Muitos artistas sofrem para divulgar o seu trabalho. Alguns procuram editais públicos, outros utilizam a internet e uns se arriscam de andar pelas ruas. Estava perambolando nas ruas de Petrópolis quando me deparei com Zenildo. Assim como muitos artistas potiguares, ele tenta divulgar a sua arte nas ruas, tentando vender as suas publicações nos restaurantes existentes naquele bairro nobre. Na lanchonete onde estava, eu me encontrei com ele e comprei o seu livro chamado “Milhões de Uns”, que está em sua terceira edição e custa apenas cinco reais.
“Moro perto daqui de Petrópolis (próximo de Mãe Luíza) e todas as noites venho aqui para divulgar meu trabalho”, comentou enquanto comprava o livro. Todas as noites, ele anda pelas ruas natalenses para divulgar as suas palavras, que é seu pão de cada dia. “A intenção é levar a poesia para quem quiser ouvir e ler”, comentou enquanto distribuía o seu livreto sobre a minha mesa.
Inicialmente, ele distribui os livros e quem não tiver interessado, a pessoa devolve. Venda parecida com aqueles que vendem bala dentro dos ônibus, sendo que ao invés de glicose são palavras que serão cravadas em nossos cérebros. Quando cheguei em casa, eu fui ler o livro, que contem 18 poemas, escritos entre 2008 a 2010. Assim como o Brechando, o Zenildo colocou as suas observações da cidade a partir dos poemas.
A Cidade Vomita os seus Panfletos
A cidade vomita os seus panfletos.
As calçadas vomitadas, as ruas…
Da náusea, tantos papeis ao vento,
Informações sem dono ao abandono,
Que no ar flutua.Pedidos de pedintes locais,
Folders de multinacionais,
Ao vento, todos são iguais
Só papeis amassados, lixo jogado,
Cidade que come demais.Sementes tentando germinar o solo,
Espermatozoides atrás de óvulos
Tentando criar, gerar começos;
Há muitos óvulos inférteis para os altos preços.É necessário milhões de tentativas
Para um acerto;
Para que algo viva, para que algo exista…
A cidade come e vomita,
A cidade vomita os seus panfletos
As ruas sempre acompanharam a vida de Zenildo, que nasceu em Natal, no dia 20 de março de 1991. Ele foi adotado por Maria Doralice dos Santos, com que viveu até os 15 anos sobre o apadrinhamento do monsenhor Geraldo Ribeiro de Almeida. Por isso, ele possui alguns poemas voltados à religião, com trechos ligados à Bíblia, como o poema “Milhões de Uns”, que dá o título ao seu livreto.
Depois, ele começou a conviver com os pais biológicos. No meio da juventude, aos 14 anos, começou a escrever e lançou outros livros, como “Ai, Ai, Como é bom Amar”, “Miragens no Oasis do Amor” e “Aprendiz de Inspirações e Quedas”.
O poeta, naquele mesmo período em que começou a sua carreira, integrou para a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte (SPVA), onde eles atuam em vários projetos voltadas para a poesia no Rio Grande do Norte, como recitar as suas produções através dos ônibus e dos trens. Além da noite, ele recita os seus trabalhos nas escolas públicas e privadas da cidade.
O gosto pela palavra fez com que ele estudasse Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde ele ainda está cursando. “Ainda estou fazendo, mas estou perto de terminar”, disse o Zenildo a partir de uma conversa informal na mesa.
Após a compra, ele foi embora para outros cantos da cidade e com a intenção de divulgar a poesia nos cantos mais complicados. Precisamos conhecer mais poesia local para além das salas de aulas.
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