Na década de 70, o Clube da Esquina escreveu a música “Para Lennon e McCartney”, praticamente uma carta para a principal dupla de compositores dos Beatles, e o primeiro verso da música mineira fala: “Vocês não conhecem o meu lado Ocidental”.
Mais de 40 anos depois, o Milton Nascimento provavelmente agora deveria falar que o sir James Paul McCartney não só conhece o nosso lado ocidental, mas também quer expandir o seu som em outros estados brasileiros a cada tour que vem pelo país. Neste fim de semana, o Brechando pode acompanhar a primeira vez do inglês de Liverpool na Bahia, mais precisamente em Salvador, no estádio Fonte Nova, no qual quase 60 mil pessoas vindas da Bahia e de outros estados brasileiros puderam acompanhar.
A Bahia estava completamente envolvida pelo ritmo dos Beatles e também do cantor, visto que a primeira coisa que vejo ao sair do aeroporto é um outdoor gigante escrito: “Welcome to Bahia, Paul”. Nos lugares que visitei estava tocando suas músicas. Algumas vezes pensava: “Estou em Liverpool ?”.
Se estivesse turistando pela cidade, a primeira pergunta que faziam: “Vocês vieram pelo show de Paul McCartney ou pela Maratona de Salvador?”.
O show começara às 21h30, mas tinha gente acampada desde a madrugada da véspera do show. Pela minha irmã, Carol, a gente seria um dos acampados, mas eu disse que a gente conseguiria ver o nosso muso de perto (mais dela do que o meu, para enfatizar). Saímos do hotel de quase 17 horas, aproveitamos para ver um pouco do alternativo bairro do Rio Vermelho (falaremos em uma outra postagem) e fui jantar para aguentar as futuras três horas. Acabou a comilança, hora de pedir o Uber e ir ao estádio Fonte Nova.
Como diz no UFC: “IT’S TIIIIIIIIIME”
Como era numa sexta-feira, hora do rush mais pessoas caminhando para o show daria um senhor trânsito na capital baiana. No meio do caminho, o motorista do Uber contou suas aventuras na Marinha do Brasil, como amava a Praia do Y em Natal e deu ótimas dicas de segurança para andar pelas redondezas do estádio. Ele fez questão de nos deixar quase perto do portão da entrada da pista premium.
Chegamos às 19 horas. Momento em que os carrinhos de cerveja estavam com caixas de sons tocando as melhores dos Beatles ou da carreira solo de Paul, beatlemaníacos enlouquecidos, gente vendendo camisetas com os rostos do cantor (uma delas tinha o trocadilho: “Meu Paul Te Ama” e estava 20 reais), ingressos (os cambistas não desistem, né?) e dentre outras coisas.
Ao adentrar na fila, encontramos um grupo de fãs que estavam cantando em pleno pulmões “Eight Days a Week” e eu e minha irmã entramos na onda. A gente tinha que enfrentar duas entradas: inspeção dos seguranças e entregar os ingressos. Sucesso! Entramos! Já vimos o palco para a nossa empolgação. Do lado da cantina havia uma loja que vendia produtos originais da turnê “One on One”, no qual estava sendo mais disputado que a comida vendida no estádio.
Ainda recebemos ativistas da campanha da segunda-feira sem carne, no qual McCartney, vegano assumido, estimula que as pessoas diminuem o consumo do alimento de origem animal. E o governo da Bahia, por sua vez, fez uma das sacadas mais geniais, entregou uma placa com o rosto do inglês e embaixo tinha uma hashtag: #pauldeselfie. Claro que isso foi o sucesso na plateia, no qual todos queriam tirar foto.
Não acreditávamos que conseguíamos um lugar praticamente na grade, onde poderíamos ver o nosso muso há menos de 300 metros de distância, sem precisar de um telão.
Nesse momento, a gente tinha que bolar ideias para que não pudéssemos ficar entediadas, visto que ficaríamos três horas esperando a apresentação do Paulinho. Neste período, começamos a procurar a melhor localização da grade e conhecemos diversas pessoas. Um trio de amigas de Caicó (RN), uma senhora que estava com uma capa de chuva que ganhou do show de Luciano Pavarotti (sim, o tenor italiano havia passado em Salvador há anos atrás), uma dupla de irmãos de Fortaleza e dentre outros.
Como diz o grande sábio brasileiro, Kléber Bambam: “Hora do show, porra!”
Uma hora antes do espetáculo, um DJ começou a tocar o melhor dos Beatles, para a alegria da plateia, que começou a cantar tudo e ficaram dançando. Uma ótima forma de fazer a plateia continuar empolgada. A apresentação deixou com um gosto de quero mais. Porém, começou a passar um vídeo mostrando a trajetória de McCartney, misturando os acontecimentos mundial e do próprio Reino Unido.
Após o vídeo, as luzes do estádio se apagaram e rapidamente aparece o nosso Paul. Minha irmã quando o viu começou a chorar copiosamente, a reação de que não estava acreditando que via finalmente seu ídolo após não ter conseguido o assistir em Fortaleza e Recife. Começamos a cantar freneticamente: “A Hard Day’s Night” como se o mundo acabasse naquele dia mesmo.
Paul tentou o tempo todo falar em português com plateia, que achou bastante fofo a sua simpatia e achava engraçado falando expressões nordestinas como: “Vixe” e “Ave Maria”.
O show conseguiu atrair plateia com tela interativa, misturando as mais famosas composições dos Beatles e carreira solo, protesto a favor do direitos humanos com “Blackbird” (com direito a ficar numa plataforma elevatória que o permitiu ficar bem no alto, deixando o público enlouquecido e ao mesmo tempo gritando: “Fora, Temer”), pirotecnia com “Live and Let Die” e também de homenagens, como cantando “Something” para George Harrison, autor desta canção famosa do quarteto de Liverpool e está no disco “Abbey Road”.
Um dos ápices da noite foi quando todos ligaram a suas lanternas de celulares ao som de “Yesterday” e de pessoas jogando balões ou segurando cartazes na parte final de “Hey Jude”. O final teve ele e a banda erguendo as bandeiras do Brasil, Grã-Bretanha e do Orgulho LGBT e uma garota baiana dançando de biquíni com o inglês para nos fazer ter um pouco de inveja.
Poderia passar o dia inteiro falando de como este show foi incrível e emocionante, a vontade é ir novamente para a próxima turnê. Experiência única de ver um homem de 75 anos com uma história incrível de superação e talento tendo uma energia melhor que a minha e de pessoas ao meu redor. Foi lindo e intenso, mesmo para que não seja um louco pelos Beatles (aprendeu a gostar ouvindo a irmã, mãe e amigos), mas reconhece a importância dele de ter ajudado a impulsionar o rock na Grã-Bretanha e no mundo.
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