. Somos seres humanos completos e eu não sinto culpa alguma em me sentir inteira.
Quando você resolveu falar da maternidade real nas redes sociais? E para você, o que é a maternidade real?
Foi meio que natural. Quando tive Alice meu universo passou a ser a maternidade. Morava em outra cidade, não conhecia ninguém, tive que deixar meu trabalho e acabou que me conectei com outras mães de Recife, onde residia. Aí o papo que rolava na minha vida era maternidade e a romantização dela me deixava muito mal. Então resolvi começar a falar sobre minha experiência e as pessoas parecem que se identificam.
Como tá o feedback com as outras mães? Elas encontram para falar dos problemas em comum ?
Eu sinto um feedback muito bom. Ainda não tenho um perfil trabalhado para o assunto, né? Não vejo como trabalho ainda, mas tenho vontade já que a resposta é sempre positiva. Já conversei com muitas mulheres, amigas da vida offline e online sobre problemas comuns a mulheres mães ou não e é muito bom essa troca.
Teve algum problema na maternidade que você se chocou ?
Foi com a maternidade que eu senti na pele como é ser mulher nessa sociedade machista.
Pretende fazer um canal no YouTube ou blog falando disso?
Tenho vontade, mas sempre deixo pra depois e tenho medo de flopar (risos). No entanto, é algo que tenho tentado desconstruir.
Já levou “hate” por falar a maternidade da depressão?
Nunca. Sempre recebo feedbacks positivos, até quando não concordam com meus posicionamentos. Sempre rolou debates saudáveis.
Você imagina o mundo sem as meninas?
Imagino sim, claramente, mas não quero (risos).
Para finalizar, o que você diria para as mães que estão neste período de descobertas como você ?
Que nunca esqueçam que elas não precisam ser só mães. Especialmente depois dos três meses do bebê. Que elas busquem de alguma forma uma rede de apoio, que estar sobrecarregada não é normal, não é saudável. Nunca esqueçam de si mesmas, mas não queiram resgatar a mulher de antes da vinda do filho.
Essa não existe mais e nem existirá. Mas isso é bom, afinal estamos sempre em mudança, né? Ah, não se cobre e fuja de perfis que falam sobre como ser mãe, como não traumatizar seus filhos, etc. Só procure esse conteúdo se você se comprometer consigo mesma a se perdoar caso não consiga ser a mãe da cartilha.
Porque NENHUMA de nós é.
Inclusive as mães que ensinam novas formas de parentalidade.
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