Esse texto é dedicado à Alice que nasceu nesta sexta-feira e é filha dos amigos Myrianna Albuquerque e Tiago Aguiar, ambos comunicadores. Publiquei este texto quando os pais estavam na sala do parto para o grande momento. Myri tem uma página chamada Que te Inspira. O texto é uma carta para a recém-nascida e uma homenagem às minhas parentes que também se chamam assim: Minha bisavó e mãe. O texto é longo, mas vale a pena ser lido. Para avançar a carta é só clicar nos números que estão no final da página.
Querida Alice,
Bem-vinda ao mundo! Você deverá ver muita coisa maluca, se prepare, pois hoje é seu primeiro dia. Primeira coisa que tenho a dizer: Somos mamíferos muito complexos.
Sempre digo que este nome me persegue. Claro que falo na brincadeira. O significado é bonito, diz que tem relação à “nobreza”. Tudo começou com a minha bisavó que era Alice, que casou com Miguel, se mudaram ao povoado de Riacho e tiveram 12 filhos, todos eram com a letra “A”. Pois é, as mulheres de antigamente não tinham nenhuma perspectiva, apenas ser dona de casa, cuidar do marido e dos filhos. Primeiro, eles, depois, ela. Tinha que ser submissa ao homem. Foi assim que soube da história que ela juntou todo o dinheiro para ajudar o marido a comprar uma fazenda.
Já falei que antigamente que nós, mulheres, não tínhamos expectativas, não é? Além disso, a vida de casada de Alice era nos anos 30, quando a vida contemporânea brasileira estava dando pequenos passos, como o surgimento da lenda do estado laico, que você vai descobrir daqui a pouco quando entender por gente.
Tinha acabado a escravidão dos negros (sim, nas aulas de história você vai ver que as pessoas achavam gente de outra cor uma “aberração”), Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a república, veio a política do café com leite, surgiram as primeiras universidades brasileiras e Getúlio Vargas estava começando a entrar no poder.
Na época, a medicina não era tão avançada assim e estavam desenvolvendo as primeiras fazendas. Produtos industrializados? Eles viviam numa fazenda, onde tinham comida para todo mundo. Por falar na medicina, a falta dela fez com que ela morresse de parto quando teve a 13ª filha. Eram poucas maternidades no Rio Grande do Norte. Foi assim que minha avó teve que virar uma adulta muito cedo, mudou para a capital Natal e casou após namorar um motorista de táxi durante quatro meses, que é meu avô Gilberto, e foi assim que surgiu uma outra Alice, a minha mãe.
Mas, a vida sempre foi punk. Então, minha avó deixou de ser dona de casa para virar sacoleira, onde vendia os mais diversos produtos para poder sustentar quatro filhos. Sim, na época não existia pílula anticoncepcional para poder regular a menstruação ou ajudar a não ter filhos. Mesmo assim, ela conseguiu ser empreendedora e criar uma mercearia.
Apesar do choque de alguns familiares “pelo fato de uma mulher está trabalhando e com filhos”, minha avó ensinou à Alice que a mulher pode ser tudo que ela quiser, basta ser corajosa e persistente. O famoso empoderamento feminino. Sabia que voinha dirigia naquela época? E ainda tem gente em pleno 2016 dizendo que “mulher no volante, perigo constante”.
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