Antes do carnaval, eu fiz a seguinte pergunta no Facebook do Brechando: O que os leitores desejavam que eu cobrisse durante o feriado prolongado?
Muitos mandaram mensagens (inclusive pessoalmente) pedindo para que falasse d’Os Cão, um tradicional bloco carnavalesco que sai na terça-feira, na praia da Redinha, que fica na zona Norte da cidade.
Após cruzar a ponte Newton Navarro, rapidamente vejo um movimento de pessoas em direção à parte mais antiga da praia. Logo avistei os primeiros “cãos” circulando na orla. Quem fosse novato, os nativos indicavam o caminho aonde ficava o manguezal, local de concentração do bloco mais antigo da capital potiguar.
“É o bloco mais calmo da Redinha e há sete anos eu venho para cá, juntamente com meu veículo quatro por quatro (aponta para carroça com um jegue). Não vou perder nunca de brincar o carnaval por aqui”, disse o homem que se identificou apenas como o Val da Redinha.
O Val pode ser um dos mais antigos foliões, mas o bloco surgiu muito antes disso, há 52 anos. A origem conta que pescadores nativos do bairro queriam brincar de carnaval, mas não tinham dinheiro para comprar fantasia ou contratar uma banda. Então, eles resolveram utilizar a lama do mangue como vestimentas e desfilar nas ruas do bairro deste jeito.
Como funciona o bloco dos Cão? As pessoas vão em direção ao manguezal, que fica às margens do Rio Potengi, e lá as pessoas utilizam a lama da vegetação como abadá. Não precisa de indicação, pois havia uma concentração de pessoas melecadas e carros de som tocando as músicas mais pedidas na folia de momo (incluindo “Metralhadora” e a discografia da banda Grafith). Antes que eu esqueça, objetos como carros, bugres e carroças também não escapam do lamaçal.
Aproximadamente duas mil pessoas se concentram debaixo da ponte, onde gente de todos os bairros de Natal se arriscam em participar da atividade.
O Auft Gomes é natural de Maceió, mas quis brincar carnaval na cidade. “Saí de Ponta Negra, onde atualmente moro, para brincar no bloco e esta é a minha primeira vez. Já sabia que seria divertido e estou gostando bastante daqui”, comentou
Tinha gente de todas as idades e os já fantasiados usavam a lama como um adereço extra.
Alguns chegavam ao local para espiar os melecados, mas tinha gente que tomava coragem e entrava no mangue. Este foi o caso de Rose Pereira, que conheceu o bloco no ano passado e somente em 2016 se arriscou na lama.
“Isto é muito divertido, estou adorando ficar melecada de lama. Muito legal (risos)”, relatou.
Se você quer visitar o bloco, prepare-se para entrar no clima. Muitos já levam baldes e garrafas para catar lama e depois passar naquele visitante “limpinho”. Vale ressaltar que o cheiro não é um dos melhores, mas isso não estraga a alegria do pessoal. Claro que entrei na onda, veja a foto a seguir:
Os foliões começam a aparecer no manguezal de manhã bem cedo, aproximadamente 8h30. Após duas horas brincando, eles começam a circular nas ruas do bairro ao som do grupo Pau e Lata. Quanto mais avançava a caminhada, maior a quantidade de foliões que corriam para praia com a finalidade de tentar tirar a lama de seus corpos, uma missão bastante árdua.
Confira todas as fotos a seguir:
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