O sábado poderia está dormindo, mas resolvi ir atrás da towner azul do Renan e saber se o guerreirinho chamado Renanzinho está bem, depois que eu soube que ela quase morreu engasgado enquanto sem querer engoliu areia na tentativa de subir ao Morro do Careca. Reconheci a sua sensual língua presa de longe. Depois de ficar perdida no GPS, eu soube que estava no mesmo local quando o Julinho da Van esteve em Natal: o Espaço Duas. Lá estava acontercendo o Bazar Independente, evento que incentiva a leitura e chama convidados nacionais e locais para debater sobre livros.
Na verdade, o Renan é o ator Daniel Furlan, um capixaba radicado em Natal, que é ator, comediante, roteirista e um monte de profissões, afinal “ele tem talento para isso” e o mundo é polivalente. O rapaz de 38 anos, que escutava Danzig na adolescência, começou a sua carreira com quadrinhos da Revista Quase enquanto estudava na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). No bate-papo com o escritor Carlos Fialho, proprietário do selo potiguar Jovens Escribas, Furlan (o seu sobrenome artístico é a versão abreviada do sobrenome original, Furlani) contou um pouco sobre sua carreira.
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“Inicialmente, eu queria ficar apenas nos quadrinhos, depois conheci o Juliano Enrico e Raul Chequer (outros integrantes da Quase) e me convenceram que poderíamos transformar as nossas ideias em curtas. Agradeço até hoje por provar que eu estou errado”, afirmou.
Uma das empreitadas atuais da TV Quase é o programa Choque de Cultura.
“Algumas histórias do Choque de Cultura realmente aconteceram, como ser cuidado pelo veterinário quando tinha algum problema de saúde, pois ele era meu vizinho e a única pessoa que sabia fazer pontos e curativo. Meu tio tinha uma caranguejeira de criação e quando eu era bebê, ela ficou no meu berço, para o desespero de minha mãe”, admitiu o Daniel, provocando risadas na plateia.
Nesta reportagem apresentei o personagem Renan e a série Choque, mas não expliquei o que significa. O Renan é um dos quatro motoristas de van do Rio de Janeiro que comentam sobre os filmes no programa. “A língua presa, por exemplo, foi inspirada em um vendedor de chá de mate da praia que frequentamos no Rio”, contou.
Inicialmente, o Choque era apenas uma série do canal da TV Quase, depois passou a ser transmitida no canal Omelete e, por fim, na Rede Globo. Ao ser questionado se eles tinham medo que a “graça” do programa pudesse acabar indo para um canal de televisão de rede aberta, o ator prontamente respondeu:
“Não, porque sempre queremos manter a essência do programa. A gente faz a mesma coisa que fazíamos no You Tube, só não falamos palavrão, algo que já não dizíamos muito. Passamos por uma supervisão de roteiristas do canal, como Marcius Melhém, mas quando uma ideia diverge, a gente procura algo que fique bom para os dois.”.
A ousadia deles na Globo chamou atenção ao mencionar pessoas de outros canais, como Rodrigo Faro e Gugu, no qual o primeiro chegou a ficar chateado. “Tivemos um momento importante, fomos comentados no grande programa de televisão, da grande apresentadora Sônia Abrão”, ironizou.
O sucesso do programa é tão grande que os pilotos escreveram resenhas de filmes e transformaram em um livro, com previsão de lançamento para este ano. Confira um dos trechos do livro com a voz de Renan:
Depois do bate-papo, eu cheguei a perguntar ao Furlan como o Renan cantaria “Mother” de Danzig, que prontamente respondeu: “Isto não sei, acho difícil ele gostar de rock”.
Falando em rock, a música sempre esteve na vida dele, uma vez que foi vocalista do Ócio, que acabou em março deste ano. No Irmão do Jorel, além de ser um dos roteiristas, ele faz voz do vocalista Carlos Felino, que faz parte da banda do Cueca em Chamas. A parte mais engraçada é que durante o bate-papo, uma criança chegou até ele e ficou questionando o trabalho do vocalista animado.
“Ele não trabalha e mora na garagem da família do Irmão do Jorel”, o Daniel por sua vez defendeu o personagem dizendo “a música é o trabalho dele, apesar de ser fora do convencional”. Além disso, a criança perguntou se o William Shostners, funcionários da Shostners & Shostners, era mal.
Daniel respondeu: “Só tem probleminha mesmo”.
Ainda aproveitei e cheguei a perguntar quem Renan votaria, o ator respondeu que “não sabe se seria Bolsonaro ou Cabo Daciolo, mas que Renan capotaria antes de chegar na cabine de votação”.
Como os integrantes do Choque se conheceram? Como falei inicialmente, Daniel conhecia Juliano e Raul nos tempos da faculdade. Quando eles foram contratados pela MTV Brasil, eles criaram o “Último Programa do Mundo”, que se passava em um cenário pós-apocalíptico em que o “mundo” era a MTV Brasil, a qual estava fechando as portas. O programa acabou sendo muito elogiado, e ressurgiu tempos depois no YouTube e no canal FX. “Eu sabia que nova MTV não iria chamar a gente para trabalhar, pois lá tem a preferência aos programas mais voltados para realities shows”.
Além disso, ele também participou de roteiros de outros programas, como Larica Total, onde conheceu o Leandro Ramos e Caito Mainier, formando a equipe da TV Quase. Além de esquetes esporádicas e breves sequências como a paródia de novela Beijo Gay e a sequência de trailers da saga Raquetadas, o canal conta com os episódios na íntegra das três temporadas de O Último Programa do Mundo e com os programas Falha de Cobertura e Choque de Cultura.
Em Falha de Cobertura, Daniel interpreta o ex-jogador e empresário futebolístico Craque Daniel, comentando futebol ao lado do personagem Cerginho da Pereira Nunes. “Inicialmente o Caito não queria se identificar e muito menos atuar, por isso o personagem”, relatou no bate-papo.
Até o momento, Furlan já atuou em sete filmes, mas foi nas comédias TOC: Transtornada Obsessiva Compulsiva e La Vingança que o ator obteve um maior destaque. Neste ano ainda fez sua estréia na Netflix no dia 6 de junho de 2018, na série Samantha!, vivendo o Marcinho, empresário meio picareta da protagonista, protagonizada por Emanuelle Araújo.
Quando comentei sobre a patada da cantora Simony ao perguntar sobre a série Samantha!, o mesmo deu uma risada e ficou curioso com a história.
Após o bate-papo, Furlan assistiu a banda e deu um rolé na van por Natal.
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