Quem é mulher e tem a experiência de utilizar o “maravilhoso transporte público” sempre passa por alguns perrengues. Quando estagiava no Portal No Ar, que era no bairro de Petrópolis, por exemplo, eu perdi as contas de quantas vezes eu via uma velho tarado me olhando o tempo todo, como se fosse querer me secar ou soltar um xaveco nojento. Além disso, tinha aquele “abençoado” que ficava com as pernas abertas no banco e fazendo gestos obscenos. Na época eu não tinha noção que aquilo podia ser um assédio sexual. Ainda tem a famosa encoxada, no qual a vontade é dar um soco na cara, mas as pessoas vão te denominar de louca.
Nesta última série de reportagens em homenagem ao Dia da Mulher, o Brechando prometeu e vai cumprir a promessa de falar sobre assédio dentro do transporte público. Até o momento não sabemos o quanto de mulheres potiguares já foram assediadas ou estupradas nesse ano. Uma pesquisa da Prefeitura do Natal, em campanha para o Dia Internacional da Mulher, aponta que 61,34% das moças entrevistadas receberam alguma encoxada proposital. O que ser isso?
De acordo com o dicionário informal:
Ação masculina onde o homem abraça a mulher pelas costas e roça o pênis nos glúteos femininos, a fim de ficar excitado.
Ou seja, você está em pé no ônibus, rezando para que a parada para casa seja tranquila, enquanto um rapaz fica se esfregando em você, no qual muitas vezes chega a colocar o pênis para fora e ejacula sobre a garota. Se você pesquisar a palavra “encoxada” no Google, a maioria dos links vão para sites pornográficos, cujos vídeos mostram homens que são “profissionais” neste tipo de assédio em transporte público de várias partes do Brasil e também em outros países.
O Município aponta que esta pesquisa foi realizada em parceria com o Instituo Perfil, no qual entrevistaram 800 garotas. Algo preocupante, quando quase 500 mulheres dizem que já foram vítimas de violência sexual. Nestas entrevistas, 67,24% das entrevistadas afirmaram já ter presenciado algum tipo de assédio sexual dentro dos transportes coletivos da cidade, enquanto 30,63% responderam que não presenciaram e 2,13% não souberam ou não quiseram responder a pesquisa.
Como é previsível, a maioria dos casos acontecem em lugares menos abastados da sociedade. O estudo revelou que mulheres usuárias do transporte coletivo da zona Norte (82,52%) da capital foram as que mais presenciaram o assédio sexual dentro do coletivo, seguidas pelas mulheres das zonas Leste (68,52%), Sul (65,52%) e Oeste (52,52%).
Os tipos mais comuns de assédio sexual relatados na pesquisa são: encoxadas propositais (61,34%), olhares inconvenientes (45,35%), cantadas inconvenientes (39,78%), toque em alguma parte do corpo (35,50%), sussurros indecorosos/indecentes (18,77%) e gestos obscenos (tocar na genitália/masturbação) com 11,15%.
Por causa disso, a Prefeitura do Natal lançou uma campanha virtual chamada #NatalContraAssedio, onde peças publicitárias foram instaladas no ônibus e haverá atividades de conscientização na cidade. A STTU vai disponibilizar mensagens chamando atenção para o enfrentamento ao assédio sexual nos transportes públicos em seus painéis eletrônicos. O assédio é considerado como uma contravenção penal, o que configura crime. Alguns casos de assédio/importunação ofensivas se configuram como estupros e são tratados pela lei desta forma. A campanha contra o assédio sexual no transporte público de Natal terá ações coordenadas em todas as regiões da cidade.
Deixe um comentário